Às 12h30 do dia 22 de
novembro de 1963, a multidão que se aglomerava no centro de Dallas para ver
passar a comitiva do presidente John Kennedy [JFK] ouviu um tiro, logo
seguido de mais dois. Enquanto isso, nos bancos do Lincoln Continental 1961
descapotável onde seguiam o presidente e a mulher, Jacqueline [Jackie],
e o casal anfitrião – o governador do Texas, John Connally, e a mulher, Nellie
–, instalava-se o horror: primeiro, foi o governador que descaiu para o
colo da mulher, logo imitado pelo presidente. As imagens de Jackie Kennedy a
acolher o marido nos braços e, logo a seguir, reagindo à imensidão do que se
estava a passar, a catapultar-se para a traseira do carro, foram vistas até à
exaustão nos últimos 50 anos. Continuam, porém, tão incompreensíveis como
naquele dia. Por um lado, porque prevalece a sensação de que os serviços
secretos ocultaram a verdade sobre o atentado. Sensação intensificada pelo
assassinato, dois dias depois, nos corredores da esquadra de Dallas, do alegado
atirador furtivo, Lee Harvey Oswald, que fora preso 80 minutos depois do
crime. Mas, acima de tudo, porque o assassínio brutal e prematuro, à
queima-roupa, mas em público, de um presidente que personificava o american deram
deixou na América um sentimento de impotência e de fragilidade quase tão
grande como o que provocaria, quatro décadas depois, o 11 de setembro de 2001.
John Fitzgerald Kennedy nasceu a 29 de maio de 1917, em Brookline,
Massachusetts, no seio de um clã que, na América dos self-made men,
ascenderia a um estatuto de quasi-nobreza. Porque tanto o seu pai, Joseph
Kennedy, como a sua mãe, Rose Fitzgerald, descendiam de imigrantes
católicos irlandeses que construíram não só sólidas fortunas como boas
reputações nas suas comunidades e papéis de destaque na política local: o pai
de Joseph integrou a Assembleia Municipal de Boston e chegou ao Senado do
Massachusetts, o pai de Rose cumpriu dois mandatos como mayor de Boston.
Um estatuto que ficou consolidado quando, em 1938, Joseph Kennedy, democrata
influente, foi nomeado pelo presidente Roosevelt embaixador dos EUA em
Londres. Por essa altura, Joseph alimentava a ambição de chegar à presidência
do seu país, mas o sonho caiu por terra quando se mostrou publicamente
favorável a um entendimento entre os EUA e Hitler. Passou então a
apostar tudo no filho mais velho, Joe, mas este morreria em combate, num
acidente aéreo em Inglaterra, em 1946. E foi nessa altura que John, o segundo
filho – que regressara da guerra com uma medalha “por conduta extremamente heroica”
– se tornou o delfim.
Com o pai a mover as influências certas, e feito o percurso que o levou da
política local até ao Senado, JFK tinha 43 anos quando, em 1960, se apresentou
como candidato democrata à presidência dos EUA. Jovem, belo, elegante, atlético
e enérgico (apesar de ter vários problemas de saúde, conseguiu sempre
ocultá-los), inteligente e instruído, parecia sentir-se bem na sua pele em qualquer
circunstância. Em suma, era quase tão carismático como uma estrela de
Hollywood.
Como se não bastasse, John
tivera o extremo bom gosto (e bom senso) de se casar com uma mulher que lhe
assentava como uma luva: bonita, elegante, culta, educada e cheia de estilo,
Jacqueline Bouvier tinha ainda por cima ancestrais franceses, o que aumentava
consideravelmente o seu potencial de charme perante os americanos. Durante a
campanha, ao lado de Jackie (grávida de John John, que nasceu 17 dias
depois de o pai ser eleito), e da filha de três anos, Caroline, John
Kennedy transmitia a enternecedora imagem do marido e pai perfeito e feliz.
Vencido o republicano Richard
Nixon por uma escassa vantagem, os Kennedy instalaram-se na Casa Branca em
janeiro de 1961, para uma permanência que não lhes pouparia horas difíceis.
Jackie, que antes de Caroline tinha tido um nado-morto, daria à luz um terceiro
filho que morreria com dois dias. Esse desgosto, e as constantes (mas abafadas)
infidelidades do marido deixá-la-iam muito deprimida.
Quanto ao presidente, a sua
imagem seria fortemente abalada pelo fracasso da invasão da Baía dos Porcos, em
1961, mas recuperou o prestígio em 62, quando venceu o braço-de-ferro com Khrushchev
na crise dos mísseis cubanos, certamente a fase mais quente da Guerra Fria. E
se é certo que começou por apoiar militarmente o Vietname do Sul, também é
verdade que quando morreu planeava a retirada gradual das tropas até ao final
de 1965 (foi o seu sucessor, Johnson, quem retrocedeu nessa decisão).
Kennedy conquistou ainda a simpatia dos negros envolvendo-se pessoalmente na
sua luta pelos direitos civis. E nos cerca de mil dias que durou o seu mandato,
o PIB cresceu a uma média de 5,5 por cento ao ano, a inflação estabilizou em
1%, o desemprego diminuiu e a produção industrial cresceu.
Ou seja, a sua reeleição em
1964 parecia garantida. Era, aliás, para seduzir o eleitorado do sul, que não
via com bons olhos o apoio que dava aos negros, que Kennedy estava em Dallas na
manhã em que foi morto. Transformado em mártir, ganhou nesse dia a aura de
mito de quem deixa expectativas por cumprir.
Passaram 50 anos sobre a morte de John F. Kennedy
Veja uma seleção de imagens do 35.º presidente dos Estados Unidos, assassinado em 1963, durante uma visita Dallas.
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