Cada vez que marcamos encontro com Fernanda Serrano já sabemos o que nos espera: muitas gargalhadas e horas de conversa a fio. O assunto é inesgotável e difícil é escolher a parte da entrevista a publicar. Decidimos centrar a conversa no casamento de nove anos com Pedro Miguel Ramos e no amor pelos três filhos de ambos, Santiago, de oito anos, Laura, de seis, e Maria Luísa, de quatro. À margem deste tema, a atriz esclareceu ainda notícias que vieram a público esta semana sobre uma redução no seu ordenado e supostas dívidas de Pedro, e mostrou-se contente por ter participado no filme Eclipse em Portugal, que já está em cartaz.
– Não havendo casais perfeitos, em que é que o seu casamento estará mais perto da perfeição?
Fernanda – Não está, pois, como se diz, não existem casamentos perfeitos e não acredito em pessoas perfeitas. Temos, sim, tentado manter o balanço sempre positivo e ter maior número de dias felizes do que cinzentos, que também os há, como em qualquer união. Temos de ter uma grande capacidade criativa e estabelecer muito bem as prioridades. As nossas, as da família e as de cada um, e fazer uma avaliação o mais honesta possível.
– Parece ser um trabalho exaustivo…
– Por vezes é, pois o desgaste, o trabalho e o mundo, por si só, podem gerar fatores intrusivos e, se não estivermos atentos e certos do que temos e queremos, podemos destruir rapidamente o que com tanto amor, entrega e empenho demorou a construir. No entanto, como sempre ouvi os meus pais dizerem, “um casamento é uma carta fechada”.
– Como é que gerem os altos e baixos do casamento?
– Temos de saber lidar com o dia-a-dia e todos os dias pensar que é mais um dia bom. É sempre mais fácil e rápido destruir e desistir do que persistir e acreditar. É aí que a boa gestão entra em ação.
– Alguma vez lhe apeteceu desistir do casamento?
– Não acredito em alguém que diga que alguma vez não lhe tenha passado isso pela cabeça… Há que saber definir muito bem as prioridades e ter bom senso e calma.
– Com três filhos, ainda menos deve ser…
– Os meus amores são o motor de tudo na minha vida. É a eles que dedico o melhor de mim. A minha vida é quase na sua totalidade em função destes meus grandes amores, é para eles que vivo, respiro, trabalho, sorrio e acordo todos os dias com vontade de fazer mais e melhor. Quero ser a melhor mãe do mundo e quero que eles confirmem isso quando um dia forem pais e, ao olharem para trás, tenham o mesmo que eu tenho, a minha maior e melhor referência de vida: os meus pais. Sempre presentes em todas as fases. Souberam educar, amar, cuidar e tiveram a coragem de me deixar ir, na altura certa, conhecer novas coisas, ter responsabilidades para que aprendesse a ter segurança em mim e fazer de mim a mulher destemida que sou. Tudo isto é tão importante! Espero conseguir exercer as mesmas competências e não defraudar as minhas expectativas.
– Por falar em expectativas, o Pedro tem sido o marido que esperava?
– No fundo, e contrariamente ao que supunha inicialmente, sim, acho que sim.
– E enquanto pai, também tem superado expectativas?
– Ele odeia que eu o diga, mas não. Precisava de mais um valente workshop ou de mais um filho ou dois para ser reeducado. [risos] Mas a culpa também foi minha, obviamente. Homens!
– Ainda vos falta construir muito em comum?
– Sim, muito. No entanto, também já passámos por muito, o que nos aproximou ainda mais.
– O Pedro e os seus filhos exigem-lhe mais tempo do que aquele que lhes pode dar?
– Não. Acho que estou sempre lá, embora saiba que isso é impossível de acontecer, mas sinto que, regra geral, sou uma mãe muitíssimo presente e atenta. Até então, não recebi quaisquer “reclamações”!
– Como é que ao fim de um dia de trabalho, que lhe exige muita energia, chega a casa e corresponde aos desejos da família?
