Marcámos encontro com
Marco Delgado no Teatro São Luiz, onde está em cena com a peça
Hedda. O ponto de partida para a entrevista foi este novo projeto do ator, mas a conversa não se ficou pelos palcos…
– Fale-me um pouco deste projeto…
Marco Delgado – É uma grande peça, temos um grande elenco. Gosto imenso de fazer dramas, atraem-me muito. Mas, ao mesmo tempo, a minha personagem é muito engraçada, é uma espécie de escritor genial incompreendido. Tem muitos traços fortes, o que me dá um imenso prazer fazer.
– Mas conciliar isto com as gravações da novela não deve ser muito fácil…
– É complicadíssimo. Ontem gravei das 8h30 às 20h e depois vim a correr para o teatro para fazer ensaio, onde estive aqui das 21h até praticamente à meia-noite. Tem de ser assim, não há outra maneira. Eu tinha jurado a mim mesmo, há uns anos, não voltar a fazer isto, mas surgiram estes dois convites na mesma altura e eu não consegui dizer que não. Estou numa fase profissional boa e sinto-me feliz. Sinto-me bem.
– Estará a tornar-se um
workaholic?
– Gosto imenso de trabalhar e não me canso, por isso, sim, talvez seja um pouco
workaholic. Sou muito obcecado no meu trabalho, exigente, às vezes até de mais. Por um lado, é bom, por outro, é angustiante, e sofro muito com a ansiedade que isto me cria, porque as coisas nunca estão certas, nem o trabalho finalizado, há sempre uma imperfeição para corrigir. É esgotante, psicológica e fisicamente. É um bocadinho doentia esta relação, porque ao mesmo tempo que me dá prazer, esgota-me. Mas também tenho períodos em que tenho de parar e descansar.
– E quando foi a última vez que teve de parar?
– Estive agora seis meses sem fazer televisão. Foi muito bom, aproveitei para descansar e tive a oportunidade de fazer tudo o que não faço quando estou a trabalhar. Viajei, troquei de carro, mudei de casa, convivi muito com a família, fui ao teatro e ao cinema…
– Parece ser muito apegado à sua família. Nos eventos aparece muitas vezes com a sua mãe ou o seu irmão gémeo…
– Sim, tento ser. Tenho uma família ótima. Tenho um pai maravilhoso, uma mãe fantástica e grandes amigos com quem tenho necessidade de passar mais tempo.
– Os seus pais estão separados…
– Já há muitos anos. Tinha 12 anos, e foi uma fase muito complicada. Tive ali um período, até aos meus 18 anos, de muitas dúvidas, de muita irritação, tristeza e revolta. Depois ultrapassei esses momentos e hoje sinto-me perfeitamente resolvido em relação a isso. Tenho uma relação muito próxima e saudável com a minha mãe e com o meu pai. Nunca perdi esses laços familiares, apesar de ter sido muito independente desde cedo. São os meus confidentes, converso muito com eles. Sempre que posso estou com eles.
– Ser ator foi algum ato de rebeldia dessa fase em que os seus pais se separaram?
– Não, mas também não sou daqueles atores que sempre o quiseram ser desde pequenos. Eu sabia que queria estar ligado à parte criativa e artística, não sabia bem como. Depois do 12.º ano, fiz dois cursos na área da representação, gostei bastante, aprendi muito, e a partir daí as coisas concretizaram-se de uma forma natural. Estreei-me em teatro ao lado do
Luís Miguel Cintra, por volta dos 20 anos, e entretanto já passaram quase 17 anos… Foram 17 bons anos.
– Esse mundo da televisão, das artes, está associado muitas vezes a uma vida muito ‘libertina’, ao álcool, às drogas…
– Acho que sou equilibrado nesse aspeto. Experimentei algumas drogas na adolescência, mas não me entusiasmou muito. Não bebo com frequência… Nesse sentido, acho que os meus vícios são outros. Obviamente que na TV há que ter cuidado, porque é um meio propício a esse tipo de vícios, mas eu acho que sou mais viciado em trabalho, nos amigos, no amor, em sexo, do que em drogas.
– Tem 37 anos. Quando pensa ‘assentar’ e ter filhos?
– Gostaria de ser pai, mas neste momento não me sinto preparado para isso. Não tenho nem a estabilidade nem a tranquilidade necessárias para isso. Quero ter um filho, mas neste momento não tenho vontade. Também nunca encontrei ninguém de quem achasse que fosse a pessoal ideal para isso.*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.