Em 2010, Ana Rocha trocou Lisboa por Londres, onde foi estudar Realização e Cinema. E a troca parece ter dado frutos pois a atriz e realizadora viu, pelo segundo ano consecutivo, uma das suas curtas-metragens exibida numa das mais importantes mostras cinematográficas do mundo: o Festival de Cinema de Cannes. Minha Alma and You esteve em exibição no Short Film Corner do certame e a CARAS falou com a realizadora sobre a experiência.
– Como se sentiu quando soube que o seu filme tinha sido selecionado para Cannes?
Ana Rocha – Achei impossível acontecer-me dois anos seguidos, mas aconteceu e fiquei muito feliz, claro! O Short Film Corner é, como costumo dizer, o melhor cantinho do mundo. Não são os grandes filmes do festival de Cannes em competição, mas é uma mostra de novos talentos, do cinema que se faz no mundo. No fundo, é uma mostra dos cineastas que podem vir a caminho. E é uma honra. Dá-me uma sensação de esperança e reafirmação. Grão a grão, estou a construir o meu caminho e não tenho pressa.
– É estimulante participar neste festival?
– Muito. Ali respira-se cinema e percebe-se o quão difícil é fazer cinema, pela dimensão da competição e pela quantidade de talento que há no mundo. No ano passado, nos primeiros dias, andava meio perdida. Este ano foi mais fácil. Fui a três grandes estreias em competição. Estive na estreia do filme do meu realizador favorito, Hirokazu Kore-eda, e foi inesquecível. Não é todos os dias que se está numa plateia em Cannes a aplaudir uma obra-prima de pé durante 15 minutos. Nem é todos os dias que nos sentamos na mesma plateia que a Sofia Coppola a ver um filme. Não sou nada fascinada com estas coisas, somos todos pessoas, mas refiro porque ali o cinema está no mais pequeno detalhe. Da passadeira vermelha à esplanada do café.
– Conseguiu passear na cidade?
– Sim. Desta vez até ao Mónaco fui. Fui a todo o lado. Devia ter dormido um bocadinho mais, mas deixei isso para depois!
– O que nos pode contar sobre Minha Alma and You?
– É um intenso drama doméstico sobre duas irmãs portuguesas que vivem sozinhas num apartamento de um bairro social em Londres. Esperança (Teresa Tavares), dedica a sua vida a tomar conta da irmã, Alma (Helena Freitas), que é autista. A única ligação ao mundo exterior é Adil, um homem que as assiste socialmente numa missão porta a porta distribuindo comida diariamente. Adil e Esperança desenvolvem uma ligação forte e o amor entre eles chega a um ponto em que Esperança tem de escolher: ou aceita ajuda ou perde Adil. É uma história simples que exige um trabalho imenso por parte dos atores.
– Como correram as filmagens?
– As filmagens decorreram em Londres e foram intensas e difíceis. Tive o privilégio de filmar em película, o que é raro nos dias que correm. E foi uma sensação única dirigir atores portugueses num universo diferente, em que quase toda a equipa era estrangeira. É daqueles filmes que vou lembrar sempre. Em que tanta, mas tanta coisa correu ao contrário. Muitos contratempos, daqueles em que se aprende a sério. Que nos tiram a respiração e em que se acha que “Ai, desta vez não vai dar…” Mas a minha estrelinha nunca me falhou. Tudo o que correu ao contrário acabou por ser transformado numa mais-valia. Aprendi muito.
– Já era amiga da Teresa Tavares?
– Não. Tinha-me cruzado com a Teresa uma ou duas vezes antes, conhecia apenas o trabalho dela. A nossa primeira reunião foi “divina”. Quando falei do guião à Teresa, as lágrimas caíam-lhe. Havia grandes coincidências que eram tocantes. A Teresa aceitou e eu sabia que ela era a minha “Esperança”.
– Terminou o curso em Londres em março. Já se mudou de vez para Portugal?
– Sou uma cidadã do mundo. Apesar de viver fora, nunca saí de Portugal. Tenho o fado em mim. Em tudo o que faço. Mesmo em inglês… É uma espécie de fado inglês. Vou andar pelo mundo. Portugal é a minha casa, o coração, mas ando pelo mundo.
– Agora que está cá, já deu para matar as saudades da família e dos amigos?
– Nunca dá! O tempo não tem sido suficiente, pois tenho estado constantemente a viajar.
– Quais são os seus próximos projetos?
– A minha primeira longa-metragem, que ainda estou a escrever. O meu filme de graduação No Mar, o mais recente, só brevemente começará a ser enviado para festivais. Mas tenho particular interesse em desenvolver documentários. O meu primeiro filme, Laundriness, era um documentário e fez um sucesso invulgar para um simples exercício de escola. Na London Film School o meu documentário é um caso de estudo e até foi ao Japão! Isso deixa-me orgulhosa, claro. São momentos únicos que contarei aos meus filhos.
– Na última entrevista disse que queria crescer a nível profissional, mas também ter uma família. Tem namorado?
– Eu tenho uma família. Grande, enorme e mais que unida. Parecemos uma família italiana! O que disse foi que não queria abdicar da minha vida pessoal, emocional, para viver apenas a realização profissional. A profissão é muito importante, mas na vida o que importa mesmo são as pessoas… As nossas pessoas. Partilhar a vida, os momentos com ‘A’ pessoa e as nossas pessoas.
Ana Rocha em Cannes, entre as grandes estrelas do cinema
A realizadora participou, pelo segundo ano consecutivo, no Festival de Cinema de Cannes com uma curta-metragem. ‘Minha Alma and You’, que foi exibida no Short Film Corner do certame. Oportunidades que a deixam muito satisfeita e expectante em relação ao futuro.
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