Sempre foi certinha, responsável e ‘crescida’ demais para a idade que tinha. Nunca deu uma dor de cabeça à mãe e sempre foi boa aluna. Hoje, aos 29 anos,
Sílvia Alberto diz que continua igualmente ‘crescida’, obstinada e ponderada. E confessa que ser mãe não está nos seus planos a curto prazo. Na sua vida apenas há espaço para os dois sobrinhos, de dois e quatro anos, e para
André, de 13, o filho do seu companheiro,
José Mariño, com quem vive há mais de sete anos.
– Qual será o seu maior vício?
– Acho que não tenho vícios, sou uma pessoa relativamente saudável. Não fumo, não bebo, também não roo as unhas… Quando estudo gosto de estar acompanhada de frutos secos, é uma forma de descomprimir.
– Mas defeitos tem, ou não?
– Tenho, claro. Não sou é a melhor pessoa para os identificar. É mais fácil que os outros me digam quais são. Na verdade sou muito teimosa, mas não sei se é o meu maior defeito…
– E a maior qualidade?
– Acho que me tornei uma boa ouvinte.
– É daquelas pessoas a quem todos os outros recorrem para pedir conselhos?
– Na adolescência era apelidada de ‘mãezinha’ pelas minhas amigas. E isso já quer dizer alguma coisa sobre mim. Sempre fui convicta e madura, talvez demasiado. Ainda no outro dia, num jantar com colegas da faculdade, uma amiga disse-me que já me conhecia adulta desde a adolescência e perguntou-me se eu não queria ser, de vez em quando, um bocadinho irresponsável, um bocadinho jovem. Se calhar é esse o meu defeito… sempre tive uma postura muito de quero fazer tudo e bem. Portanto, é um bocadinho dominador este meu lado… Mas tanto pode ser um defeito como uma virtude.
– É perfeccionista…
– Sim, sou perfeccionista e às vezes isso é cansativo, principalmente para quem está ao meu lado. O perfeccionismo pode soar a obsessão em determinadas coisas.
– Pedem-lhe muitas vezes para ter calma?
– Muitas vezes. Pedem-me para não ser tão exigente quando as coisas até nem estão a correr assim tão mal. Podem correr bem, mas estou sempre a ver o lado negro. Agora com o mestrado que estou a tirar, por exemplo, está sempre a acontecer-me isso. Acho sempre que não fiz o que tinha a fazer, que não completei como deveria, mas estou a fazer… Às vezes é importante quando os meus colegas e amigos me lembram que não sou a supermulher, que posso respirar fundo e, de vez em quando, falhar.
– Já percebi que tem tendência para fazer muita coisa ao mesmo tempo…
– Sim… e ainda me sobra tempo para a família, que também me ocupa muito tempo. Mas ainda acho que deveria estar neste momento a fazer um curso de italiano e também andei a ver uns cursos que me interessavam no âmbito da produção e desenvolvimento de conteúdos, porque acho que trariam surpresas interessantes para o meu trabalho em televisão. Portanto, sim, não sei estar parada e é isto que me faz mover, é sempre esta animação, o projeto seguinte e as coisas que ainda tenho para fazer. Sou um bocadinho hiperativa.
– E sempre foi assim tão responsável e certinha?
– Sempre fui uma adolescente muito ponderada e com quem se podia contar. Hoje em dia penso:
"Que tédio. Poderia ter-me divertido muito mais [risos]
." Estou a brincar, obviamente, até porque não é do meu feitio, não tenho essa ânsia, há outras coisas que me satisfazem.
– É a filha que nunca deu uma dor de cabeça à mãe?
– Exato. Sempre fui boa aluna e responsável. Acho que a minha mãe nunca me corrigiu um trabalho de casa, nunca teve nenhum dilema comigo… por isso sempre tive direito a alguma liberdade.
– Tem uma irmã, não é?
– Sim, cinco anos mais velha do que eu. Tem dois filhos lindos, os meus sobrinhos e afilhados. Somos muito diferentes, mas sempre tivemos uma amizade muito forte. A partir dos meus 13 anos, comecei a sair com ela e com os amigos dela, porque ela gostava. Sempre fomos muito companheiras e mantemo-nos assim, somos muito cúmplices e próximas. Telefonamo-nos pelo menos dia sim, dia não.
– Como é que tem tempo para os seus sobrinhos?
– Não estou com eles com a frequência que gostaria, mas vejo-os todas as semanas. Há sempre um almoço de família que resolve.
