A meses de completar 50 anos,
Rosarinho Cruz conversou com a CARAS sobre o seu percurso pessoal e profissional e, com a paixão que a caracteriza, fez o balanço da sua vida. Apaixonada, divertida e amiga, a
designer de joias e pintora nasceu rodeada de arte e é nesse mundo que se realiza. Fala dos pais com admiração e agradece-lhes a infância que teve, entre os livros e a pintura, ultrapassado o trauma da separação precoce de ambos.Divorciada há três anos do seu segundo marido, com quem teve dois filhos,
Marta e
Manuel, de 27 e 11 anos, respetivamente, Rosarinho não esconde a mágoa pelo fim desta relação, que durou 24 anos e terminou da pior forma, com uma traição. Pelo contrário, é com amizade que recorda o seu primeiro amor, do qual nasceu
João, hoje com 30 anos. Dos filhos, diz que são os seus
"grandes amores, as joias mais bonitas que criei". E enquanto os mais velhos já são independentes, é a Manuel que a criadora dedica hoje o seu dia-a-dia.
– Em Novembro faz 50 anos, que balanço faz da sua vida?
Rosarinho Cruz – Não sou dada a balanços, mas quando olho para trás o saldo é positivo. A nível pessoal, tenho os meus dois filhos mais velhos criados e independentes e o mais novo cá em casa, que me faz companhia e é a minha razão de viver. Profissionalmente, sinto-me realizada, estou bem comigo, gosto do que sou e reconheço os meus defeitos…E estou muito feliz por fazer 50 anos!
– Não tem, portanto, medo de envelhecer?
– Nunca! Quando olho para o espelho sinto-me ótima. Mentalmente, estou ativa e numa fase bastante criativa. E emocionalmente vivo momentos tranquilos. Sou uma pessoa humana, sensível, amiga do meu amigo, e sinto-me bem assim.
– Que papel é que os seus filhos têm na sua vida?
– O João é o meu tesouro. Nasceu do meu primeiro casamento, com
José Luís Baptista. Foi uma paixão louca. Começámos a namorar com 13 anos e casámo-nos aos 19. Mas éramos mais amigos que outra coisa qualquer, por isso separámo-nos três anos depois. Ainda hoje continuamos bons amigos e damo-nos muito bem. Passou pouco tempo até conhecer
o Pedro Sousa Pires e, sem pensar muito, casámo-nos. A Marta, a minha princesa, nasceu meses mais tarde. E o Manuel quando eu tinha 37 anos. Estive casada 24 anos e só há três me consegui libertar.
– Como é que a Marta e o Manuel lidaram com a separação dos pais?
– A Marta tinha acabado o curso de Psicologia e mandou-se para Moçambique para integrar uma ONG. Acho que foi a forma que encontrou para fugir de tudo o que se estava a passar cá em casa. Já o Manuel foi mais complicado. Tinha nove anos e ainda hoje sinto que o seu comportamento foi alterado pelo que sofreu. É um miúdo revoltado e sofrido. Eu sou filha de pais separados e sempre fui feliz, porque, por mim, os meus pais davam-se bem. Neste caso, isso não acontece. O meu ex-marido é mal formado e não é bom pai. Não me ajuda na educação do Manuel nem em nada. Vive no estrangeiro e lida com o filho por telefone. Não comunica comigo, e isso é fundamental. Ele não precisava de fazer conversa comigo, bastaria falarmos sobre o Manuel, porque ele é um bem comum.
– O seu casamento terminou da pior maneira, mas como foram os anos em que estiveram juntos?
– Foram sempre maus. Eu é que sou uma lutadora e lutei pela minha família, apesar de ter sido sempre infeliz e maltratada. Deixo o alerta a todas as mulheres: quando sentirem que não são respeitadas, desistam, porque quando há falta de respeito não vale a pena ir em frente. E eu fui muito desrespeitada durante 24 anos. E tolerei tudo pela família. Foi o grande erro da minha vida. Lutei por um casamento falhado desde o primeiro momento. Estive 24 anos sozinha, apesar dele estar sempre em casa.
– O que a fez pôr um termo a tanto sofrimento?
– A traição. Fui perdoando e protelando enquanto achava que ele era fiel. Mas a infidelidade eu não perdoo, porque a fidelidade é dos princípios que mais prezo. Sofri muito no início, não por o ter perdido, mas por ter percebido que a minha luta tinha chegado ao fim. Durante 24 anos, tentei convencê-lo de que tínhamos tudo para ser felizes, tínhamos uma família, mas não consegui. Hoje sinto-me liberta. Consigo respirar fundo. Acabaram-se os ataques de ansiedade.
–
Como tem vivido estes tempos pós-divórcio?
– Ao princípio estive muito mal. Tive anorexia e depressão, que para mim nada mais era que um acumular de tristeza. Depois, comecei a acordar e renasci.
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Sente-se disponível para voltar a partilhar a sua vida com outra pessoa?
– Sim, não hei de acabar sozinha, mas tornou-se mais complicado, porque ao primeiro sinal de alguma parecença ao meu ex-marido fujo. Sou extremamente terna, adoro mimar, e para me apaixonar tenho de encontrar um homem educado, bem formado, sensível, alguém que entenda a minha linguagem, divertido, e que seja sensível à arte. E, acima de tudo, que seja fiel.
–
Apesar da sua principal profissão ser animadora cultural da Câmara de Matosinhos, as suas joias são o seu principal cartão de visita. Como se divide?
– Adoro o que faço na Biblioteca de Matosinhos, porque trabalho muito com crianças, mas o que me realiza e satisfaz é trabalhar as minhas joias e pintar. Trabalho com o brilho do ouro e a beleza das pedras preciosas e faço peças lindas. Sou completamente fã de mim mesma e reconheço que as minhas joias são fantásticas.
–
As suas clientes são, acima de tudo, amigas, porque ficam com parte de si sempre que lhe compram uma joia. Sente-o assim?
– Logo depois de conhecer as pessoas, faço amizade. Adoro dar de mim, seja numa joia ou numa conversa. Aliás, a primeira vez que trabalhei, tinha 17 anos, foi como voluntária da Liga dos Amigos do Hospital Santo António. Formei uma biblioteca para os doentes e de tudo o que fiz até hoje foi o que mais gostei. E hoje digo que gostava de voltar a um hospital. Adoro o meu trabalho e não penso deixar nada, mas quando for mais velha hei de voltar a ser voluntária.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.