Ternura e cumplicidade são as palavras que melhor definem a relação de
António Pinto Basto com os filhos,
Egas, de 22 anos,
Gustavo, de 20,
Amélia, de 18, fruto do seu casamento com
Amélia Esparteiro, e
Carlota, de quatro anos, e
António, de três, filhos de
Mariana Oliveira, de quem se separou há mais de dois anos.
Nesta entrevista, em que os filhos mais velhos não puderam estar presentes e que teve por pretexto o Natal, o fadista conta que a idade o tem tornado um pai mais permissivo e presente e que os filhos são fundamentais para o seu bem-estar. António garantiu ainda que, apesar de separado, continua a acreditar no amor.
– Está separado desde setembro de 2008. Foi uma decisão pacífica?
António Pinto Basto – Foi arrastada, mas pacífica.
– E a sua relação com a Carlota e o António saiu ‘beliscada’?
– Não melhorou nem piorou, a única coisa que mudou é que estamos menos tempo juntos do que aquilo que gostaríamos.
– Mas percebe-se que é um pai dedicado e atencioso…
– Sim… Gosto imenso de estar com eles e vibram imenso quando estamos juntos. Claro que seria melhor se estivéssemos juntos mais assiduamente, mas não pode ser. O combinado é estar com eles de 15 em 15 dias, mas claro que há liberdade para que não cumpramos isso à risca. O facto de estar a viver em Alcochete também acaba, de certa forma, por prejudicar, pois se vivesse em Lisboa tornar-se-ia mais fácil.
– Mas hoje em dia acaba por ter mais disponibilidade para eles do que teve para os seus filhos mais velhos?
– Claro que sim, até porque nessa altura estava mais envolvido na minha profissão. Porém, com os outros, como morávamos juntos, estava mais tempo com eles. Acaba por ficar equilibrado. [risos] O que muda é que quando estou com os meus filhos mais novos, estou totalmente dedicado a eles, até porque, com a idade que têm, não há como fazer qualquer outra coisa.
– E como é estar sozinho com eles?
– Quando estou com os dois nem sempre é fácil, quando estou só com um é mais simples e menos stressante. Só na altura em que dormem a sesta é que tenho tempo para fazer alguma coisa. [risos]
– Quais as maiores diferenças entre o pai que foi com os seus filhos mais velhos e o que é atualmente?
– Tenho mais paciência e menos noção de posse. Muitas vezes os pais mais novos acham que são donos dos filhos e com estes já tenho essa síndrome ultrapassada. Julgo que já não sou tão severo e brusco como fui provavelmente com os mais velhos.
– Considera, então, que agora é um pai mais permissivo…
– Sem dúvida alguma.
– O facto de estar separado das mães dos seus filhos entristece-o enquanto pai?
– Claro que sim. Nunca me tinha passado pela cabeça sequer, há dez anos, que me iria divorciar e depois, quando me juntei com a Mariana, também não pensei que fosse acabar, mas a vida prega-nos destas partidas e temos de saber lidar com elas.
– Consegue ter uma relação cordial com ambas?
– Muito normal, tenho feito por isso. A Amélia contribui bastante para que mantenhamos as melhores relações, o que é muito melhor para os nossos filhos, e a Mariana também.
– Ser pai é o que realmente o preenche?
– Sim. Desde o Egas, o mais velho, passou a ser o que mais me preenche e me dá razão de viver e até de me manter mais entusiasmado com tudo o que me rodeia.
– E os seus filhos mais velhos não ‘ocupam’, de certa forma, o papel de pais dos mais novos?
– Muitas vezes, quando estão com eles, dão instruções e educam-nos do seu ponto de vista. Vou deixando, porque acho graça. Ainda para mais, os mais velhos estudaram no Colégio Militar, tiveram uma instrução rígida e já tentam passar alguns dos valores que aprenderam aos mais novos.
– O que tem estipulado em relação aos seus filhos no Natal?
– Habitualmente, passam a consoada com as respetivas mães e o dia 25 comigo. É bom, porque consigo reunir a família toda no mesmo dia, incluindo as minhas irmãs, sobrinhos e sobrinhos-netos.
– É uma época de que gosta?
– Sim… Claro que as crianças ajudam, e faço questão de decorar a casa a rigor e até procuro fazê-lo sempre com eles nos primeiros dias de dezembro.
– E cozinha?
– Claro que sim, nos últimos anos tenho aprendido a fazê-lo. Tive de me desenrascar, hoje em dia até funciona quase como
hobby. [risos] Julgo que até as tarefas que partilho em casa com os meus filhos, quando eles estão presentes, é uma materialização do amor.
– O António esteve a maior parte da sua vida acompanhado. Agora que vive sozinho, não tem medo da solidão?
– Já tive mais. Neste último ano habituei-me a estar sozinho, a descobrir as virtudes da solidão e já me sinto mais adaptado.
– E que virtudes são essas?
– É um pouco não ter de dar satisfações a ninguém. Mas o contrário também é muito bom… Basicamente, uma pessoa tem de se adaptar ao que tem de ser. A questão é a pessoa não sentir necessidade de andar doentiamente à procura de uma companhia. Se aparecer, ótimo, é uma mais-valia, se não, tudo bem.
– E agora, está sozinho ou acompanhado?
– Aquilo que posso dizer é que não tenho nenhuma relação dita de compromisso e jamais estou de porta fechada para o amor. Até porque acho que as pessoas que se casam cinco, seis e sete vezes são as que mais acreditam no casamento e no amor.
– A vantagem de estar sozinho não é também isso, ter a possibilidade de ter alguém sem um compromisso?
– Já fui mais aventureiro, até em alturas que não o deveria ter sido. [risos]
– Como pai atento que diz ser, com certeza a opinião dos seus filhos será primordial para uma próxima relação mais séria?
– Claro, quem quer que seja, terá de saber que os meus filhos estarão sempre em primeiro lugar. Julgo que nestas situações o difícil é lidar com o facto de quem entra na nossa vida achar que vai ocupar de imediato o primeiro lugar.
– Mas uma opinião negativa deles poderia impedi-lo de dar continuidade a uma relação?
– Nunca pensei nisso, pois nunca aconteceu. Nas poucas experiências que tive, não o notei. Não terá sido por aí que ainda não aconteceu a minha união de facto. [risos]
– É um homem apaixonado?
– Sinto que já fui mais ‘pinga-amor’ do que sou atualmente. Os meus amigos até costumavam dizer que me apaixonava com muita facilidade. [risos] Ainda sou muito romântico e deixo-me ligar muito pelas emoções e não por aquilo que convém, pois se assim não fosse já teria, com certeza, descoberto alguém com quem estaria bem, a ter uma vida equilibrada e convencional.
– Essa sensibilidade emocional terá que ver com o facto de ser fadista?
– Provavelmente, pois quando canto lido muito com os sentimentos.
– Acabou de lançar o álbum
Prata da Casa, em que todos os temas são assinados por um Pinto Basto. Deve ser muito bom mostrar o trabalho da sua família…
– O meu filho Gustavo é autor de duas músicas e de uma letra, outras são do meu avô, de um tio e de uma tia. A ideia era compilar todos esses temas, daí o nome. O Gustavo está muito ligado à música, o Egas também gosta de cantar e no António já se nota um certo ritmo.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.