Foi no dia 24 de abril que morreu Miguel Portas, na sequência de um cancro do pulmão. Um mês depois, a mãe, Helena Sacadura Cabral, apresentou o livro Aquilo em que Eu Acredito, na Fnac do Chiado, no qual fala dos valores, atitudes, sentimentos e lições inspiradoras que tem tido ao longo da vida e que nunca a fizeram deixar de sorrir e dizer o que pensa. “Há muito tempo que eu pensava fazer um livro destes, mas depois surgiam outras coisas e fui adiando, até que chegou uma altura em que decidi que não adiaria mais. Este livro é um produto de dois anos de coisas que fui fazendo avulso e de textos que acabei por reescrever”, explicou a escritora.
Sempre rodeada pelos amigos, que fizeram questão de estar presentes neste dia, a escritora e economista falou emocionada da forma como tem encarado as saudades que sente do filho mais velho: “Tenho lidado com isso com dificuldade, vivo um dia de cada vez, tentando fazer aquilo que ele gostaria que eu fizesse, ou seja, trabalhar, continuar a minha vida, tratar dos vivos, dos netos e do outro filho. Faço aquilo que faz qualquer mãe que perde um filho. Há casos muito piores do que o meu, já que ainda gozei de um filho durante 50 e tal anos.”
Agradecida pelo apoio que tem recebido de todos os que a rodeiam, nesta fase mais triste da sua vida, a escritora garante ainda que a sua força tem de ser inabalável para conseguir ajudar a sua família, em especial, o filho Paulo Portas e os netos, André, de 18 anos, e Frederico, de 15, filhos de Miguel, a superar esta dor. “Não me posso dar ao luxo de contar muito com os outros, pois neste momento a minha família precisa muito de mim. O Paulo precisa que eu não o preocupe para ter a vida profissional dele sossegada e os netos que estão a acabar o ano em Bruxelas precisam, quando vierem, que eu esteja firme”, explicou Helena, partilhando ainda como vai buscar forças para viver o dia-a-dia: “Vou buscar forças à parte de cima, que me manda uns influxos de boa energia e vitaminas. Sou uma mulher forte e aguento os embates. Não me posso dar ao luxo de perceber se aguento ou não o que se está a passar, pois caso contrário posso desabar. Ninguém tem um precipício à frente e põe-se à beira dele, se não, pode mesmo cair. Com a ajuda das alminhas de cima e do meu pai e da minha mãe, tudo se vai resolvendo. Eles devem estar neste momento bastante satisfeitos a conversar com o neto.”
Escrita maioritariamente durante a doença de Miguel, esta mais recente obra de Helena foi dedicada ao seu pai e aos seus irmãos, estes últimos pilares essenciais durante os últimos meses de vida do filho: “Este livro não é dedicado ao Miguel, pois já o tinha feito noutras alturas, a ele e ao irmão, mas foi escrito durante uma altura muito complicada. Foi sobretudo com o meu irmão mais novo e a minha cunhada que eu partilhei este momento mais difícil. Por isso, foi muito bem dedicado a eles.”
Foi com a simpatia habitual que Helena explicou ainda que não receia ‘represálias’ relativas às opiniões que dá nesta obra: “Não tenho receio de nada e muito menos de dizer o que penso. Se nesta idade tivesse medo de represálias, já estava morta há muito tempo [risos]. Tenho tido represálias dos filhos, pessoais… Tenho medo de outras coisas, mas não disso.”
Helena Sacadura Cabral: “Vivo um dia de cada vez”
Helena Sacadura Cabral
Paulo Jorge Figueiredo
Helena Sacadura Cabral
Paulo Jorge Figueiredo
Um mês depois da morte de Miguel Portas, vítima de cancro no pulmão, a economista apresentou o livro 'Aquilo em que Eu Acredito' e falou da forma como tem lidado com as saudades do filho.