“SILÊNCIO – A CANTIGA DA RUA PARTIU
A minha única intérprete deixou-me. Deolinda Rodrigues que pegou no único fado que escrevi na minha vida e o cantou com a sensualidade que as palavras tinham dentro, saiu de cena. Recordo-a a cantar de olhos cerrados os versos que me saíram numa madrugada em minha casa com o João Henrique a escrever música à viola: – ‘Há lá coisa mais bonita/ do que ver Lisboa nua/ A dançar à minha frente/vestida com luz da lua.’
Falámos muitas vezes e confesso que sempre adorei o tom malicioso do seu olhar e as expressões marotas de saborosos segundos sentidos. A voz do meu único fado era linda e partiu linda. Encantou no filme ‘Cantiga da Rua’ e encheu palcos de revista com a sua voz e andar de mil desejos. A última vez que estive com a minha Deolinda foi numa tarde de convívio na casa do Artista onde juntos recordámos os êxitos de quantos ali vivem de memórias do passado.
Lembro-me de, quase ao ouvido, termos repetido uma parte do refrão do meu fado: ‘Lisboa não se deita a qualquer hora/Lisboa só se deita com quem quer/Lisboa sabe bem com quem namora/Lisboa é o bem de um malmequer’. Piscou-me o olho cúmplice, ela a senhora dona da minha solitária incursão fadista. Ao lado, sorria um pouco ausente, a querida Argentina Santos.
Calou-se a Cantiga da Rua no mesmo dia em que Celeste Rodriges cantava, celebrando os seus 70 anos de carreira.
Para cada uma, o seu fado”, escreveu Júlio Isidro na sua página oficial do Facebook, recordando a atriz e fadista Deolinda Rodrigues, que morreu este sábado, 10 de outubro, aos 90 anos.
Júlio Isidro presta homenagem a Deolinda Rodrigues
SILÊNCIO - A CANTIGA DA RUA PARTIU
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