Em plena guerra com Bárbara
Guimarães, que o impediu de entrar em casa no último dia 18, acusando-o de
maus tratos físicos e psicológicos – razão pela qual deu entrada na justiça com
um pedido de divórcio litigioso –, Manuel Maria Carrilho conversou com a
CARAS e deixou-se fotografar. Nega os maus tratos, acusa a mulher de estar
constantemente alcoolizada e diz estar preparado para se defender das
acusações de a difamar.
– Quando é que o vosso casamento começou a correr mal e porquê?
Manuel Maria Carrilho – A minha relação com a Bárbara foi muito feliz até
há um ano. Foi uma relação muito cúmplice, muito boa. Com muitas diferenças,
mas tínhamos uma complementaridade que funcionava muito bem. Mas houve um
momento em que senti que se concentravam vários problemas: a Bárbara estava
desconfortável com o programa que fazia na SIC, o Peso Pesado, e sentia
a angústia de ter de decidir o que fazer aos 39 anos. Depois, a Carlota
[de três anos] foi uma maternidade já tardia para ela. Muito diferente do que
tinha sido com o Dinis [de nove anos], que foi muito, muito feliz. Com o
Dinis, a Bárbara foi uma mãe encantadora, criámos uma série de cumplicidades a
três. A Carlota veio num período difícil, em que a Bárbara já não queria mais
trabalho com as crianças. Em relação ao trabalho, aconselhei-a a voltar à
informação. Ela rejeitou esse conselho e decidiu que iria reconquistar o seu
lugar dos 18, 20 anos. E começou a fazer uma série de coisas que não faziam
sentido, exagerou no silicone, fez botox… Fez cinco operações de seguida.
– Que tipo de operações?
– Além do silicone, fez umas coisas para as estrias, para a celulite, não sei
especificar, e deixou de comer, ou melhor, passou a tomar coisas que ela
mistura sem critério. E passou a beber. Tudo isto é o retrato de uma pessoa que
se está a diminuir. A Bárbara nunca mais leu um livro, um jornal, nunca mais
viu um programa de informação, nunca mais se interessou por nada, pelo
cinema…
– Isso terá minado fortemente o vosso casamento. Não pensou em divorciar-se?
– Bom, isto piorou a qualidade de vida de todos, mas eu não faço cenas, não
preciso de nada: como tudo, bebo tudo, não peço que me tratem de nada. Mudo
fraldas, faço papas, mudo lâmpadas, faço bricolage e escrevo, que é o que eu
mais gosto de fazer: ler e escrever. E sempre fui assim, tive uma educação
espartana. O que é que isto deu? Claro que me preocupou muito ver a Bárbara
cada vez mais angustiada, a dormir mal – começou a tomar muitos comprimidos
para dormir, em cima do álcool – e depois, progressivamente, de há um ano para
cá, passou a beber, a beber. No princípio, até descobri isso porque às vezes ia
buscar qualquer coisa à cozinha e encontrava um copo de vinho branco escondido.
– E isso era um comportamento inédito?
– Bom, nós sempre bebemos os dois. Quando nos conhecemos, havia uma coisa que
deixou de haver, um champanhe espanhol que dava exatamente para dois copos, e
que nós costumávamos beber todos os dias. E foi assim até ao 40.º aniversário
dela. Aí ela organizou uma festa no Terreiro do Paço e a certa altura percebi
que queria fazer uma festa que lhe devolvesse os 20 anos. E embebedou-se
completamente. Tínhamos combinado acabar aquilo às duas, mas às quatro ela quis
sair para o [bar] Jamaica. Eu disse-lhe que fisicamente já não conseguia, que
ia para casa. Ela ficou furiosa, fez uma cena. Mas o importante é que, a partir
desse dia, a Bárbara ‘partiu’. Foram os 40 anos, a deceção brutal por aquela
festa não lhe ter dado o que ela precisava… Nessa altura, eu ia dar uma série
de conferências ao Brasil, que só aceitei por ela, para a levar.
– Levaram as crianças?
– Não, fomos só os dois. Estivemos no Copacabana Palace, muito bem. Entretanto,
tinha acontecido uma coisa: ela deixou de ir às minhas coisas [intervenções
profissionais]. Antes ia sempre, com entusiasmo. Portanto, fiz as minhas conferências,
ela andou às compras… Uma noite, estávamos a jantar em Ipanema, e ela bebeu
uma garrafa de vinho inteira. Fomos conversando e quando saímos para o Calçadão
ela foi ver as coisas que estão por ali expostas no chão e caiu para cima de um
vendedor. Eu disse-lhe: “Tens de ter cuidado, acho que já foi por causa
disso que aconteceu a cena nos teus anos.” Ela virou costas e desapareceu.
