Fazer ginástica rítmica de competição e passar horas a treinar era a vida de
Mafalda Luís
de Castro aos dez anos. Estava sempre cansada e quase não tinha tempo para estudar. Decidiu, por isso, deixar de coleccionar medalhas e arrumou as sapatilhas. Queria ser uma criança normal, brincar, descansar… mas viver sob as luzes da ribalta parecia já estar traçado no seu percurso. Ainda com dez anos, a mãe (jornalista, tal como o pai) increve-a num casting para a novela Olhos de Água e o papel de Margarida, filha das personagens interpretadas por
Sofia Alves e
António Pedro Cerdeira, assentou-lhe como uma luva.
Mostrou que tinha garra. Depois, participou em séries como Um Estranho em Casa, na qual contracenou com
Rui Mendes e
Helena Isabel, e entrou em Ana e os Sete, com
Alexandra Lencastre e
Virgílio Castelo nos papéis principais. A vontade de ser actriz e o talento já lá estavam – Mafalda é bisneta de uma actriz e o seu avô materno era primo direito do actor e encenador
Henrique Santana -, mas a certeza só chegou depois de ter frequentado um curso de teatro. Aperfeiçoou a técnica na Escola Profissional de Teatro de Cascais, onde um dos seus mestres foi
Carlos Avillez, e pisou o palco pela primeira vez. A peça mais recente em que entrou foi Fedra, onde contracenou com a irmã,
Joana
Castro, também ela actriz. Com 20 anos, Mafalda regressa agora à televisão, desta vez como protagonista. Em Lua Vermelha é Isabel, uma humana que se apaixona por um vampiro. Um amor proibido, coisa que nunca lhe aconteceu na vida real. Depois desta breve descrição da sua carreira, está na hora de revelarmos quem é Mafalda quando o pano cai…
– Como é a Mafalda no palco da vida?
Mafalda
– Sou uma pessoa simples, fácil de surpreender. Sou teimosa, muito orgulhosa e muito persistente. Às vezes, as pessoas até ficam aborrecidas comigo, porque quando quero uma coisa, tenho de a conseguir.
– E por causa disso já deixou algum sonho por cumprir?
– Já. Desisti da ginástica rítmica, que é um encanto, um desporto que alia a dança à ginástica, a força física à flexibilidade. Tinha dez anos e a alta competição ocupa muito do tempo da atleta. E eu, ou vivia aquilo e não vivia mais nada, ou desistia. Hoje, quando vejo campeonatos, fico vidrada e com o coração muito pequenino, porque era uma coisa que gostava mesmo de estar fazer…
– Mas deixou os ‘tapetes’ e passou a brilhar nos palcos…
– [risos] Foi um bocadinho por acaso, porque a minha mãe inscreveu a minha irmã num casting para a novela Olhos de Água e já ia a caminho do carro quando voltou para trás para me inscrever também. Acabei por ficar com o papel.
– E sentiu-se como peixe fora de água…
– Nem tinha bem a noção do que me estava a acontecer, nem da responsabilidade, porque já fazia castings há algum tempo e isso não era estranho para mim. Estranho foi deparar-me com uma carga horária brutal, com a exposição mediática….

– Para a qual não estava preparada…
– Uma criança não sabe como lidar com isso, não vem nos livros, ninguém me ensinou. A novela foi um sucesso e a minha personagem tinha muitas cenas, por isso, as pessoas pediam-me autógrafos e fotografavam-me na rua sem eu dar conta. Para uma miúda de 11 anos não é nada fácil! Havia dias em que me apetecia ficar em casa… Os meus pais diziam-me que isto era o preço que tinha a pagar pelo meu trabalho, mas para uma criança isso era difícil de entender.
– Como é que conciliou essa sua fase da vida com os estudos?
– Muito mal. Sempre fui um bocadinho preguiçosa com a escola e a novela foi um bom motivo para me desleixar. Mas claro que eu era muito pequena e era complicado aguentar o ritmo de gravações e as aulas. Estava no sexto ano e chumbei. Hoje, olho para trás e não me arrependo. Perdi um ano, mas ganhei muitas outras coisas, fui obrigada a crescer, amadureci imenso e ganhei muita experiência.
– Tanto que agora regressa pela porta grande…
– E agora já sei lidar com a exposição mediática! Tenho a certeza de que Lua Vermelha vai ser um sucesso estrondoso. E já estou preparada para o que aí vem…
– Na série, a sua personagem vive um amor proibido com um vampiro. Há alguma característica dos vampiros que gostaria que os humanos tivessem?
– Há. O dom da imortalidade encanta-me. Eu adorava ser imortal! Também gostava de saber hipnotizar uma pessoa para levá-la a fazer o que eu quisesse… [risos]
– E já viveu algum amor impossível, como o de Isabel e Afonso?
– Não, nunca me aconteceu.
– Neste momento, vive algum amor que não queira revelar?
– Não, agora não tenho tempo para isso. Depois, não estou à procura de nada, essas coisas acontecem.

