A ligação de Isabel Megre de Sousa Coutinho à Associação
Novo Futuro começou há nove anos, quando se tornou madrinha das crianças da
casa do Estoril. Mas a sua vontade e empenho em querer ajudar mais e mais fez
com que se entregasse de corpo e alma, e a tempo inteiro, a esta causa. Hoje é
a presidente da instituição e luta todos os dias para conseguir fundos e
condições para abrir novos lares que recebam crianças que, por vários motivos,
não têm quem tome conta delas.
– Como se envolveu com esta associação?
Isabel M. de Sousa Coutinho – Toda a vida trabalhei, mas a dada altura deixei
de ter emprego, reformei-me. Como sempre fui muito ativa, não me conformei em
ficar em casa sem nada para fazer. Então, uma amiga, a Maria João Salgado,
que já fazia parte da associação, perguntou-me se não queria ser voluntária.
Aceitei logo, e comecei por ser madrinha da casa do Estoril. A madrinha é mais
uma figura de afeto, que dá colo aos meninos, que vai à casa uma ou duas vezes
por semana para saber se está tudo bem, para estar com eles, ouvi-los, transmitir-lhes
valores.
– Mas não lhe bastou ser apenas madrinha…
– Não. Senti necessidade de me entregar mais a esta causa. É difícil não o
fazermos. Vamos conhecendo as crianças e achamos que podemos fazer sempre mais
para as tirar da vida complicada que sempre tiveram. E vamo-nos
embrenhando cada vez mais e mais… É mesmo por amor às crianças que fazemos
isto, porque há muitos contratempos e problemas. Mas basta pensar nelas para
ganhar forças e andar para a frente e fazer face a todos os obstáculos, que são
mesmo muitos.
– É preciso ter sangue-frio para lidar com a dura realidade destas crianças,
não é?
– Às vezes é muito complicado, porque nos envolvemos afetivamente com elas
e é difícil desligarmos e não sentirmos os seus problemas. Contudo, tinha um
contacto mais próximo com as crianças quando era madrinha. Na altura, dava-lhes
explicações de Matemática, ajudava-as a estudar e elas falavam comigo,
contavam-me os seus problemas. Ainda hoje mantenho contacto com muitas dessas
crianças e as que ainda estão na casa telefonam-me e convidam-me para as festas
de aniversário, Natal… As que já saíram, de vez em quando ligam-me a contar
as suas coisas, pedem-me conselhos. E isso é muito bom. Para elas, fazemos
sempre parte da sua família, somos a sua família.
– Nunca sentiu vontade de acolher uma em sua casa?
– Não devemos envolver-nos a esse ponto. É muito difícil estabelecermos
esse equilíbrio, entre o que se deve e não deve fazer. E muitas vezes temos
tendência para lhes dar muitas coisas para as compensar, o que também não se
deve. Mas há as chamadas famílias amigas, essas sim, que as levam aos fins de
semana e nas férias.
– Mas deve ser complicado não levar os problemas destas crianças para casa?
– Isso é! Estamos constantemente a pensar nas crianças, em como resolver os
problemas delas, que são sempre muito delicados e complicados. Muitas vezes,
quando surgem problemas, acabo por ir triste para casa. Porque é em casa que
nos cai a armadura que temos de ter quando estamos na associação. Mas uma coisa
muito importante é que sentimos que, de uma maneira geral, elas são felizes na
associação. Lá aprendem e são formadas de uma maneira que as prepara melhor
para a vida.
– A sua família também se envolve no trabalho da associação?
– Tenho três filhos e dez netos. Os netos ainda são muito pequeninos, por
isso acho que ainda não têm bem consciência do que é o trabalho da avó na
associação, mas os meus filhos são sócios, envolvem-se e, por vezes, ajudam-me
a angariar produtos.
– Olhando para os seus filhos, que tiveram uma boa infância, e olhando depois
para estas crianças, há um choque muito grande…
– Há, sobretudo nesta sociedade em que vivemos – ou em que vivíamos –, em
que toda a gente tinha aceso a tudo. Há uma grande diferença, embora as
crianças da associação por vezes tenham coisas materiais que nem precisam de
ter, sobretudo porque não compensam o que lhe faltou sempre: afeto e carinho.
– E conseguiu que os seus filhos soubessem dar valor à educação e ao amor que
lhes deu?
– Acho que sim, que eles sabem dar o valor. Eu não conto muito em casa o
que se passa aqui na associação, mas eles vão-se apercebendo, até porque me vêm
às vezes mais preocupada. E sim, eles têm de dar valor àquilo que tiveram. E
dão.
– É difícil convencer as pessoas a ajudar?
– Nem por isso. Em relação às empresas, temos é de estar sempre a pedir,
porque aquilo que a Segurança Social nos dá não chega, cobre cerca de 40 por
cento dos custos, e não é de todas as casas. Mas sim, as pessoas são muito
solidárias, o exemplo disso foi o concerto que organizámos no passado dia 10 no
Campo Pequeno, que teve ajuda de muita gente, desde a empresa Música no
Coração, que montou o espetáculo para nós, ao Campo Pequeno, que cedeu a sala,
aos artistas, que participaram voluntariamente, à imprensa, que divulgou… E
só assim, com a ajuda de todos, é que conseguimos.
– E os seus amigos, é difícil convencê-los a ajudar?
– As minhas amigas às vezes perguntam-me por que é que eu, que trabalhei
tanto durante toda a vida, não estou agora em casa ou a passear. Mas eu não
tenho feitio para isso. Se posso ajudar os outros, por que não fazê-lo? E de
tanto nos ouvirem falar, a pouco e pouco algumas pessoas amigas também se vão
envolvendo.
Isabel Megre de Sousa Coutinho, uma mulher que dedica a vida a ajudar crianças em risco
Há nove anos que começou a ajudar a Associação Novo Futuro, da qual hoje é presidente.
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