– Por vezes chego a casa quase vazia, sem energia, cansada, mas como qualquer outra mãe, vou às minhas reservas e antes de meter a chave à porta, preparo o meu maior e melhor sorriso e inicio um novo ciclo do dia, o de dona de casa, por vezes também desesperada [risos], de mãe, de mulher e de chefe de família. Mas gosto disto. Dá-me prazer controlar tudo, corresponder às necessidades e expectativas deles. Não há supermulheres, mas há valentes aprendizes!
– É uma mulher feliz?
– É um conceito, isso, uma expressão, um estado ou uma fase? Não sei. Sempre vivi com essa questão. Às vezes, não me sinto dessa forma, porque também temos um lado lunar e o meu é muito eficaz e teimoso. Embora não pareça, tenho muitos dias cinzentos, gente chata à minha volta, e tudo isto me faz pensar se realmente sou ou estou feliz. No entanto, quando olho para dentro de casa e vejo três crianças maravilhosas a sorrir, com saúde, com amor e energia, quando olho para a minha extensa família e amigos próximos, sempre perto, para o meu percurso, para tudo o que passei e com sucesso, faço o que gosto e tenho o reconhecimento maior do público, penso que seria de uma extrema ingratidão e insensatez da minha parte não agradecer todos os dias o que recebi, o que conquistei.
– Vamos então falar dessas três crianças ‘maravilhosas’…
– São os três muito diferentes entre eles, mas têm alguns pontos em comum. São todos muito doces e têm um sentido de família e amizade muito apurado. Existe sempre um que é mais estudioso, obviamente, e porque os mais velhos já sabem ler, agora tenho de ocultar estas ‘informações’, mas regra geral são bons alunos, muito obedientes e divertem-se horrores. Para mim, é o importante.
– Como é que se dá com cada um deles?
– Sou bastante permissiva, mas com limites estipulados, que eles conhecem e sabem que não podem ultrapassar. Estudo com eles, gosto de saber as amizades que têm, fomento muitas atividades com amiguinhos e sobretudo divirto-me muito com eles. Eles acompanham-me em tudo, ou quase tudo. Tenho ali já uns companheirões de festa…
– Há pouco, em conversa informal, dizia-me que a Laura é talvez a mais protegida…
– Coisas de mãe, mas é dos três a que me preocupa sempre mais. E talvez porque a fase de gestação da Laura coincidiu com a fase em que estava a desenvolver uma doença que desconhecia, isso deixa-me e deixar-me-á sempre muito apreensiva em relação a tudo. Aliás, quando elas forem maiores irei fazer os testes que já estão disponíveis para perceber se em termos genéticos há que ter alguma preocupação acrescida. Sou uma hiper apologista da prevenção [do cancro], como não poderia deixar de ser.
– Sente um ‘peso’ maior em cuidar dela por causa disso?
– Inevitavelmente, sim. Não sei se se atenuará ou não, só o tempo o dirá. Também espero que não se torne obsessivo da minha parte.
– Para terminar a conversa tenho mais duas questões. A primeira prende-se com as notícias sobre a redução do seu ordenado e uma alegada dívida do Pedro…
– Desde há dois anos que tem sido feito um reajuste aos ordenados dos funcionários da TVI, incluindo atores. Foram reduções feitas de forma gradual. O importante é estarmos a trabalhar em projetos que nos fazem felizes e o contínuo reconhecimento do público. As supostas dívidas do Pedro são sempre geradas da mesma forma feia, sem fundo de verdade e sempre pela mesma publicação, o que é estranho. Mas ele irá repor a verdade junto das entidades competentes, em tempo próprio.
– A outra questão tem a ver com os seus projetos profissionais. Já tem ideia de quando regressa à televisão?
– Com conhecimento efetivo, ainda não. Aguardo instruções da TVI e uma sinopse que não tardará a aparecer. Entretanto, está em cartaz o meu novo filme, Eclipse em Portugal, que me deu um especial gozo fazer por ser um guião nunca antes experimentado. Uma tontice pegada de fazer doer a barriga de tanto rir, com um elenco inesperado e louco.
Fernanda Serrano: “É sempre mais fácil desistir de um casamento do que persistir”
A atriz conta como mantém o equilíbrio familiar junto de Pedro Miguel Ramos e dos três filhos.