Acabei por seguir a pé para o hotel, acreditando que ela viria atrás. Ficou
tarde, ela não me atendia o telefone, não ligava nenhuma às mensagens… Decidi
dar um alerta de segurança. Desci o elevador e encontrei-a a chegar, com aquele
cabelo – que adoro – todo para a frente, com ar de quem tinha estado numa roda
de capoeira ou algo do género, sem conseguir sair do elevador, desequilibrada.
Deitou-se na cama com aquele ressonar brutal das pessoas alcoolizadas. Passou o
dia seguinte aos beijos e abraços, sem dizer nada, completamente diminuída.
Acontece que isto se repetiu dez vezes em Portugal. Qualquer coisa que eu dissesse,
saltava do carro e desaparecia. Segundo exemplo: no dia em que abriu uma
exposição da Ana Saramago, muito amiga da Bárbara, tínhamos estado a
jantar antes e ela bebeu loucuras, mas estava a manter a conversa. Na
exposição, voltou a beber ‘n’ copos de champanhe. Assim que entrámos no carro,
transformou-se e pôs-se aos berros: “O que é que vou fazer para casa? Tenho
aqui os meus amigos! Agora é que a noite está a começar! Contigo é sempre
isto!” Ao chegarmos perto de casa, por qualquer coisa que eu disse, ela
saltou do carro, atirou os catálogos pelo ar e disse-me: “Estou farta das
tuas porras!” E depois disso, houve dias em que fez isto e não apareceu em
casa, houve dias em que chegou às 5 da manhã. Eu nunca lhe perguntei nada,
funciono assim, nunca cobro nada.
– Entretanto, ela tomou a decisão de se divorciar…
– No último dia 18, nas vésperas de eu ir para Paris, ela fez a terceira festa
da Carlota. São festas que faz para ela própria. A seguir fomos jantar com o
meu filho mais velho e os meus netos, que têm idades perto das dos meus filhos.
Voltou a beber demais. Chegámos a casa e ainda nem o Dinis estava a dormir,
infelizmente, começou aos berros: “Isto não são festas não são nada, não
participaste nada!” Nós temos uma casa muito grande, com portas muito
altas, e acho que foi mesmo para os vizinhos ouvirem, pôs-se a bater as portas
de uma maneira! Eu pedia-lhe para se acalmar.
– E isso nunca desencadeou nenhum episódio de violência?
– Não! Mas nunca houve aqui violência, qual era a violência?
– Não sei, estou a perguntar.
– Não. Habitualmente chego a casa, vou deitar os miúdos. Sou eu que os ponho na
cama, que vou procurar a chucha da fita azul com que a Carlota gosta de dormir,
que deixo a porta na fresta certa para o Dinis… Ela não tem nenhuma testemunha
de violência, nem nunca terá. Bom, no dia seguinte estivemos a conversar. Ela
queria que isto acalmasse, dizia que tínhamos de descansar. E fui para Paris.
– Já se sabe o que aconteceu quando chegou. Mas face a todos esses episódios
que me conta, não é surpreendente que nenhum dos dois avançasse para o
divórcio. Como é que nunca tinham falado nisso?
– Falou-se de divórcio em setembro, com muita calma, uma conversa na cozinha,
que é onde a Bárbara vive, por causa do álcool.
– E essa conversa foi iniciativa de quem?
– Foi uma conversa que surgiu. E falou-se mais duas ou três vezes. E eu dizia:
ninguém está casado ou divorciado por obrigação, só temos de pensar em duas
coisas, na casa e nas crianças. Esta casa é dos dois, cinco sextos minha.
Lembrei-a disso, disse-lhe que estava tudo registado em documentos. E ela
respondeu: “Mas qual documento?” Reagiu como se estivéssemos a falar de
algo absurdo. Ora, a procuração tem uma descrição rigorosa associada que
discrimina todos os valores envolvidos. E isto perturbou-a loucamente. E
disse-me: “Pagar? Mas eu tenho alguma coisa que pagar?” A partir daí
ficou muito perturbada. Depois, falámos nos filhos. Ela adora os filhos, trate
deles com maior ou menor devoção, é uma excelente mãe, eu acho que sou um
excelente pai, e disse-lhe que achava que tudo isso se resolveria.
– E a história de que a ameaçou com facas?
– É absurda, não sei de onde vem. É bom que ela não diga coisas que cem por
cento dos testemunhos vão desmentir. Ela não vai conseguir provar absolutamente
nada, não tem provas.
Manuel Maria Carrilho: “Nunca houve violência, a Bárbara não tem provas”
O professor assume que ele e a apresentadora já falavam em divórcio desde setembro. Nega qualquer episódio de violência, acusa a mulher de alcoolismo e relata episódios que supostamente o confirmam.