Aos 62 anos, Ana Bola é um nome incontornável do humor em Portugal. Sem ‘papas na língua’, a atriz e argumentista vive uma fase de tranquilidade junto do marido, Zé Nabo, mas também de muita saudade, já que está longe do filho, Tiago Forte, da nora e da neta, Madalena, de 14 anos, que emigraram para a Islândia há dois anos.
Apaixonada pela sua profissão, Ana Bola conversou com a CARAS no final da estreia da peça Sem Filtro.
– Apesar dos 40 anos de carreira, este é o seu primeiro monólogo…
Ana Bola – Já pensava nisso há algum tempo e esta foi a altura certa. Acho que precisava de maturidade… E depois porque a dificuldade de um monólogo, principalmente para um humorista, é não ter a contracena e no humor isso é muito importante. Não é fácil, mas estou a adorar.
– Essa sua falta de filtro já lhe trouxe dissabores?
– É a minha maneira de ser e nunca senti represálias diretas em relação a isso, mas não quer dizer que não as haja. Não me posso queixar, sou uma privilegiada, tenho tido sempre trabalho. E não digo mentiras, estou a fazer humor e isso é sempre uma forma de desculpa.
– Têm sido 40 anos positivos.
– Têm sido muito bons. Tive a maior sorte do mundo, pois trabalhei com os melhores, tive sempre trabalho, fiz as minhas séries, escrevi coisas… Não me posso queixar. Não vejo é os meus colegas mais novos a terem as hipóteses que eu tive, mas isso é um retrato do país.
– Ainda tem dificuldade em lidar com a incerteza da profissão?
– Claro que sim, todos os dias. Essa falsa imagem que muitas pessoas têm de que os atores são ricos em Portugal é rigorosamente mentira. O número que digo na peça em tom de brincadeira sobre a minha reforma é rigorosamente verdade: vou receber 345 euros de reforma se aos 67 anos ela ainda existir…
– Os humoristas parecem sempre de bem com a vida, mas há também um lado mais obscuro…
– Somos pessoas iguais às outras, com as mesmas frustrações e problemas. Eventualmente, o humor ajuda-nos a sublimar algumas coisas um pouco mais graves, mas depende do temperamento de cada um. Conheço humoristas realmente deprimidos.
– Mudando de assunto: está casada há 34 anos. Qual é o segredo?
– Acho que no nosso caso tem a ver com o facto de ele ser músico e perceber muito bem estes horários malucos e esta vida disparatada. Não há segredos para o casamento, o nosso corre muito bem porque se calhar damos espaço um ao outro, mas já tivemos chatices, como toda a gente. Quando se chega a esta idade, a melhor coisa, logo a seguir a ter-se saúde, é ter-se um companheiro que sabemos que vai ficar connosco para o que der e vier. Agora já não há volta a dar [risos].
– E como lida com as saudades do seu filho e da sua neta?
– Isso é que é o pior… Tenho imensas saudades deles, mas por outro lado vejo-os bem, a trabalhar, com dinheiro para terem uma vida normal num país civilizado, portanto, tenho essa ambiguidade de sentimentos. Tenho imensas saudades da minha neta, mas tenho muitas, muitas saudades do meu filho.
Ana Bola: “Têm sido 40 anos de carreira muito bons, não me posso queixar”
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