Do papel de embaixadora da UNFPA (Fundo das Nações Unidas para a População) ao de apresentadora da RTP ou atriz, Catarina Furtado prova, aos 39 anos, que é possível conciliar uma vida profissional ativa e polivalente com a de uma mãe dedicada e atenta à família e ainda conseguir manter a imagem elegante que a caracteriza. A apresentadora da RTP, que se prepara para estrear o programa A Voz de Portugal, apresentou recentemente a gala das Sete Maravilhas da Gastronomia, em Santarém, dias depois de regressar do Haiti e uma semana antes de voar para Moçambique, países onde gravou novos episódios de Príncipes do Nada. Pelo meio dedica todo o tempo que pode ao marido, o ator João Reis, aos filhos, Maria Beatriz, de cinco anos, e João Maria, de três, e aos enteados, Maria, de 14 anos, e Francisco, de nove.
– Esteve dez dias no Haiti, e gravou cinco programas. Foi um ritmo de trabalho intenso…
Catarina Furtado – Foi muito intenso por vários motivos: a dureza do que vi, o calor e a humidade que não facilitam o trabalho, o facto de a maior parte da população apenas falar o crioulo e a necessidade de fazer o máximo durante o tempo que tinha disponível para a viagem. Perante uma realidade tão chocante e um povo cansado de sofrer, mas mantendo sempre a sua dignidade, foi reconfortante poder ainda ver no último dia a beleza natural deste país, que merecia mesmo uma oportunidade.
– Desta vez um país onde não são tão notórias as influências portuguesas…
– Era importante para nós, nesta 3.ª série de Príncipes do Nada, mostrarmos outras realidades para além das dos países de expressão portuguesa, para se sublinhar que de facto não são apenas estes países, com quem temos responsabilidades históricas, que atravessam tantas dificuldades e que ainda têm um longo caminho até conseguirem atingir as metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio instituídas pela ONU e que, resumidamente, visam erradicar a extrema pobreza até 2015. Logo a seguir ao terramoto de 12 de janeiro de 2010, fiquei com muita vontade de visitar o Haiti para fazer um levantamento das necessidades. Era importante fazer histórias sobre Ajuda de Emergência para a diferenciar da ajuda ao desenvolvimento.
– O que encontrou?
– Encontrei um país que ainda não está refeito do terrível terramoto. As pessoas passam fome, sede e o desemprego é gritante. A instabilidade condiciona o país e o haitianos continuam a confiar em Deus porque, como eles próprios me disseram diversas vezes, “não temos mais nada”. É chocante ver as crianças que já não tinham quase nada a viverem, há um ano e meio, em tendas com mais oito, nove pessoas sem quase comerem e sem terem um único brinquedo.
– Já consegue lidar melhor com os problemas e pedidos de ajuda, tendo em conta que, apesar da vontade, não tem como ajudar toda a gente?
– É sempre muito frustrante porque em cada país que visito encontro sempre gente extraordinária que apenas precisaria de uma mão para poder endireitar a vida e claro que também encontro sofrimento permanente. Ponho-me a pensar como seria a minha ou as nossas vidas se vivêssemos naquelas circunstâncias. Hoje em dia já estou mais habituada a fazer as minhas opções de ajuda porque sei que saio de uma história dramática e encontro logo outra a seguir, mas sabemos, eu, o produtor e realizador Ricardo Freitas e o repórter de imagem Hugo Gonçalves, que este é o nosso dever, a nossa missão: divulgar e tornar os espetadores cúmplices para se poderem também comprometer.
– O facto de ser mãe deixa-a mais sensível aos problemas destas mulheres e crianças?
– O facto de ser uma mãe muito feliz, de ter tido duas gravidezes acompanhadas, dois partos seguros e assistidos por técnicos especializados, dois filhos com todas as oportunidades, o facto de poder recorrer a serviços de saúde e de planeamento familiar, de ter um marido que se envolve em todas as questões e que me permite fazer, no meu trabalho, aquilo que acho que devo fazer, faz-me, obviamente, pensar em todas as mulheres e crianças que não usufruem destes direitos humanos. E como vou conhecendo muitas, cara a cara, é muito mais duro ainda de aceitar.
– Os seus filhos já têm noção do trabalho que faz? Sei que tenta estimular-lhes esse espírito de solidariedade…
– Não têm muito bem noção. Com três e cinco anos ainda é muito cedo para percebem mas sabem sempre que, nestas viagens, me vou encontrar com adultos e crianças que não têm nada do que nós temos e por isso já começam a perceber o que é o espírito de solidariedade. Os meus enteados, o Francisco e a Maria, são mais crescidos e já estão muito mais atentos. A eles faço questão de lhes contar muitos mais pormenores. Acredito que uma boa educação passa por transmitir estes valores, mas não de uma forma paternalista. Cada um deles, espero, há de encontrar o seu caminho para tentar ajudar o mundo a ficar mais equilibrado.
