Lúcia Piloto está longe de obedecer àquela imagem da avó que está em casa à espera que os netos cheguem para lanchar, com um bolo acabado de fazer na mesa. Com 33 anos de carreira, a empresária, responsável pela Lúcia Piloto Cabeleireiros, tem uma vida profissional mais ativa do que nunca, e não se imagina a deixar de trabalhar nos próximos anos só para conseguir ter mais tempo livre para si e para a família. Ao lado do marido,
Júlio Piloto, com quem está casada há 40 anos, a empresária construiu uma marca de sucesso que, acredita, vai continuar a crescer com as filhas,
Patrícia, de 38 anos,
Cláudia, de 35, e
Andreia, de 34, que pertencem à administração da empresa criada pelos pais.
Foi sobre esta aventura familiar, dentro e fora de casa, que Lúcia falou com a CARAS, na sua casa, em Lisboa, depois de uma produção na qual juntou os seus cinco netos,
João Francisco, de 12 anos, filho de Patrícia,
Carolina, de 11,
Francisca, de dez, e
Carlota, de um ano, filhas de Cláudia, e
Beatriz, de seis meses, filha de Andreia.
– Como é que tem conciliado o seu papel de avó com o de empresária muito ativa?
Lúcia Piloto – Bem, eu já vou na segunda etapa de netos, porque os mais velhos têm idades muito próximas e só passados vários anos é que nasceram as mais pequenas. Dei mais atenção aos mais velhos, porque estava numa fase mais calma. Agora estou cheia de trabalho e confesso que não tenho dado tanta atenção às mais novas. Dentro daquilo que posso, tento ajudar e estar presente, mas não sou daquelas avós que podem estar todos os dias com os netos. O que sinto é que sou mais condescendente com eles do que fui com as minhas filhas. Por isso é que faz falta ter pais e avós, para haver uma compensação.
– E como é que se faz presente na vida dos seus netos?
– É complicado, porque sou uma avó trabalhadora. Segunda e terça-feira, que tenho os dias mais livres, tento ir buscar o João Francisco ao colégio… Não é fácil, porque tenho três filhas e cada uma já tem filhos.
– Falando da época em que começou a sua carreira e tinha as suas filhas ainda pequenas: acredito que não tenha sido fácil…
– O pior foi não poder estar com as minhas filhas todos os dias, porque à hora que eu chegava elas já estavam na cama. Felizmente, elas tiveram uns avós fantásticos, que lhes davam tudo e eu tentei estar o mais possível presente na vida delas, mas sei que não lhes consegui proporcionar aquele companheirismo de que elas precisavam. A vida era muito mais difícil nessa altura, não tinha empregada a tempo inteiro e elas tinham mesmo de ficar com os avós. Eu e o pai tivemos de trabalhar muito para que elas tivessem a vida que têm hoje.
– O sucesso que teve, dentro e fora de casa, sempre foi o resultado de um trabalho de equipa com o seu marido…
– Sem dúvida nenhuma. Ele sempre foi um bom pai e um bom marido. Dentro da empresa, ele esteve à frente da parte da gestão e eu da criativa. O que temos foi mesmo criado pelos dois. Fizemos sempre uma boa dupla.
– E não era difícil trabalhar e viver com o marido?
– Claro que acabámos por criar rotinas e chegou um dia em que percebemos que nos tínhamos tornado companheiros. Também nunca brigámos, e mesmo quando havia desencantamentos, sempre pensámos no que era melhor para os dois. Houve uma altura, há muitos anos, em que nos separámos, mas nunca pusemos em causa a nossa empresa e tudo o que pertencia às nossas filhas.
– Como é que vê a opção das suas filhas de continuarem o seu trabalho e o do seu marido?
– Foi um sonho que se concretizou. Sempre sonhei que as minhas filhas pudessem seguir a minha carreira, mas não impus nada! Somos um bloco forte como família e a minha relação com as minhas filhas sempre foi coesa e intensa.
– Qual é o segredo para se envelhecer bem?
– Bem, eu sou vaidosa, gosto de preservar a minha imagem e tenho essa obrigação. Às sete e meia da manhã, quatro vezes por semana, já estou no ginásio e tenho algum cuidado com o que como… Temos de gostar de nós próprios e eu estou à frente de uma empresa que lida com a imagem, não posso aparecer descuidada.
– Não sente necessidade de abrandar profissionalmente para se dedicar mais a si própria?
– Não. Sou daquelas pessoas que fica feliz quando ouve dizer que a idade da reforma foi prolongada. Sinto-me bem, com energia, e adoro aquilo que faço. Não tenho perfil para ser dondoca, para estar em casa a fazer bolos.
– Como é que gostava que os seus netos a descrevessem?
– Gostava que eles dissessem que os avós foram muito importantes para eles e que me recordassem como uma companheira.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.