É uma das novas vozes do
fado e desde o primeiro dia de carreira
assumiu uma abordagem despida de preconceitos e sempre em busca da essência que
faz desta uma canção única no mundo. Com 31 anos, Cuca Roseta arriscou
um segundo disco, com o simbólico título Raiz, em que as letras e as
músicas são de sua autoria. Mãe de Lopo, de quatro anos, a fadista
mantém há já algum tempo um discreto namoro com David Magboulé, que vive
e trabalha em Madrid, na área do marketing.
– Apresentou o seu novo disco em maio. Recentemente foi convidada para
cantar ao lado de Julio Iglésias, em Lisboa, e tem uma agenda cheia de
espetáculos. Para quem, por vezes, rompe com alguns preconceitos mais
tradicionalistas do fado, está surpreendida com este sucesso?
Cuca Roseta – Na altura, a minha editora avisou-me de que este era um
trabalho ousado, porque nunca antes uma fadista tinha composto e escrito as
letras do seu próprio disco. A minha resposta foi – e é – que o fadista deve
procurar sempre a verdade e ir à sua essência para encontrar aquilo que é puro
e genuíno. Assumo a minha ousadia e a vontade de ser sempre um bocadinho
diferente, mas essa ousadia é natural e não pensada. Para mim, o mais
importante é que a minha música emocione quem a ouve.
– Quando estava a preparar o disco, a escrever as letras e as músicas, não
sentiu que iria ficar muito exposta? Afinal, estão lá os seus pensamentos e
emoções…
– Existem músicas que dizem respeito a situações muito difíceis e, com
este disco, quando termino um concerto sinto-me exausta… morta. No fado não se
descansa. As palavras, todas elas, são ditas e cantadas com o corpo todo, com
muita tensão e intenção.
– Foi para recuperar energia que se refugiou no Algarve?
– Sim, com a intensidade dos concertos tenho necessidade de parar, de ir
para uma praia sozinha, descansar e meditar. Pode parecer estranho, mas o que
sinto é uma grande necessidade de voltar à minha essência para recuperar
energia e voltar a cantar, de novo, com toda a intensidade. Nós, artistas, não
nos podemos esquecer de que trabalhamos para fazer as pessoas felizes e não,
como muitos, para aumentar o ego.
– A família, o seu filho e o seu namorado são também, nesse processo, um
apoio fundamental, o seu maior refúgio?
– A minha família e a minha casa, que é um espaço que é só meu e do meu
filho. É aqui que consigo ir buscar energia e força.
– Entre concertos e viagens, qual é o segredo para ter tempo para o seu
filho e para o seu namorado, que vive em Madrid?
– É uma gestão difícil, muito difícil, e o segredo é ser uma pessoa
organizada. Toda a minha vida, seja o namoro, seja o trabalho, é sempre gerida
em função do meu filho, de como o Lopo está e como se sente. Mas dentro destas
circunstâncias até acaba por ser fácil, porque o Lopo é uma criança
externamente independente, às vezes até mais do que eu, que acabo por sofrer
mais do que ele por estar fora dois ou três dias. Tendo em conta tudo isto, o
mais sacrificado acaba por ser o David, que vem cá muitas vezes para poder
estar comigo e com o Lopo. Confesso que achava que iria ser muito pior e mais
complicado do que na realidade é. Vamos deixando fluir e está tudo a correr
muito bem. O tempo pode ser pouco, e muitas vezes até nem o é, mas tento sempre
que seja de qualidade máxima. [risos]
– Viver e casar-se com o David está nos seus planos?
– Nós queremos, pensamos muito nisso. Mas enquanto um estiver em Madrid
e o outro em Lisboa não é fácil. O mais importante é agradecer o que temos e
evitar comparações com as situações dos nossos amigos que já vivem juntos,
casaram e tiveram filhos. Temos de ser simples e não complicar, só assim
conseguimos usufruir do presente, que é ótimo. Existe um momento para tudo, e
esse momento, quando tiver de acontecer, vai mesmo acontecer.
– Esta produção fotográfica é mais um passo contra os preconceitos?
– [Risos] É verdade que odeio preconceitos e sei que sou um bocadinho
radical em muitas situações. Mas, no fundo, o que faço é seguir o meu instinto,
digam bem ou digam mal. É o meu caminho. As pessoas têm medo de arriscar. Eu
prefiro questionar e seguir o que sinto. É algo tão forte que é impossível
dizer não.
– E também assume, sem preconceitos, os seus 31 anos e a sua boa forma
física…
– Pode parecer estranho, mas não tenho medo de envelhecer e adoro celebrar os
meus aniversários. Ter entrado nos 30 não mudou nada e até penso que ter sido
mãe antes retirou algum peso a essa situação. Tenho 31 anos, mas sinto-me jovem
e fresca.
Cuca Roseta: “Assumo a minha ousadia e a vontade de ser sempre diferente”
A fadista aproveitou um intervalo na agenda de concertos para descansar no Algarve. Para além da carreira, tem ainda de gerir o papel de mãe de uma criança de quatros anos e uma relação amorosa à distância.