A viver em Abu Dhabi
desde janeiro de 2011, Maria Eduarda Monteiro Grillo, conhecida por
Dadinha Ribeiro da Cunha enquanto esteve casada com o seu segundo marido, José
Maria Ribeiro da Cunha, afirma-se “compenetrada a representar Portugal”.
Ao lado do atual marido, Jaime van Zeller Leitão, embaixador de Portugal
nos Emirados Árabes Unidos, Iraque e Kuwait, Maria Eduarda, que é decoradora de
profissão, foi a anfitriã perfeita do evento Portugal Experience, que decorreu
recentemente na residência dos embaixadores de Portugal no Abu Dhabi. Uma
cidade cuja descoberta a tem apaixonado, o que a ajuda a ultrapassar um pouco
as saudades que tem de Portugal, onde estão as suas três filhas, Mónica,
Marta e Mafalda, e os quatro netos.
– Como é a sua nova vida nos Emirados Árabes?
Maria Eduarda Monteiro Grillo – Nestes países únicos, onde é tudo muito
diferente da nossa maneira de estar, todos os dias aprendo alguma coisa. Mas
morro de saudades de Portugal, choro ao ouvir o hino, choro ao ouvir o fado!
Temos um país extraordinário, em que eu acredito muito. Aqui, estou
compenetrada a representar Portugal, que é um trabalho como outro qualquer, e
um dever de todos os portugueses.
– Que diferenças mais nota na forma de estar?
– O grande desafio é tentar perceber o porquê da vida das mulheres. As mulheres
emiratis são cuscas, malandras, têm jogo de cintura, mas depois aceitam
a tradição e os costumes. E a aceitação da vida é o primeiro passo para a
felicidade. Para quê fazer dramas? No fundo, acho que as mulheres aqui têm
honra de ser diferentes. As mulheres são iguais em todo o mundo, com véu ou sem
véu, com burca ou sem burca.
– Alterou a sua forma de vestir?
– Gosto de respeitar os costumes, e quando fui convidada pela primeira vez para
um casamento, não sabia se havia de pôr uma abaya. Mas depois pensei: eu
sou eu e visto-me à europeia. O contrário seria o mesmo que convidar uma emirati
para um casamento em Portugal e ela aparecer vestida de noiva do Minho. De
forma que nessas ocasiões acabo sempre por ir um pouco freirática, mas ao
chegar verifico que as mulheres estão vestidas com roupas fantásticas!
– Ainda a tratam por Dadinha Ribeiro da Cunha?
– Em Portugal, sim, bastante, apesar de eu já não assumir esse nome. Há tempos,
fui a um supermercado e perguntaram-me na caixa: não é a Dadinha Ribeiro da
Cunha? Respondi que não, que essa era a minha irmã. Foi bom dizer isso, porque
me responderam logo: “Claro que sim, a outra é mais velha. [risos]”
– É conhecida por ser bastante ativa e também o tem sido nos Emirados
Árabes, até como representante das embaixatrizes europeias em eventos
oficiais. O que faz neste campo?
– Aqui não trabalho, o estatuto diplomático não mo permite, mas dou os chamados
conselhos de borla. Faço decorações, pinto para a caridade, também gosto de
cozinhar. Essencialmente, sou uma criativa, se não crio morro, nem que seja ir à
televisão fazer uma demonstração culinária. Sou uma pessoa que não vive só de
sonhos, tenho de concretizar, mesmo que seja a pintar um quadro ou a fazer um
prato. Quando me convidaram a representar as embaixatrizes na reunião do Excom
[Comité Executivo do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados],
disse logo que a minha especialidade era ser organizadora e criativa, que não
me pusessem num computador a mandar e-mails.
– A embaixada de Portugal no Abu Dhabi foi decorada por si?
– Claro que sim. Também na decoração de outras embaixadas dou os tais
conselhos de borla. Perguntam-me onde se pode arranjar o cortinado, a cadeira
ou até o par de sapatos. Em Portugal sou as Páginas Amarelas, e aqui também. Eu
sou uma exploradora, ando a pé, vou aos sítios das vendas dos paquistaneses,
gosto de ver tudo. E aqui há coisas verdadeiramente extraordinárias. Hoje,
posso dizer que já conheço mais do que muitas pessoas que cá vivem há mais
tempo.
– Consegue encontrar coisas portuguesas nos Emirados Árabes?
– Algumas marcas, como a Sacoor e a Salsa, ou a Parfois, que está em todos
os centros comerciais. Mas nós, portugueses, não temos aquele sentido
patriótico de afirmar as marcas como portuguesas. Fomos educados a pensar que o
que é estrangeiro é bom. Eu fiz vários hotéis e sempre privilegiei fornecedores
portugueses. Fiz obras na Alemanha, em vários castelos, e achava que os alemães
eram os melhores do mundo, mas a verdade é que fazem tudo by the book,
não têm a nossa capacidade de trabalho e de dar a volta a situações
inesperadas. Gosto muito de trabalhar com portugueses, somos um povo incrível.
Eu acredito imenso em Portugal!
Maria Eduarda Monteiro Grillo: ‘Em Abu Dhabi todos os dias aprendo alguma coisa’
“Sou uma exploradora (...) Hoje, posso dizer que já conheço mais do que muitas pessoas que vivem cá há mais tempo.”