A família de
Renato Seabra continua em choque com toda a situação que envolve o jovem de Cantanhede. Detido na ala psiquiátrica do Bellevue Hospital, em Nova Iorque, onde está desde a morte de
Carlos Castro, o jovem aguarda audiência do Supremo Tribunal, marcado para 1 de fevereiro. Já recebeu duas visitas da mãe,
Odília Pereirinha, que regressou entretanto a Portugal, e também do pai,
Joaquim Seabra, como nos conta
José Malta nesta entrevista. A irmã,
Joana, mulher de José Malta, ainda não esteve em Nova Iorque, já que está no primeiro trimestre da sua primeira gravidez, quando são desaconselhadas longas viagens de avião.
– Como está a família a acompanhar a evolução deste processo? É difícil fazê-lo à distância?
José Malta – A família, os amigos e todos os colegas e conhecidos do Renato estão muito tristes. Acompanhar a situação à distância é difícil. Diz-se muita coisa na comunicação social, mas é muito escassa ou nula a informação proveniente das entidades oficiais.
– Por que motivo não viajou a sua mulher, Joana, para Nova Iorque com a mãe?
– Está grávida. No primeiro trimestre de uma gravidez não são recomendadas, regra geral, e salvo indicação médica em contrário, viagens longas de avião.
– A sua sogra é descrita por aqueles que a conhecem mais de perto como uma mulher lutadora. Já sentiu que ela estivesse a ir-se abaixo, devastada pela dor?
– É indubitável que é preciso ter muita força para lidar com este pesadelo que se abateu sobre ela e sobre o seu filho. As mães são absolutamente extraordinárias, são seres inefáveis. Acredito que ela tenha força para não se deixar ir abaixo, sobretudo porque o seu filho precisa muito dela neste momento. Isto é um drama, pode acontecer a qualquer mãe de Portugal! As pessoas têm reconhecido isso. É de grande dimensão e comovedor todas as mensagens e telefonemas de apoio, de familiares, amigos e de muitos, mas mesmo muitos, portugueses anónimos que têm chegado, sobretudo incrédulos com a situação em que o jovem Renato ficou subitamente envolvido e incentivando a mãe a ter força e coragem para dar todo o apoio possível ao seu filho, que está sozinho num lugar desconhecido e pouco acessível.
– Algumas notícias dão-nos conta da vontade da sua sogra mudar-se para Nova Iorque para poder acompanhar o filho mais de perto. É verdade?
– Na impossibilidade de ter o seu filho mais próximo, e sendo difícil deslocar-se aos EUA com a desejada frequência, não me admirava nada que ela ponderasse a emigração.
– O Renato tinha uma relação de grande proximidade consigo, com a irmã e a mãe. Ele falava-vos de Carlos Castro? O que dizia sobre ele?
– Já avançámos alguma informação daquilo que era do nosso conhecimento. Todos os detalhes virão à luz do dia durante a investigação do processo e falaremos de tudo isso oportunamente com a comunicação social.
– Como encara a família a possibilidade do Renato levar uma vida dupla, desconhecendo a família o verdadeiro teor da sua relação com Carlos Castro? Parece-lhe possível?
– Custa-me mesmo muito acreditar nessa conjetura.
– Num caso destes, é normal os mais próximos culpabilizarem-se por tudo o que fizeram, por tudo o que não fizeram e por aquilo que acreditam que poderiam ter feito. Essa culpabilização existe na mãe e na irmã do Renato?
– Acho que ninguém consegue antever um cenário trágico como este. Ninguém quer a morte de uma pessoa. As nossas condolências e apoio nesta hora difícil à família e amigos do Sr. Carlos Castro. E também ninguém quer a desgraça de um jovem de 21 anos, sem qualquer registo de incidentes violentos, sem registo criminal, bem formado, civilizado… Estou certo que é uma tragédia quer para os que veem o seu ente querido partir, quer para os que veem o seu ente querido sob ameaça de ter o seu futuro, quando ninguém o esperava, absolutamente estragado.
– Pode dizer-me que tipo de relação o Renato tinha com o pai? Sabe se em Nova Iorque existiu algum contacto entre pai e filho?
– É um pai ausente, mas é pai. Sim, já falaram, e o Renato gostou da visita.
– Em Nova Iorque, a mãe de Renato é apoiada por quem? Ficou alojada num hotel ou em casa de familiares?
– É apoiada por amigos e familiares. Ficou alojada em casa de amigos e familiares.
– Fala-se muito de quem estará a pagar a defesa de Renato. Pode dizer-me algo a esse respeito?
– É a mãe.
– Como descreveria o seu cunhado?
– Um jovem de 21 anos, absolutamente normal, típico da sua geração. Uma característica que aprecio muito nele é a preocupação com a família, particularmente com a mãe, a irmã e a avó.
– O José e a sua mulher não planeiam visitar o Renato em Nova Iorque? A Joana já
falou com o irmão? – Se houver possibilidade, sim. Claro que preferíamos que ele estivesse cá. O apoio seria completamente diferente. Ele está absolutamente abandonado. Não tenham dúvidas sobre isto. Um cidadão português que fique com esta noção clara: se lhe acontecer qualquer coisa nos EUA, não conte sequer com uma comunicação oficial das autoridades portuguesas! É lamentável. Não, a irmã ainda não conseguiu falar com o Renato.
– Como tem vivido a sua mulher estes dias?
– Muito triste. Tentando dar o máximo de apoio naquilo que pode. Mas, como sempre, a cuidar o melhor possível do presente e planeando e acreditando sempre no futuro melhor para todos.
– O que pede a família de Renato para o futuro mais imediato?
– Que se apure toda a verdade. Que se faça justiça em conformidade com essa verdade e com todos os contornos dessa verdade. Que ao cidadão português e europeu Renato Seabra sejam salvaguardados todos os seus direitos, humanos e legais.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.