Chegou à Casa da Cerca, em Almada, de calças de ganga, T-shirt, sabrinas e um descontraído ar de miúda. Depois de maquilhada e produzida, Catarina Wallenstein, de 25 anos, transformou-se numa mulher sexy de olhar forte e profundo. “Acho que foram as tintas na cara”, diz a atriz, em tom de brincadeira. “Estava cansada, mas vestiram-me estes vestidos e maquilharam-me e não sei o que aconteceu! Fiz o que me pediam, mas senti-me bem”, confessa.
Apesar de ser jovem, Catarina tem um percurso diversificado tendo trabalhado em teatro, cinema e televisão. Um percurso que lhe valeu o Globo de Ouro de Melhor Atriz o ano passado e do qual se revela “muito orgulhosa”.
O contacto que teve desde criança com as artes fê-la apaixonar-se pelo mundo do espetáculo. O pai é músico, a mãe é cantora lírica e o seu sonho de menina era seguir as pisadas da mãe. Mas depois de ter feito a peça de teatro O Equívoco, de Albert Camus, na escola, sentiu que aquela tinha sido “uma experiência muito enriquecedora e fascinante”. Seguiu-se a entrada na Escola Superior de Teatro e Cinema. Aliás, o gene da representação também corre na família, pois o avô, Carlos Wallenstein, era ator, tal como o seu tio José Wallenstein.
Foi a propósito da sua nova peça, Não se Brinca com o Amor, que estará em cena no Teatro da Politécnica de 19 de outubro a 19 de novembro, que a CARAS conversou com Catarina.
– Fale-nos sobre esta peça e a sua personagem, Camille…
Catarina – Esta é uma história sobre o amor jovem e sobre a inconsequência dos jogos de sedução e das brincadeiras de poder que existem nas relações de dois miúdos a tentarem ser muito adultos, mas que acaba por correr mal. A minha personagem é uma rapariga que tem muito medo de sofrer. Ela acha muito gira essa história do amor, mas também acha que se calhar não é para ela. Ela foge de qualquer contacto amoroso por ter medo de sofrer. Aliás, uma das frases da peça é: “Eu quero amar, mas não quero sofrer.”
– A Catarina também é assim ou não tem medo de se entregar?
– Na vida temos de cair para aprender a an-dar. E para viver temos de dar uns tropeções, e eu não tenho muito medo de arriscar. Dou valentes cabeçadas, mas depois levanto-me e continuo.
– Como lida com esses tropeções?
– São coisas que fazem parte da vida e, por isso, não vale a pena ter muito medo nem pena de mim. Eu não acredito em culpa, mas acredito em causas e consequências. As pessoas vivem, fazem coisas e depois têm de lidar com as consequências. Quer elas existam ou não, quer sejam boas ou más. Mas não é algo pesado nem moralista, é mesmo assim. Não tenho muito medo dessas situações, talvez devesse ter, mas não tenho.
– Tem tido muitos tropeções na sua vida?
– Acho que não, talvez por isso seja fácil falar assim! Tenho tido alguns, mas como já disse, isso faz parte da vida. Tenho vivido e, por isso, tenho tido os tropeções naturais de alguém que não está numa redoma.
– Já teve desgostos de amor?
– Quem não teve?
– Chegou com ar de miúda e transformou-se numa mulher sexy. Sente-se sexy?
– Tenho dias! Mas nestas produções nunca quero ficar muito arranjadinha, porque me sinto espartilhada. Eu e as minhas sabrinas, T-shirts e calças de ganga somos muito felizes! Claro que nas ocasiões especiais gosto de me arranjar, mas no dia-a-dia tenho de estar confortável e fico muito mais bem disposta por isso.
– Lida bem com a sua imagem?
– Não lido mal, mas não sou obsessiva. Que-ro é ser feliz e petiscar, que é o que eu gosto! Com queijos, enchidos e vinhos sou muito feliz. Comer e dormir é muito bom! Claro que tenho a noção de que o meu trabalho implica alguns cuidados com a imagem, mas faz-me confusão a ditadura da imagem que existe hoje em dia. Acho que o ideal de magreza é exageradíssimo, e o de mulher bonita muito redutor. Este mundo da estética da mulher é pouco amplo e muito estereotipado.
– Gosta de pensar no futuro ou vive mais no presente?
– Lido bem com as coisas que me vão acontecendo, mas não tenho uma meta es-pecífica. Espero que me aconteçam coisas boas e vou trabalhando para isso. Claro que tenho objetivos remotos, gostava que a internacionalização se realizasse, por exemplo. E, em traços gerais, gostava de ter uma carreira sólida e uma família. Gostava de conseguir conciliar as duas coisas.
– Prefere o teatro, a televisão ou o cinema?
– Cada uma dessas áreas tem o seu encanto e as suas dificuldades. Sinto-me mais à vontade em cinema, porque é o que tenho feito mais, e sinto-me menos à vontade em televisão porque não me agrada a exposição excessiva que vem com o trabalho. Eu entendo a curiosidade do público sobre as pessoas que lhes entram pela casa quase todos os dias durante vários meses, mas não sou nem melhor nem pior atriz por dar a conhecer muito da minha vida privada. E acho que as pessoas não vão gostar mais ou menos do meu trabalho, ou de mim, se souberem onde moro ou se vou de férias ou com quem. Ser ator não é ser super conhecido. Além disso, não sei como conseguia fazer uma personagem consistente e coerente durante oito meses com tantas cenas por dia, a um ritmo incrível e com tanta pressão. Deve criar um músculo incrível e acho que é uma experiência pela qual eu deveria passar um dia. Mas para já assusta-me. No teatro é um abismo ao contrário, de muito espaço e tempo para criar as personagens, falhar, cair e fazer de novo. Estou sempre a trabalhar para saber como vou fazer a minha personagem crescer sempre e lidar com os meus erros e falhanços.
– É muito crítica consigo?
– Sim, muito! Mas não vivo atormentada com isso. Consigo ver um filme meu com alguma tranquilidade. Percebo o que faria di-ferente se fosse hoje, mas também vejo outras cenas em que fico orgulhosa, pois era assim que eu as queria fazer. Mas procuro sempre perceber como posso ser melhor.
Catarina Wallenstein: “Para viver temos de dar uns tropeções e eu não tenho muito medo de arriscar”
Vinda de uma família de músicos e atores, diz, no entanto, que o nome Wallenstein não lhe abriu nem fechou portas.