Jorge Corrula, de 32 anos, um dos actores mais conceituados da sua geração, podia hoje ser advogado. Contudo, uma série de sucessivos acasos levou-o a descobrir que a sua verdadeira vocação estava nos palcos e nos ecrãs de cinema e televisão. Para Jorge, a representação é mais do que um trabalho, é a sua vida. E é sem grandes dúvidas que o actor assume que "
sacrifica" a sua vida pessoal todos os dias. Mas se nos seus papéis Jorge se expõe por inteiro, no que diz respeito à sua vida privada é bem diferente. Reservado, o actor não gosta de falar sobre relações, porque quer preservar o que há de "
pessoa" em si. Por isso mesmo, não comenta nada sobre o fim da sua relação amorosa com
Paula Lobo Antunes, com quem namorou dois anos e meio. Apesar desta discrição, Jorge partilhou os seus sonhos e emoções. Inseguro, racional, mas, em simultâneo, sentimental, todas estas características fazem parte do mundo profissional e pessoal do actor. Um mundo que quer explorar mais e mais. E aí, sim, sem quaisquer reservas.
– Como é que alguém que estava a estudar Direito se apaixonou pela representação?
– Aconteceu tudo por acaso. No sítio onde eu morava havia uma pequena colectividade que tinha um grupo de teatro. Fiz lá um
workshop e, entretanto, chamaram-me para fazer a peça
Maldita Borbulha, em 1997. Nunca vi o teatro como uma profissão, era uma diversão, mas depois desse espectáculo fui para o Conservatório. Já tinha tentado antes, mas não tinha entrado. E a partir daí as coisas aconteceram de uma maneira natural. Fui tendo trabalho, e já lá vão 13 anos…
– E nunca se arrependeu dessa decisão?
– Nunca me arrependi. Tenho a certeza de que se não fosse actor não seria ninguém. Não teria qualquer outra profissão. Acho que não tenho capacidade para fazer qualquer outra coisa.
– O que é que o atrai na representação?
– É ter a possibilidade de experimentar energias de pessoas diferentes. Poder albergar no meu corpo outras experiências. É muito redutor passarmos uma vida inteira a vivermos só a nossa vida.
– Passa a imagem de que é uma pessoa muito misteriosa e pouco se sabe de si fora do ecrã…
– Acho que sou uma pessoa muito reservada. Nós já temos uma exposição tão grande, aparecemos todos os dias na casa das pessoas, as revistas querem saber coisas da nossa vida íntima… Não diria que sou uma pessoa tímida, mas gosto de manter a minha vida privada.
– Acha que é uma forma de manter a sua autenticidade?
– É uma forma de me defender, de continuar com os pés bem assentes na terra, e é uma maneira de continuar a ser pessoa. O que é que é isso da fama? Não é uma coisa palpável. Hoje posso ser um bom actor e amanhã já não ser. Gosto de manter as minhas raízes, os meus amigos e os meus sentimentos só para mim, para não me desviar do rumo que quero seguir.
– E sabe aquilo que quer?
– Cada vez mais sei o que quero e o que não quero. O que quero é ter trabalho até aos oitenta anos, ter sempre desafios e que o grau de exigência seja sempre elevado. Quero manter a motivação, o que nem sempre é fácil. Não quero fazer coisas confortáveis. É muito fácil acomodarmo-nos à questão da imagem, que é etérea. Não gosto de comodismos. E as pessoas que gostam não têm noção do que é a realização pessoal e a carreira. E, nesse aspecto, sou muito ambicioso.
– E tem muitos sonhos?
– Não tenho nenhum sonho palpável. Quero surpreender-me. Mais a mim do que aos outros.
– Mas isso a nível profissional ou pessoal?
– Eu não os dissocio. Ser actor é um modo de vida. Esta profissão é muito angustiante e penosa, porque não há um momento de descanso. Temos de saber viver com esta angústia e ver as coisas boas. Eu vejo a representação como uma arte.
– Mas a nível pessoal não tem sonhos, como o de ser pai, por exemplo?
– Qualquer homem tem a ambição de ser pai. O casamento não me diz nada, pelo menos enquanto instituição. As pessoas têm é de ser felizes com as pessoas com quem decidiram partilhar a sua vida. Obviamente que quero ser pai, não sei é quando nem tenho um vislumbre de quando poderá acontecer. Deixo as coisas acontecerem. A única maneira de vivermos é não forçar as coisas.
– É uma pessoa insegura?
– Acho que a única forma de vivermos bem é sermos inseguros. A insegurança dá-nos a surpresa, o improviso, o descontrolo. Nesta profissão vivemos ali na linha ténue entre a ficção e a realidade, e isso tem de ser uma zona de desconforto e insegurança. Sim, considero-me uma pessoa insegura e espero continuar a sê-lo, porque isso significa que estou à procura.
– É uma pessoa de afectos ou é mais racional?
– Sou uma pessoa mais racional.
– Tem-se especulado muito sobre o fim da sua relação com Paula Lobo Antunes…
– Não vou falar sobre isso.
– Mas está bem a nível emocional?
– Estou bem.
– E isso deve-se a essa sua racionalidade?
– Não… Há pouco perguntava-me se dissociava a vida pessoal da profissional, e a minha profissão é o mais importante. Nesta altura, ao fim de alguns anos de trabalho, estou satisfeito com o meu percurso.
– Sacrificaria a sua vida pessoal pela profissional?
– Sacrifico a minha vida pessoal todos os dias. Quando chego a casa, estudo para o dia a seguir e não fico a ver um filme nem vou sair com os amigos.
– Mas para se ser feliz não tem que haver um equilíbrio entre estes dois lados?
– Sim, para qualquer pessoa. As pessoas vivem de afectos, seja com quem for.
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