Quatro meses depois de ter aberto a sua segunda loja A Vida Portuguesa,
Catarina Portas continua a dividir os dias entre Lisboa e o Porto, onde tem cada vez mais amigos e raízes. A CARAS foi conhecer o espaço na Baixa portuense e conversou com a empresária sobre o projecto Uma Casa Portuguesa, criado há cinco anos a partir de uma investigação jornalística que fez sobre produtos portugueses, aqueles que, décadas depois, ainda mantêm a embalagem original. Quem não se lembra da pasta medicinal Couto? Dos sabonetes Ach.Brito ou Confiança? Das conservas Tricana ou das farinhas Zelly? Do pião e do rapa? Das andorinhas Bordalo Pinheiro ou dos Bordados de Viana? De recordações, estes, e muitos outros produtos Made in Portugal, voltam a estar novamente disponíveis no mercado, porque, não restam dúvidas, o que é nacional é bom.
Aos 40 anos, metade dos quais dedicados ao jornalismo e à escrita, Catarina Portas diz estar plenamente realizada e feliz com o sucesso deste projecto, e promete não parar com a restauração da identidade nacional, numa época sem fronteiras e cada vez mais permeável ao que vem de fora.
– Quase dois anos depois de ter aberto a primeira loja A Vida Portuguesa, em Lisboa, apostou no Porto. O que a levou a expandir o projecto e como têm sido os primeiros meses?
– Em Lisboa está a correr muito bem e trazer a loja para o Porto era um projecto antigo. Gosto muito desta cidade! E, tal como esperávamos, está a correr lindamente. Temos tido a visita de muitos portuenses e estão a acontecer algumas coisas engraçadas. Já abrimos o segundo piso e fizemos o lançamento de um livro que levou à loja quatrocentas pessoas. Correu muito bem!
– A escolha do espaço na Baixa, uma zona em franca reabilitação, foi intencional?
– O local para a loja foi muito procurado. Digamos que este espaço foi muito desejado. Quando comecei a procurar uma loja no Porto, só fazia sentido se fosse na Baixa, tal como em Lisboa. Aposto no comércio dos centros históricos e nunca iria para um centro comercial. Procurei desde a Rua de Santa Catarina até aqui, aos Clérigos, e achei que esta era a zona ideal. Vi muitos espaços, mas sempre que olhava para este via-o como o mais desejado.
– Por causa da abertura da loja, mudou-se para o Porto e morou cá dois meses. Adaptou-se bem?
– Gostei muito desses dois meses. Agora venho cá duas vezes por mês para acompanhar de perto o crescimento da loja. Fiz bons amigos e continuo a ser acolhida de forma calorosa no Porto.
– Já conhecia bem a cidade?
– Conheci muito mal o Porto durante quase toda a minha vida, mas quando comecei a fazer pesquisa para o projecto Uma Casa Portuguesa, o Porto foi o ponto de partida, porque tinha mais lojas tradicionais que Lisboa. Ou seja, nos últimos sete anos comecei a passar mais tempo no Porto e fiquei fascinada com o que vi. É uma cidade belíssima, tem uma arquitectura maravilhosa, com pormenores decorativos deliciosos, com azulejos, granitos e cores cativantes. Gosto imenso desta cidade.
– Quando se tornou empresária, pôs de parte a escrita?
– Tenho vários projectos de livros para avançar já este ano, mas com as lojas sobra-me pouco tempo. Agora que já estão em funcionamento, quero alargar a nossa gama de produtos e tratar da exportação. Quero provar que temos produtos fiáveis, pela história e pela qualidade de produção, que, ainda hoje, conta com uma grande quota de manufactura, o que já é raro.
– Está a ter um papel muito importante na restauração da identidade portuguesa, através da sua produção. Sente-o?
– Quando comecei este projecto, era impossível encontrar uma andorinha Bordalo Pinheiro em Lisboa. E hoje em dia já se vendem em vários sítios, o que é muito bom. Os portugueses têm de ter orgulho naquilo que fazem e perceberem que a melhor qualidade de um produto não é ser estrangeiro. Em Portugal fazemos coisas belíssimas que merecem o nosso apreço.
– O que é que a levou a dar início a este trabalho?
– Achei que era uma tarefa quase impossível, portanto, era boa para mim. [risos] Eu acreditei e consegui com que as outras pessoas também acreditassem que era possível.
– E estes produtos trazem-lhe memórias de infância?
– Tinha muitos brinquedos de madeira. A minha mãe gostava muito de artesanato e comprava-me destes brinquedos tradicionais. Brinquei com o pião, com os ciclistas… e usei toda a vida cadernos da Emílio Braga.
– Completa 20 anos de jornalismo. Com tantos projectos, como fica essa faceta da sua vida profissional?
– Ficou na atitude mais do que na prática. Um dos livros que quero editar em 2010 é de investigação sobre 20 marcas, fábricas e produtos antigos portugueses. E o formato é de reportagem. Apesar de já não praticar jornalismo corrente, a atitude continua a ser a mesma, de investigação, de tratar a informação e de a passar.
– Tem saudades do ritmo jornalístico?
– Não. Nunca fiz um trabalho tão divertido como este. Jamais. E fiz coisas que adorei, mas nunca nada me surpreendeu e preencheu, como isto que faço hoje em dia. E é uma felicidade ver este projecto desenvolver-se, porque há muitas pessoas que podem crescer com ele!
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