Aos 44 anos,
Ana Mesquita não tem pudor em admitir que se acha uma mulher muito mais atraente e bonita agora do que há dez anos. Contudo, esta beleza que vê no espelho é muito mais reflexo da sua personalidade e da sua experiência de vida do que da sua aparência, apesar de dizer, com orgulho:
"Sou vaidosa!" Muito ligada à arte, Ana encontrou no mundo da moda o seu
habitat natural e é nesta área que está a desenvolver novos projetos, como a criação de uma pós-graduação em gestão de moda e um blogue. Se profissionalmente a jornalista, cara portuguesa do Fashion TV, é uma pessoa realizada, o mesmo se pode dizer em relação à sua vida pessoal. Casada há pouco mais de um ano com o músico
João Gil, com quem está há cerca de quatro anos e meio, e mãe de
Vicente, de dez, nascido de uma anterior relação, Ana é uma mulher para quem os afetos são a grande prioridade na vida. Durante uma produção no Lx Boutique Hotel, em Lisboa, falou com a CARAS sobre a mulher que vê no espelho todos os dias.
– Sempre soube que queria trabalhar na área da moda?
Ana Mesquita – Nasci numa família em que tinha um bisavô escultor e uma avó pintora, jornalista, uma mulher muito ligada às artes, e nós herdámos esse espólio. O meu irmão,
Ricardo, é
designer e pintor, a minha irmã,
Maria, é decoradora, e eu fui a que fiz mais a vontade à minha mãe, que é advogada e perguntava:
"Mas quem é que vai herdar os meus livros?" [risos] Mas mesmo assim sempre puxei muito para a estética e para o desenho. Em 93 comecei a escrever sobre moda no jornal
Expresso e continuei sempre ligada a esta área. Também tirei o curso de Design de Moda.
– E agora até tem novos desafios profissionais…
– O ISCTE convidou-me para criar um curso de Gestão de Moda, uma pós-graduação, e é o primeiro nesta área. Começa no próximo ano letivo e vamos falar de como criar uma marca, geri-la, promovê-la… E também criei esta semana um blogue, que se chama
Fashion for fun, com a equipa com quem já fazia a revista da Lanidor e à qual acrescentámos uma cineasta. Queremos que seja um lugar despretensioso, mas viciante. E os assuntos vão ser provocadores, porque nada funciona sem um pouco de provocação. Gostava que as pessoas sentissem o coração a bater neste blogue.
– Precisa de viver emoções fortes?
– Ai preciso, preciso! Preciso de mudança, de estímulo intelectual… De facto, a minha vida não é rotineira, porque tenho sempre imensas coisas para fazer.
– E quais são as suas principais qualidades e defeitos?
– Não sei… Sou uma movimentadora de pessoas, de desafios… Gosto de fazer crescer as coisas, sejam os afetos, as relações ou os projetos. Sou uma pessoa de fidelidades, de criar amigos e mantê-los. Sou seleta nas pessoas que estão na minha vida, porque é nessa seleção que se ganha. Sou exigente e não me contento com pouco. Em cada momento temos de dar sempre o melhor, nós e os outros. Não sou uma pessoa possessiva em relação aos meus e até acho que dou imenso espaço a toda a gente, mas gosto de que os afetos estejam ao mesmo nível. Se dou, também quero receber. A entrega tem de estar no mesmo patamar.
– E talvez o papel mais exigente que tenha na sua vida seja o de mãe…
– Sim, porque isso tem a ver com a essência de ser mãe, com o ter dado à luz, de ter um ser que nasceu de dentro de mim, que alimentei, que fiz crescer, que eduquei, e que um dia se transformará numa pessoa que é a continuidade de mim.
– Vê o seu filho como uma continuidade de si?
– Claro! Ele será o que quiser ser, mas inevitavelmente há um espelho.
– Ter mais filhos faz parte dos seus planos?
– [risos] Já fez, agora já não. Sinto-me realizada com o Vicente e com o
Rafael, que é o filho do João e que vai fazer 19 anos.
– Como é que tem sido esta relação a quatro, sendo a Ana a única mulher?
– Muito boa e sinto-me à vontade nesse universo predominantemente masculino. Acho que não me torno chata.
– Como é que tem sido o encontro entre o mundo da moda e o da música?
– É bom… Foi um encontro feliz que o João proporcionou. Ele teve a audácia de me conquistar. Primeiro foi ele que me conquistou, depois fui eu. A vida é como um tango, às vezes dobras tu, outras dobro eu. O João é uma pessoa de família, que adora tocar e que compõe daquela maneira absolutamente única. É um prazer estar por perto.
– E já há rotinas na vossa relação?
– Não. Não há mesmo. E se Deus quiser vai continuar assim. Na nossa relação é tudo romântico… Somos duas pessoas que se estimulam a nível intelectual e não nos damos por garantidos. Não sendo possessiva, também não dou nada por adquirido. As relações são uma constante atenção de estímulo, de dádiva…
– Pela maneira como fala, parecem ser duas pessoas muito parecidas…
– Temos uma cultura parecida, tanto a nível familiar como social. Os bons casamentos duram quando as pessoas se entendem de cabeça. Temos de procurar bons conversadores, ao lado de quem podemos envelhecer. Bons conversadores que também saibam estar, de vez em quando, em silêncio.
– O casamento mudou alguma coisa na vossa relação?
– Não. Não são os papéis que mudam as coisas.
– Normalmente, quem trabalha na área da moda dá muita importância à estética e à beleza. Qual é a relação que tem com a sua própria imagem?
– Sou vaidosa, e claro que me preocupo com o que as pessoas pensam sobre mim. No mínimo, seria sonso da minha parte dizer que não. E claro que fico contente com o resultado e com o facto de as pessoas gostarem de me ver. É uma forma de gerirmos a nossa presença no mundo.
– Não receia ser encarada como uma pessoa fútil?
– Não. Isso é-me completamente indiferente. O que os outros julgam de nós depende daquilo que fazemos e eu tenho consciência daquilo que faço.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.