Quando, em 1941,
subiu pela primeira vez ao palco, integrada no elenco de Vendaval, de Virgínia
Vitorino, numa produção da companhia Rey Colaço/Robles Monteiro, então
residente no Teatro Nacional D. Maria II, Eunice Muñoz não podia supor
que o sonho de ser atriz se tornaria a realidade de toda a sua vida. Mas aos 83
anos continua a subir ao palco e, no último dia 28, assinalou nele os seus 70
anos de carreira, com a estreia da comédia Cerco a Leningrado no
auditório com o seu nome, em Oeiras (numa encenação de Celso Cleto).
Horas antes, tinha recebido de Aníbal Cavaco Silva, numa cerimónia
realizada no Palácio de Belém, a sua terceira ordem honorífica, a Grã-Cruz da
Ordem do Infante D. Henrique. “Esta condecoração é importante, porque
representa o reconhecimento do meu trabalho, e, neste caso, o reconhecimento do
país, uma vez que é entregue pelo Presidente da República. Por muito modesta
que eu seja, e sempre foi essa minha postura, honra-me muito, até porque a
partir de determinado momento fiz papéis que me exigiram muito trabalho”,
confidenciou a atriz à CARAS.
Enumerar os seus trabalhos, quer no teatro quer no cinema e na televisão, é
quase impossível. Mesmo assim, quando lhe pedimos para destacar algum dos seus
trabalhos, referiu a penúltima peça que fez, para o Teatro Experimental de
Cascais, O Comboio da Madrugada, de Tennessee Williams, numa encenação de Carlos
Avillez.
A nível pessoal, Eunice viveu de forma igualmente intensa: “Os meus amores
sempre foram intensos. A primeira vez que me casei tinha 18 anos, foi muito
cedo, mas tinha aquela ideia de que com o casamento conseguiria liberdade.
Nasceu a minha filha Susana”, recorda. Terminado o casamento com Rui
Couto, uniu a sua vida ao empresário Ernesto Borges, pai de Joana,
António, Pedro e Maria. Bara nasce do terceiro
casamento, com António Baraona. “Depois de me separar do meu segundo
marido, foi complicado. Profissionalmente estava bem, estava à frente da
Companhia de Comediantes, mas a nível sentimental estava mal, por causa da
separação. Resolvemos não separar os filhos e o meu ex-marido partiu para
Angola com os quatro filhos. Foi muito doloroso. A Susana é que ficou sempre
comigo”, recorda a atriz, que tem hoje oito netos (entre os quais Lídia,
que lhe segue as pisadas, tendo-se estreado a seu lado em O Comboio da
Madrugada), e quatro bisnetos.
Um percurso preenchido a todos os níveis, mas que nunca lhe permitiu deixar de
ser uma mulher inquieta: “A minha vida foi sempre vivida com uma certa
inquietação. Inquietação pelos filhos – até à hora da nossa morte, a
inquietação faz parte da maternidade –, inquietação pela profissão, que sempre
foi muito insegura, tive mesmo momentos difíceis materialmente falando… E continuo inquieta até Deus me
chamar.”
Eunice Muñoz, atriz há 70 anos: “Serei inquieta até Deus me chamar”
A atriz estreou-se em teatro há precisamente 70 anos, com a peça ‘Vendaval’, no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.
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