– Nestas viagens, trabalha de perto com mulheres grávidas. Isso fá-la pensar numa terceira gravidez, na vontade de ter mais um filho, ou, pelo contrário, sente que está completa a família?
– Por enquanto sinto-me bastante realizada e não penso tão cedo em ter mais filhos. Apenas tenho de ser muitíssimo organizada para poder estar em todo o lado ao mesmo tempo. Não é fácil dar toda a atenção que os meus filhos e enteados precisam, fazer um programa com estas características práticas e psicológicas, preparar um outro de grande entretenimento, A Voz de Portugal, e ainda sobrar tempo para o meu trabalho enquanto embaixadora do UNFPA. Não é fácil, mas consegue-se, com a ajuda de pessoas preciosas.
– O João continua a ser um apoio fundamental para que consiga continuar a realizar este trabalho?
– Imprescindível!
– Sente-se mais realizada cada vez que regressa a Portugal?
– Sinto que não poderei nunca não dar o meu melhor (apesar de todo o cansaço) porque o que mostramos é para mim prioritário, tem um sentido e traz resultados práticos. Claro que me sinto muito realizada, mas com muito ainda por fazer.
– Entretanto, vai apresentar um novo concurso…
– A Voz de Portugal vai ser um grande formato e obrigar-me-á a encontrar mais um registo. Acredito que traz diferenças determinantes em relação a outros formatos musicais: os candidatos numa primeira fase são escolhidos apenas pela voz, poderão depois escolher o mentor com quem querem trabalhar e podem seguir os seus estilos. Portanto, serei uma companheira dos candidatos.
– Qual o segredo para o sucesso em áreas tão distintas?
– Gosto de me atirar de cabeça para os projetos em que acredito, com os quais me identifico e com as pessoas que admiro. Gosto muito de trabalhar e de trabalhar em equipa. Tenho pessoas essenciais à minha volta – os meus pais, o meu marido, e a minha equipa de sempre – que me ajudam a tornar as coisas um bocadinho mais fáceis. Gosto de juntar pessoas com talentos que não se conhecem e que depois resultam em projetos muito interessantes. Não gosto de me expor para além do que acho aceitável para o meu trabalho, porque não sinto necessidade nenhuma, e isso faz-me andar muito bem e feliz.
– E se lhe pedisse para eleger sete maravilhas da sua vida?
– Para já, o próprio número sete é o meu número da sorte, como se costuma dizer. Casei-me no dia 7 do sete de 2005, que faz sete também [risos]. Foi tudo pensado. As sete maravilhas… os meus filhos fazem logo duas, a minha mãe, o meu pai, a minha irmã, evidentemente, o meu marido… e o meu trabalho.
– Essa superstição, se assim se pode chamar, tem corrido muito bem. Tem um casamento feliz?
– Muito mesmo. E ter apresentado a gala em Santarém fez-me lembrar essa noite muito feliz, que aconteceu naquela região.
– Falamos de maravilhas da gastronomia… quem cozinha lá em casa?
– É o João, eu não sei cozinhar. A única vez que realmente tentei foi quando estive três anos em Londres, mas vivia com uma amiga que sabia cozinhar e por isso perdi de novo a oportunidade. Quando ela não estava, fazia arroz branco com qualquer coisa básica. É preciso paciência e tempo para cozinhar e eu não consigo concentrar-me nisso. Dedico-me mais ao meu trabalho e a outros assuntos. E mesmo aquela coisa de a cozinha servir para espairecer, para mim isso acontece com os meus filhos, que me ocupam todo o tempo.
– Sei que não é uma pessoa de dietas… Qual o segredo para manter a boa forma?
– É ser disciplinada e pensar sempre duas vezes antes de cair na tentação. Todos temos um pouco de gula, as pessoas que são saudáveis e trabalham energicamente têm mais apetite, e é o meu caso. Mas sou muito regrada a comer. Como de tudo, mas em quantidades controladas e várias vezes ao dia, pois nunca se deve estar mais de três horas sem comer. Não bebo às refeições, para não encher o estômago, mas bebo muito fora, sobretudo água, e não como sobremesa. Não sou mesmo uma mulher de dietas, não consigo.
Catarina Furtado revela: “Não sou uma mulher de dietas”
Aos 39 anos, a atriz, apresentadora e embaixadora da ONU concilia tudo isso com a família e não descura a imagem.
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