Há sete anos que
Catarina Furtado partilha com os colegas do programa da RTP, Príncipes
do Nada – o realizador e produtor Ricardo Freitas e o repórter de
imagem Hugo Gonçalves –, experiências, muito intensas quer do ponto de
vista físico quer do ponto de vista psicológico. Desta vez, a viagem teve como
destino a Índia, “um país que é um mundo, com cerca de 18 línguas oficiais e
1600 dialetos, e em que a condição da mulher é ainda o problema que mais choca
quando nos debruçamos nas estatísticas e falamos com as pessoas nos locais onde
vivem”, começa por dizer a autora e responsável pelas reportagens. Durante
dez dias, a embaixadora do Fundo das Nações Unidas para a População conheceu
algumas das realidades sociais que afetam o país e ficou impressionada com o
número de meninas que a ONU afirma terem morrido por negligência das famílias.
Ou que não chegaram sequer a nascer “São 40 milhões. Chegam a ocorrer cerca
de 7000 feticídios femininos por dia. Apesar de o governo indiano e das ONG
estarem a tentar travar esta realidade, o nascimento de uma menina é ainda um
fardo para grande parte das famílias indianas. Porque persiste a sociedade de
castas e o ritual de entrega de um dote por parte da família da noiva à família
do noivo, entre muitos outros aspetos que remetem a menina e mulher para um
terceiro plano de oportunidades e poder de decisão.”
Nesta viagem, que teve início em Nova Deli, Catarina Furtado e a sua equipa
visitaram um projeto da ONG People to People numa favela com crianças
trabalhadoras filhas de sem-abrigo: “Uma voluntária portuguesa, Márcia,
mostrou-nos as condições terríveis de pobreza extrema e falta de acesso a
cuidados de saúde, higiene e educação destas cerca de 1500 pessoas.”
A apresentadora de televisão percorreu muito do interior da Índia, onde “se
acredita que vivam 75% dos pobres do país”. Assistiu, também, ao
trabalho do Life Line Express, “o único comboio-hospital do mundo que
atravessa o país, e que oferece cirurgias e tratamentos gratuitos aos mais
desfavorecidos”. Catarina emocionou-se com “a forma comovente como as
Irmãs Franciscanas Hospitaleiras dão acolhimento a cerca de 400 meninas que
viviam em condições de vulnerabilidade e risco social” e realçou “o
trabalho feito junto das comunidades locais sobre a saúde reprodutiva e a
necessidade de envolver o homem nas mudanças de comportamentos que dizem
respeito à violação dos direitos das mulheres, ainda tão ignorados. A maioria
desses comportamentos são impensáveis no século em que vivemos!”
Catarina Furtado chama ainda a atenção para o facto de a Índia, um país com 1,2
mil milhões de pessoas, ser “um lugar místico, que atrai, mas onde é
demasiado visível e chocante o contraste entre os 13% de ricos e os 410 milhões
de pobres”. “Sendo um dos países emergentes, é importante colocar as questões
da discriminação da mulher na ordem do dia”, concluiu.
Catarina Furtado: Emoção e consternação durante viagem à Índia
“Um lugar místico, que atrai, mas onde é demasiado visível e chocante o contraste entre os 13% de ricos e os 410 milhões de pobres”. É desta forma que a apresentadora da RTP define o país.