– O seu companheiro já tem um filho. E a Sílvia, não gostaria ser mãe?
– A minha vida tem espaço para os meus sobrinhos e os próximos tempos estarei ainda muito virada para concretizações profissionais e outras pessoais que não passam por ser mãe.
– O truque para ter tempo para tudo é ser muito organizada?
– Não, não sou nada organizada e sou pouco rotineira. É a minha grande angústia. Mas já estou melhor. Também não sou propriamente pontual. Faço um esforço, mas não consigo. Marco os meus compromissos para meia hora mais cedo do que são para ter a certeza de que vou chegar a horas, porque normalmente depois esqueço-me que o tinha feito.
– A falta de pontualidade poderá ser, então, o seu grande defeito…
– Sim. O que acontece com os meus amigos, por exemplo, é que todos já sabem que vou chegar atrasada, por isso já marcam as coisas comigo cerca de 40 minutos antes. Chegar atrasada pode ser o meu defeito e o ser obstinada a minha qualidade.
– É mais emotiva ou racional?
– As duas coisas. Tento ser o mais pragmática possível, até para resolver com alguma agilidade o meu dia-a-dia, mas vivo intensamente as experiências por que passo. Terminei agora muito recentemente a
Operação Triunfo e foi, para mim, uma experiência muito emotiva. Atualmente, não sou de lágrima muito fácil, mas não sou indiferente.
– O que é que a irrita?
– Irrita-me o mau serviço, o mau atendimento público. E irritam-me
as desculpas de mau pagador. Gosto de pessoas que agem e os fala-barato não são os meus melhores amigos, são as pessoas que me irritam, gosto de pessoas que fazem acontecer.
– Disse há pouco ser pessimista…
– Quando digo que sou pessimista, há um lado bom nisso e tem a ver com não dar tudo por garantido e, com o meu lado controlador, tentar perceber o que poderá correr mal e prever logo as coisas. Ou seja, à partida acho que nem tudo vai correr bem, por isso preparo-me. Se tiver uma surpresa agradável no fim, fico mais confortável, mais segura. Sou daquelas pessoas que dizem que o melhor improviso é aquele que foi treinado 20 vezes. Mas ser pessimista não me impede de fazer o que quer que seja. Se calhar a palavra cautelosa é mais adequada do que pessimista. Gosto de conhecer primeiro para depois apostar. Não me jogo de cabeça, não sou ambiciosa a esse ponto, não gosto de apostas e não tenho de provar nada a ninguém a não ser a mim mesma.
– Aos 29 anos, já conduziu vários programas na televisão portuguesa. O que quer fazer mais, o que lhe falta?
– Tanta coisa… Por exemplo, olho para a
Grande Entrevista e vejo a
Judite Sousa a fazer um trabalho interessante. Do ponto de vista do entretenimento e do jornalismo ainda há muito a explorar e por onde crescer. Acho que esta
OT foi um marco, estava mais entregue ao projeto e a viver mais o espetáculo em si e muito mais envolvida. E gostei dessa sensação. Acho que abri aqui uma porta nova e a partir de agora vai ser assim. A trabalhar ainda mais. Há já algum tempo que gosto de me envolver ao nível do guionismo e da formatação e desenvolvimento de conteúdos, faço sempre as minhas sugestões. Não quer dizer que elas vão para a frente, porque sou só a apresentadora, mas de futuro gostaria de poder fazer as duas coisas, poderá ser um bom caminho.
– Como fica quando lhe passam um projeto para as mãos?
– Cheia de adrenalina. Fico um pouco como se me esquecesse do resto. Por exemplo, a final da
OT foi trabalhada com duas noites de antecedência e pela noite fora. Fico concentrada naquilo que estou a fazer e não vejo muito mais à volta. Desligo-me um bocadinho do mundo. Lembro-me perfeitamente de ter dito à minha mãe e à minha irmã, que reivindicavam a minha presença:
"Aguentem e reservem esse pensamento para a próxima semana. Nesta semana não há hipótese, não consigo dividir-me mais." Para fazer bem tinha que me focar naquilo que estava a fazer.
– O que se segue agora?
– O
Festival da Canção. Depois, não sei. Entretanto vou de férias, e depois logo se vê. Já perguntei ao
José Fragoso, ele sabe que eu sofro de ansiedade… Estou disponível para qualquer coisa. Sou uma corredora de fundo, não pararia agora, porque não gosto de parar. Depois deste ritmo de cinco meses e com a adrenalina como está, trabalharia mais quatro ou cinco meses.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.