Seis meses depois de ter removido um cancro do rim, António Sala, de 63 anos, foi operado a um tumor benigno na coluna vertebral, na vértebra C1. A cirurgia realizou-se no dia 8 de agosto, no Hospital CUF Infante Santo, e foi conduzida pelo neurocirurgião Sérgio Livraghi, estando o radialista a ser igualmente acompanhado pelo oncologista Nuno Gil.
Depois de analisada, chegou-se à conclusão que esta lesão na cervical é uma doença extremamente rara – e crónica – que se chama sinovite vilonodular pigmentada.
A recuperar em casa, o radialista e jurado do programa A Tua Cara Não me é Estranha contou à CARAS como tem vivido este período mais delicado, revelando as mudanças que vai ter obrigatoriamente de efetuar no seu dia-a-dia para preservar ao máximo a zona da cervical.
– Como é que descobriu que tinha uma lesão na cervical?
António Sala – Cinco meses depois da operação ao rim, por causa de um tumor maligno, fui fazer exames de rotina para saber se estava tudo bem e detetou-se algo que não estava nos exames anteriores. Era uma lesão na C1, com todo o aspeto de ser um tumor. Foram feitos exames mais pormenorizados e partimos para a remoção do tumor, que esteve a ser analisado entre os dias 8 e 17 de agosto. Foram, naturalmente, dias de angústia. Finalmente, os resultados vieram e percebeu-se que a lesão é benigna e é uma doença rara e crónica. Portanto, vou ter de aprender a viver de outra maneira.
– Acredito que antes de ter a certeza de que era uma lesão benigna tenha ficado assustado com a possibilidade de ter novamente cancro, como há 14 anos [na cabeça] e novamente há seis meses…
– Fiz a minha vida normal, mas foram dias de angústia, de uma ansiedade muito grande, porque uma pessoa não sabe o que tem e na verdade tinha tido um caso de cancro há muito pouco tempo. E num quadro destes, por mais que nos esforcemos para afastar esse tipo de pensamentos da cabeça, é difícil. Sou um leitor compulsivo e nessa altura lia, mas não conseguia fixar nada. Chegava ao fim de duas páginas e não me lembrava do que tinha lido, porque estava completamente desconcentrado. Mesmo à noite, sonhava com o que me estava a acontecer. Quando há um grande ponto de interrogação à nossa frente, vivemos tudo de forma diferente.
– Nesses momentos, vale muito o apoio da família…
– A minha família é fantástica! Tentarem sempre pôr-me bem disposto, puxavam temas de conversa que nada tinham a ver com a doença. E os meus amigos a mesma coisa. E ajudaram-me a ultrapassar tudo!
– O António descobriu que sofre de uma doença muito rara e crónica. Que mais pode adiantar sobre este diagnóstico?
– Não se sabe muito sobre este tumor, porque há poucos casos no mundo e em Portugal não há referência de nenhum caso há mais de uma década. Contudo, não há conhecimento de que o tumor passe da benignidade para a malignidade. Sabe-se que é um tumor lento, que vai destruindo e corroendo o osso. Vamos ver como as coisas evoluem, mas posso ser sujeito a uma nova cirurgia para colocar uns ferros que ajudem a sustentar a cabeça.
– Que cuidados é que vai ter de adotar agora no seu dia-a-dia?
– Posso ter uma vida normalíssima, mas tenho de evitar coisas como fazer mergulho, por exemplo. Se for a um parque de diversões, não posso andar em montanhas russas. Depois, há outros cuidados que tenho de ter em situações diárias. Se estiver dentro do carro, parado num sinal vermelho, e outro carro me bater, pode ser gravíssimo, porque posso partir um osso ou mesmo ficar tetraplégico. Tenho de começar a ter muita atenção com comportamentos normais, que todos nós temos, mas que para mim são potencialmente perigosos.
– Já combateu por duas vezes o cancro e agora sabe que sofre de uma doença rara e crónica. Como é que encara todos estes momentos de debilidade que tem vivido? Vitimiza-se?
– Há 15 anos que sou voluntário no IPO e, portanto, já estou tão habituado a lidar com as adversidades dos outros que quando passo por estes momentos de maior fragilidade nunca penso: ‘Porquê eu?’ O que pergunto é: ‘Porque não eu?!’ Se acontece a tantas pessoas, porque não a mim também? Sou um homem forte e tenho fé, mas também tenho os meus momentos de fraqueza, em que me vou abaixo. De uma maneira geral acredito muito em Deus, tenho uma fé fortíssima e Ele faz com que nunca tenhamos uma cruz maior do que aquela que podemos suportar.
– Acredito que o apoio do público, das pessoas que têm acompanhado a sua carreira, também seja importante nestas alturas…
– É comovente. As pessoas têm deixado à porta de minha casa mensagens de força, de coragem, e nem sequer as conheço! Mas se tentar racionalizar, até percebo o porquê deste apoio… Ao longo da minha vida andei a semear afetos e agora colho esses frutos na altura em que mais preciso [comove-se].
– Sente que, de alguma maneira, é um exemplo para quem passa por situações semelhantes?
– As pessoas que são conhecidas têm sempre uma responsabilidade acrescida em tudo, porque aquilo que dizemos ou fazemos tem influência em quem nos vê e ouve. Se eu disser às pessoas para não desanimarem, para terem força, isso vai ter uma grande influência. Acabo por ter a postura de quem sabe que está a ser observado e, portanto, tento ter sempre uma atitude positiva.
– Quais são os seus planos para os próximos meses?
– Bem, agora em setembro, eu, a minha mulher, o meu filho e a minha nora vamos todos de férias, que estamos mesmo a precisar. Depois, quando regressar, em outubro, vou fazer uma ressonância magnética para fazermos um paralelo de comparação da deterioração do osso e os médicos perceberem o grau de progressão da doença. Nem sequer se sabe se tenho esta doença há muito ou pouco tempo. Podemos perceber que a doença tem uma progressão tão lenta que a minha vida vai continuar na mesma. Caso se perceba que está a progredir rapidamente, terei de ser operado. Mas a Medicina tem evoluído tanto que o que era muito complicado há vários anos hoje já não é. Vamos ser otimistas.
António Sala partilha as emoções de mais uma fase difícil na sua vida
Radialista enfrenta doença crónica.
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