– A sua vida pessoal também é construída à volta do meio da representação?
– Sim, passo muito tempo com as pessoas com quem trabalho e muitos deles hoje são meus amigos.
– E já se envolveu com algum colega de trabalho?
– Já. Tive um namorado que era meu colega na escola de teatro.
– E isso tornou o relacionamento mais fácil ou mais difícil?
– É mais fácil, porque essa pessoa percebia os meus horários, a minha indisponibilidade, mas, por outro lado, é bom ter alguém fora do meio com quem conversar sobre coisas diferentes, para quem o que eu faço é novidade.
– Expõe facilmente as suas paixões?
– Apaixono-me com facilidade, mas até hoje só tive dois namorados. E só apresento um namorado à minha família se tiver a certeza de que é mesmo alguém com quem quero estar.
– E o que é que é a atrai noutra pessoa?
– Muito bom-humor. Uma pessoa que me faça rir é meio caminho andado. Sou muito fiel, por isso exijo confiança. E a amizade e entreajuda são muito importantes.
– Por falar em relações, como é que se dá com a sua irmã, já que ela trabalha na mesma área?
– Temos quatro anos de diferença e houve uma altura em que não nos identificávamos muito uma com a outra. Quando ela era adolescente eu era ainda criança, uma miúda um bocadinho irritante… Agora já não se nota a diferença de idades e somos amigas. Nem precisamos de falar para saber o que a outra está a pensar.
– Têm personalidades semelhantes?
– Não, até divergimos algumas vezes por termos feitos diferentes. Eu sou mais responsável e mais racional.

– Então é difícil partilharem o mesmo palco?
– Nada disso! Apoiamo-nos imenso!
– Como é que foi crescer com pais separados, de malas feitas de 15 em 15 dias…
– Não me atormentou nada, porque eu tinha um ano quando os meus pais se separaram. Não tenho qualquer memória deles juntos. Depois, tenho a sorte de ter duas casas e mais dois irmãos adoráveis, o
Ricardo, que é filho do meu pai e da actual mulher, e o
Diogo, do lado da minha mãe.
– A sua família vibra com as suas vitórias?
– Claro! O meu pai leva isto muito a sério, aconselha-me e eu aceito a opinião dele. A minha mãe é a pessoa que melhor me compreende e quem me dá mais força. E os meus avós (já só tenho os maternos) têm muito orgulho em mim. O meu avô é uma pessoa muito inteligente, percebe qualquer trabalho que eu faça e só quer que eu esteja bem. Ele era militar, e ao mesmo tempo que é muito rígido, tem também uma sensibilidade imensa. Toca, lê poesia, sempre foi um homem dos sete ofícios. Para mim é uma inspiração. Se me deparo com uma situação difícil, penso nele e em como lidaria e agiria naquela situação. É uma pessoa muito sábia.
– Que projectos tem a curto prazo?
– Têm muito que ver com trabalho. Gostaria de explorar outras áreas, como o cinema, e quero continuar a fazer teatro. E estou a pensar em ir para o Conservatório ou estudar para fora, quem sabe.
– Viver sozinha, apetece-lhe?
– Sim, é uma vontade que tenho, mas não a curto prazo. Mesmo vivendo em família, consigo ter o meu espaço.
– Imagino que ainda falte algum tempo, mas casar-se, ter filhos, fazem parte desses projectos?
– Sempre imaginei casar-me de branco, mas hoje acho que isso não vai acontecer, não sou crente, por isso não faria sentido nenhum. Vou ter de deixar o vestido para uma das minhas personagens [risos]. Quanto a ter filhos, gostaria de ter muitos, mas também quero investir na minha carreira…