Não é nostálgica e costuma dizer que o melhor está sempre para vir. Para
Anna Westerlund, de 31 anos, a vida ganhou um sentido diferente quando experimentou pela primeira vez a maternidade, há cinco anos, com o nascimento de
Emma. Tanto que não hesitou em repetir e, dois anos e meio depois, foi mãe de
Mia. Agora, a ceramista está à espera do terceiro filho,
Max, cujo nascimento está previsto para Abril. E é deste universo que tem construído com o actor
Pedro Lima que Anna Westerlund fala com orgulho, dizendo mesmo que não se lembra da sua vida antes de ser mãe.
– Vou pedir-lhe para que faça um exercício de memória e recorde a sua infância…
Anna Westerlund – Nasci em Portugal, vivia na linha de Cascais, mas como o meu pai é de uma vila perto de Gotemburgo, na Suécia, era lá que eu passava as férias de Verão e as de Natal. A família dele vive numa quinta no campo, e era aí que eu passava os dias a andar de bicicleta no meio da floresta, ajudava a tirar o leite das vacas, alimentava as galinhas. Esta é talvez das únicas coisas que tenho pena de não poder proporcionar tão regularmente às minhas filhas.
– Houve momentos que a marcaram particularmente?
– Tive uma infância feliz, de muita brincadeira e, principalmente, de muita companhia dos meus pais, que sempre se preocuparam em fazer programas comigo e com o meu irmão. Eram companheiros de brincadeira, e é isso que recordo com mais alegria, não o que tive em termos materiais.
– É essa filosofia que tenta adoptar com as suas filhas?
– Nos dias de hoje, em que passa tudo muito pelo ter – em que há uma preocupação muito grande em comprar coisas para os filhos -, eu acho que passa tudo mais pelo ser, por estar com as minhas filhas, acompanhá-las, entrar nas brincadeiras delas.
– Foi uma adolescente com muitas angústias, muitos problemas existenciais?
– Nem por isso. Gostava de sair à noite, mas respeitei sempre os horários impostos de entrada e saída. Era boa aluna, o que era um trunfo. Acho que consegui viver algumas loucuras próprias da adolescência, mas com uma grande dose de responsabilidade.

– Qual foi a sua maior loucura?
– Foi andar de moto sem capacete. [risos] Eu tinha imensos amigos que tinham moto e os meus pais acharam por bem dar-me uma, pois não gostavam que eu andasse à boleia. Como se sabe, é principalmente na adolescência que testamos os limites e, mesmo não tendo feito grandes disparates, sei que há coisas que poderiam ter corrido mal. Por isso é que costumo dizer que hoje em dia é muito corajoso ser-se um pai minimamente permissivo. Sabemos que os nossos filhos vão ter de correr perigos e temos de nos preparar.
– Já está em estágio?
– Acho que consigo ser equilibrada. Tenho angústias por elas, mas não deixo que isso interfira no seu crescimento. O importante é conseguir transmitir-lhes o sentido de responsabilidade e mostrar-lhes que precisam de ter respeito pelos pais. O facto dos meus pais me terem dado imensa liberdade e respeitarem as minhas escolhas ao longo da vida, fez-me ter por eles uma admiração muito grande. Espero conseguir ser assim também…
– E esse é um processo que começa na infância…
– Começa quando os nossos filhos nascem. E há pais que só se preocupam com isso quando os filhos são adolescentes. Eu acredito também que amar os filhos incondicionalmente ajuda bastante no seu crescimento.
– Mas, supostamente, todos os pais amam incondicionalmente os filhos…
– Não acredito nisso. O amor de um pai por um filho, e vice-versa, tem de ser construído diariamente, e há pessoas que têm esse amor como garantido, que acham que não têm de fazer nada só porque há um laço… Se os filhos se sentirem amados incondicionalmente, faz com que também queiram amar os pais e que não sejam capazes de passar certos limites, porque isso poderá magoar as pessoas que eles amam.

– Mas a relação entre pais e filhos nem sempre é assim tão pacífica…
– É uma relação que tem de ser trabalhada e que é muito trabalhosa. É um grande desafio, que nos preenche de uma maneira quase transcendente, e é por isso que a relação que tenho com as minhas filhas se transforma numa filosofia de vida.
– Uma filosofia que se vai estender ao Max… Tudo preparado para o receber?
– É preciso preparar muito pouco para receber este bebé. Eu e o Pedro tomámos a decisão de termos mais um filho porque os valores em que acreditamos passam pela partilha, pela solidariedade. Quantos mais forem, mais necessidade têm de respeitar a liberdade uns dos outros e as diferentes maneiras de estar.
– A Emma e a Mia estão conscientes de que vão ter de partilhar o seu espaço com o irmão?
– Faço com que as minhas filhas percebam que é mais importante ter irmãos do que ter muitos vestidos ou brinquedos. Numa época em que os bens materiais estão tão sobrevalorizados, tornou-se para nós fundamental apostar na família e nos valores que lhe estão implícitos.
– Mas há famílias que só não têm mais filhos porque estão condicionadas financeiramente…
– Faz-me confusão ouvir, apesar de poder perceber, as pessoas dizerem ‘é tão caro ter um filho’, como se estivessem a investir na banca. O exercício é ter muitos filhos para percebermos que não é bem assim. Lá está, há pessoas que acham que os filhos têm de ter tudo e há uma preocupação inerente a ter um filho muito material. Eu e o Pedro sentimos que nesta família, dita numerosa, que estamos a criar, esse valor material cai automaticamente.

– Mas é preciso fazer uma boa gestão do orçamento…
– A opção de termos mais filhos passa também por fazermos um exercício de não querermos ter mais do que já temos. Há coisas que não me fazem mais feliz, como ter carros topo de gama. As nossas ambições estão longe disso.
– Vive uma relação mais sólida do que nunca?
– O que me surpreende é que passados oito anos os sentimentos e a vontade de estarmos juntos sejam iguais, parece que foi sempre uma relação sólida, houve sempre uma empatia muito grande.
– Há alguma fórmula para uma relação saudável?
– As pessoas, quando estão juntas, mais facilmente criticam o outro do que a elas próprias. E a minha relação serve para eu, muitas vezes, me ver ao espelho. O Pedro faz com que eu queira ser uma pessoa melhor. Depois, aceitamo-nos como somos e não temos expectativas falsas em relação ao outro. Isso é um primeiro passo para que as coisas corram bem…
– Ajuda terem tempo um para o outro…
– Claro que sabe bem termos alguns momentos a dois, mas para nós isso não implica sairmos para jantar ou ir ao cinema. Para nós, alimentar uma relação a dois não implica estarmos distantes dos nossos filhos…
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