Habituada a viver histórias com final feliz através das personagens que interpreta, a vida de
Alexandra Lencastre facilmente serviria de enredo para uma novela. Aos 45 anos, e depois de um último ano difícil de ultrapassar, sobretudo pelo relacionamento falhado com
Paulo Ferreira, com quem planeava casar-se, a atriz continua a acreditar no seu ‘final feliz’. A seu lado nos bons e nos maus momentos tem as filhas,
Margarida, de 14 anos, e
Catarina, de 12, fruto do seu casamento com
Piet-Hein Bakker, que foram fundamentais nesta fase.
Foi sobre tudo isto que nos falou, numa conversa sem subterfúgios.
– É público que o ano que passou foi difícil para si…
Alexandra Lencastre – Muito, era o ano em que Deus me estava a dar a segunda grande oportunidade da minha vida de encontrar a minha cara metade, a pessoa ideal, o companheiro de sempre e para sempre, o meu amigo, na alegria e na tristeza, com os meus filhos e os dele e, todos juntos, seríamos uma família… e tudo isso se desmoronou numa coisa muito triste, repentina, abrupta para mim e para a minha família, começando nas miúdas. Foi uma grande surpresa, uma desilusão, e ainda está a ser difícil de gerir, embora o Emmy [o prémio internacional que ganhou a novela
Meu Amor, da qual é uma das protagonistas] me tenha trazido um novo alento, uma compensação, pois foi tão duro trabalhar nestas circunstâncias, sem parar nem desistir de tudo… Só pensava:
"As árvores morrem de pé, as árvores morrem de pé." Por isso, e para mim, este prémio foi também um símbolo de esperança no futuro e devolveu-me um bocadinho a capacidade de acreditar.

– Como é que se consegue começar de novo?
– Não sei… Vou buscar forças às minhas filhas, aos amigos, a Deus… E é isso.
– É, então, uma mulher otimista?
– Não, nada, consegui foi, apesar de todas as vicissitudes, não perder a fé e ter sempre a noção de que há quem esteja pior do que nós e que aí deveremos ajudar e, dessa forma, também nos sentimos mais capazes. Depois, sempre pensei que todas as vezes que vamos ao tapete e achamos que não vamos conseguir mais, estamos só a recuperar forças.
– Como se lida com uma traição pública?
– Quero cada vez menos falar sobre isso, mas aquilo que posso dizer é que se uma traição privada já é fortíssima, quanto mais uma pública, que é exponenciada a 15 a 20, a 100… É complicado.

– Presumo que neste último ano o apoio das suas filhas tenha sido fundamental…
–Verdade, elas apoiaram-me imenso. Sofreram muito, mas também recuperaram mais rapidamente do que eu e objetivaram logo a situação, pondo um ponto final em tudo. Diziam assim:
"Por isto, isto e isto, esta situação não interessa, não se olha para o passado e acabou." Eu perguntava como conseguiam ser tão frias, e elas respondiam sempre que se apesar das coisas boas o resultado é negativo, então não vale a pena agarrarmo-nos a elas.
– São as três muito próximas…
– Sim, e elas são muito preocupadas comigo e puxam-me para cima, incentivam-me bastante e são muito queridas… Mas também tento sempre evitar que elas percebam se estou triste ou não, mas nem sempre é possível.

– E elas são muito diferentes uma da outra?
– Muito. A Margarida diz que quer ser atriz, o que me faz viver um momento novo e de angústia, pois ainda não tinha começado a pensar nisso, nas opções que ela iria tomar. Sempre quis que aproveitassem ao máximo, fizessem o máximo de atividades extracurriculares e que tivessem imensas armas e experiências diferentes para que pudessem optar pelo que realmente gostam e querem. A Cuca (Catarina) fez uma data de coisas: balé, piano, violino, guitarra, ténis, mas acaba por não fazer nada, pois assim que se sente à vontade em determinada coisa sente-se farta e quer experimentar outra. [risos]
– A adolescência delas é algo que a preocupa?
– Claro que sim. É uma época muito exacerbada em que tudo é vivido ao limite. Embora o Piet-Hein cumpra com as suas obrigações e esteja com elas de 15 em 15 dias, tem duas meninas pequeninas que exigem imenso e uma empresa recente, por isso, acaba por ter menos tempo para as mais velhas, o que de certa forma me obriga a ter de fazer o papel de pai e mãe. Claro que ele tem toda a confiança em mim, mas sobra-me sempre o papel da má da fita.

– A preocupação que tem por a Margarida querer ser atriz tem que ver com o lado precário da profissão?
– Exatamente. Eu sempre quis ser atriz desde criança, ela sempre fez peças de teatro em casa com a irmã, mas sempre soube que esta profissão é de uma enorme exigência e a questão da crítica e do lado público sempre a afligiram muito. Por isso, sempre pensei que seria uma boa razão para ela não investir nesta área. Acho que tem pouca capacidade de sacrifício e, para ser atriz, isso é fundamental. Por muito que tenha dúvidas e fique atormentada, vamos ver até que ponto ela se consegue fortalecer enquanto ser humano e ganhar consistência e solidez nos seus objetivos.
– A maternidade é realmente o seu principal papel?
– Sem dúvida, mas é também o mais difícil e satisfatório. Quando decidi ser mãe, já não foi muito cedo e escolhi o pai ideal. Fomos de facto muito felizes enquanto estivemos juntos e acho que elas têm imensa sorte, pois foram programadas e muito amadas. Elas sabem que tenho coisas que me ocupam muito, como o meu trabalho, mas elas estão sempre em primeiro lugar. Muitas vezes sentem-se preteridas.

– Como é que, sendo uma mãe tão dedicada e cuidadosa, explica às suas filhas algumas das coisas que são publicadas na imprensa sobre a sua vida?
– É difícil, mas agora já lidam melhor com tudo isso. As primeiras recordações que têm em relação a isso são comigo e com o pai, em que conversávamos muito com elas e as tentávamos preparar para o que pudessem ver nas revistas. Sempre lhes expliquei para não levarem nada a peito, nem ligarem às perguntas inconvenientes que por vezes também lhes fazem na escola.
– Quais são os seus desejos para 2011?
– Para já, só penso em trabalho e família, não quero pensar em mais nada, o que vier será um bónus.
– Esse bónus seria voltar a apaixonar-se?
– [risos] Se acontecer, estou disponível, até porque sou uma eterna romântica e adoraria que Deus me encaminhasse alguém com quem percorresse os últimos dias da minha vida.

– Como consegue continuar a ser romântica?
– O amor e o carinho valem tudo. Os meus avós e pais são o exemplo daquilo que gostaria de ter na minha vida, um casamento muito feliz.
– Continua, então, a querer casar-se…
– Adorava, até porque nunca me casei pela Igreja e, sendo católica, tenho uma grande pena. Às vezes vou-me um bocadinho abaixo e não acredito que possa ser possível, mas depois penso que não posso pensar assim, pois dessa forma já é meio caminho andado para que realmente não aconteça. Também tenho imensos amigos que me têm ‘insuflado’ de boas energias e palavras generosas e que acreditam em mim, e isso também me dá força. Elas também acreditam, querem imenso que eu encontre alguém e adoravam ir ao meu casamento. Tentam até arranjar-me namorados e já sugeriram apresentar-me pais de colegas que são divorciados. [risos]
– Todas estas dificuldades tornaram-na uma mulher mais forte?
– É um cliché, mas a verdade é que aprendemos com os erros e cada vez que nos enganamos aprendemos com isso e há sempre qualquer coisa que se reformula e regenera. É a tal coisa: "As árvores morrem de pé" e eu não vou cair.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.