O fruto proibido é o mais apetecido. Uma expressão popular muito usada por
Miguel Lacerda quando se refere ao início da sua ligação ao mar. "
O meu pai, que foi campeão nacional de caça submarina em 1959, morreu durante uma prova na Sardenha no mesmo ano. Desde aí, deixou de se falar de caça submarina em minha casa e o mar passou a ser um assunto tabu", conta Miguel, revelando que, por isso mesmo, desenvolveu uma quase ‘obsessão’ por tudo o que estivesse relacionado com o mar.
Começou a mergulhar em Cascais com apenas nove anos e pouco depois já fazia caça submarina, embora sempre às escondidas da mãe… "
A partir de determinada altura deixou de ser possível esconder da minha mãe o que se passava, pois chegava a casa sempre molhado e as justificações que dava para o equipamento de mergulho que aparecia lá em casa deixaram de funcionar… É evidente que a minha mãe percebeu que estava ligado ao mar, mas depois, por infelicidade, a minha mãe também adoeceu e morreu quando eu tinha 15 anos. A partir daí passei a ter rédea solta e a dedicar-me muito a sério a tudo o que estivesse relacionado com o mar", recorda o mergulhador, de 52 anos, que acabou por encontrar neste desporto um escape, uma forma de superar a perda prematura dos pais. "
Essa época coincidiu com o 25 de Abril. Muitos dos meus amigos ‘descarrilaram’, iniciaram-se nas drogas e outros vícios, e eu, felizmente, agarrei-me a um desporto muito exigente a nível físico que me afastou de outros caminhos", relata Miguel que, aos 15 anos, tomou a iniciativa de pedir emprego no Aquário Vasco da Gama: "
Claro que não aceitaram, porque eu era menor, mas como acharam graça ao meu entusiasmo pelo mar, passei a ter acesso gratuito ao aquário e a iniciar colaborações com os seus vários departamentos."
Paralelamente, continuou a praticar vela no Clube Naval de Cascais, embora sem participar em competições. "
Mais do que um desporto, a vela servia-me como meio de deslocação, uma forma de chegar aos locais de mergulho… Mas, em 1987, desafiaram-me para representar Portugal pela primeira vez numa regata oceânica, e foi então que iniciei um percurso de 20 anos a fazer regatas oceânicas, uma volta ao mundo, 15 travessias atlânticas… Fui dos primeiros velejadores profissionais em Portugal, percorri milhares de milhas e, nessa altura, o mergulho acabou por ficar um pouco esquecido", admite Miguel. Mais tarde, devido a lesões, acabou por deixar as competições de vela para se dedicar ao mergulho, desporto através do qual conseguiu concretizar muitos do seus sonhos de infância, como ser campeão de caça submarina – como o pai – e ir a locais emblemáticos para apreciadores da modalidade, como a Grande Barreira de Coral, a Ilha de Páscoa ou os Galápagos.
Só lhe faltava concretizar um sonho: o de fazer mergulho na Antárctida. E é precisamente esse último sonho que se encontra, neste momento, a realizar com a expedição Quebramar Dive In Antárctida. Partiu de Lisboa no final de Janeiro rumo àquele inóspito continente e o seu regresso está previsto para a próxima semana. Nessa altura espera ter material suficiente para escrever o seu quinto livro, no qual tentará chamar a atenção para todos os erros que contribuem diariamente para o aquecimento global, e que começam a ser visíveis na Antárctida, considerada uma espécie de ‘barómetro do planeta’.
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Através daqueles glaciares consegue-se analisar o que tem vindo a acontecer nos últimos milhões de anos, e tudo indica que o degelo se está a tornar irreversível", lamenta o mergulhador. "
Temos de fazer alguma coisa para que os nossos filhos possam ver algumas das coisas que nós vimos", apela Miguel, referindo-se também ao seu próprio filho, Miguel, que, apesar de ter apenas cinco anos, tem sido educado no sentido de proteger o meio ambiente, ou não fosse ele o maior admirador do pai. "A primeira saída de mar do Miguel foi quando ele tinha 15 dias! E ele está doido para começar a mergulhar com garrafas", revela, manifestamente entusiasmado.
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