Conhecido pelo seu trabalho na área do futebol, primeiro como jogador, depois como treinador, Luís Norton de Matos, de 59 anos, tem estado simultaneamente ligado aos media: foi fundador e diretor da revista Foot, colaborador de diversos jornais e televisões e até locutor de rádio. Mas há uma faceta sua que permanecia desconhecida até agora: a de autor de ficção. O romance policial A Noite em que te Vinguei confirma que a escrita é um dos seus talentos. A seu lado neste percurso variado, Luís Norton de Matos tem tido a mulher, Joana, de 39 anos, os filhos, Luís, de 38, Bárbara, de 34, Carolina, de 24, e Maria, de 15. Foi precisamente junto das mulheres da sua vida – o filho não pôde estar presente – que o autor nos contou como se sente feliz com tudo o que a vida lhe tem reservado.
– A escrita sempre fez parte da sua vida…
Luís Norton de Matos – Sim, praticamente desde que me conheço. Desde os anos 70 que escrevo para revistas e jornais e costumo dizer que na minha vida há três polos interligados: cinema, música e leitura. E é dessa forma que vejo este livro, como uma junção de tudo. Na minha cabeça, é um filme que pus em palavras.
– Conte-me o processo que culminou neste livro…
– Fui escrevendo folhas soltas ao longo de anos, sem pressões nem prazos, mas com a vontade de um dia as publicar. Fui guardando e um dos capítulos deste livro, por exemplo, foi escrito há mais de 20 anos. Com a era dos computadores comecei a estruturar tudo melhor e fui construindo devagarinho. Em Dakar [onde viveu quatro anos], altura em que passei a ter mais tempo para mim, construí a maior parte deste livro. A Joana gostou muito do que leu e estava sempre a incentivar-me a mostrá-lo a alguém. Quando vim para Portugal, dei-o a ler a uma editora e gostaram muito. Pensei que afinal o livro até poderia ter alguma qualidade. Foi graças a esses incentivos que este livro acabou por sair da gaveta.
– Mas já veio de Dakar há um ano, e o livro só agora saiu…
– Sim, pois quando já estava tudo mais ou menos aprovado para avançarmos, fui convidado para o Benfica [como treinador da equipa B] e como gosto de separar as coisas, achei que não faria sentido publicar um livro enquanto estivesse a trabalhar no clube e guardei-o. Quando saí, em maio, voltei a pegar em tudo e agora acredito que o livro está muito melhor, pois estive os meses de verão a trabalhar nele. Reescrevi os últimos quatro capítulos e acho que a história ficou mais equilibrada e com mais suspense.
– O livro conta a história de um ex-futebolista que decide vingar-se…
– Sim. Este livro é ficcional, mas também tem um pouco de inspiração na minha vida, pois nós não conseguimos fugir àquilo que são as nossas experiências e vivências. Construí um enredo de algum suspense entre o mundo jornalístico e do desporto, que foi o que vivi, mas há uma grande história de amor. Não gosto de déspotas, de pessoas que se servem do poder para espezinhar os outros, de prepotência, e este livro é muito contra tudo isso.
– Vai haver um segundo livro?
– Não sei. Ainda tenho muitas ilusões relativamente ao futebol, um mundo que é viciante e que sempre fez parte do meu caminho principal. Tenho uma hipótese de voltar a treinar e, se isso acontecer, não farei mais nada, nem sequer tenho cabeça para escrever. Tudo dependerá do que acontecer a nível profissional. Escrever vou sempre fazê-lo, publicar é que não sei, porque tenho medo. Primeiro, não sei como é que este livro corre, porque se for um fiasco poderei perder a vontade de escrever, e se for um sucesso traz uma responsabilidade enorme.
– Dedicou este livro à Joana, que partilha as suas aventuras há 20 anos…
– Por isso mesmo. Quando a Joana me conheceu eu já tinha coisas escritas e sempre me incentivou a escrever um livro. Há 17 anos, quando nos casámos, disse-lhe que quando fizéssemos 20 anos de estarmos juntos ela teria o livro. Por ironia do destino, foi mesmo o que aconteceu [risos]. A Joana tem sido uma companheira incansável e estamos sempre juntos. É a primeira a fazer a mala para qualquer lado onde tenhamos de ir. Sempre foi o meu grande suporte.
– Passou por dois divórcios, mas conseguiu voltar a encontrar a pessoa certa ainda bastante cedo…
– Casei-me muito cedo da primeira vez, à semelhança do que fazem muitos jogadores de futebol, e fi-lo por amor. Tive dois filhos excecionais, mas não resultou. Aos 30 voltei a casar-me, com uma mulher de 20. Também o fiz por amor e tenho uma filha maravilhosa, a Carolina, mas também não deu. Aos 40 voltei a casar-me com outra mulher de 20, a Joana… Aos 39 anos já tinha três filhos e passado por dois divórcios, por isso, penso que fui abençoado pela sorte de ter encontrado uma alma gémea que agora já está comigo há 20 anos e com quem tive uma filha maravilhosa. Foi amor à primeira vista. Eu e a Joana não nos largámos mais. Construímos uma relação de muita amizade, amor, cumplicidade e tolerância.
– Sente que conseguiu ser um pai presente para cada um dos seus filhos?
– Sim, tenho bem definido na minha cabeça os compartimentos da minha vida. Nunca deixei os meus filhos para trás, foram sempre uma prioridade na minha vida. A Bárbara e o Luís viveram comigo parte da adolescência deles, por opção, e estive sempre presente e muito cúmplice. Vivemos todos muito em clã. Com a Maria, a única vantagem em relação aos outros é que estou com ela diariamente. Não faço distinção entre eles e sou um pai muito ‘galinha’. Somos muito unidos e a família é o suporte de tudo.
– Durante esta sessão fotográfica deu para perceber que há uma grande cumplicidade entre a Joana e todas as suas filhas…
– Sim e acho que isso é a maior riqueza que um pai pode ter. Sinto uma tranquilidade, uma estabilidade e uma calma fantásticas nesta fase da minha vida. Tenho de agradecer à vida tudo o que me tem dado. Tenho muito amor à minha volta.
Luís Norton de Matos publica romance com o apoio da mulher e das filhas
Junto da mulher, Joana, e das filhas, Bárbara, Carolina e Maria, Luís Norton de Matos contou o processo que deu origem a este seu primeiro romance, ‘A Noite em que te Vinguei’.