São 20 anos de revista CARAS e os mesmos a acompanharmos os passos daquela que é uma das atrizes mais relevantes da sua geração: Fernanda Serrano, 41 anos. Uma mulher que foi criada numa família humilde, carregada de afetos e valores, que aos 14 anos, para alcançar a sua independência, se deixou seduzir pelo mundo da moda. Só anos mais tarde descobriu a grande paixão da sua vida: representar. Já lá vão duas décadas. Pelo meio, casou-se com o empresário Pedro Miguel Ramos, que lhe deu, como costuma dizer, “os quatro grandes amores da sua vida”: Santiago, de dez anos, Laura, de sete, Maria Luísa, de seis, e Caetana, de dois meses, que trouxe à sua vida “um novo e ainda maior sorriso.” E foi com esse sorriso, natural e espontâneo, que Fernanda Serrano se deixou fotografar na Comporta, onde, em jeito de balanço, recordou os momentos mais marcantes destes últimos 20 anos.
– Já foi capa da CARAS 38 vezes. Qual foi a que mais gostou?
Fernanda Serrano – Decididamente, as que mais gostei foram as que assinalaram o nascimento dos meus filhos. Momentos ultra felizes e marcantes na minha vida.
– Fez uma capa com o Santiago em bebé. Porque não quis repetir com as suas filhas?
– Sobretudo, por uma questão de segurança. Confesso que no nascimento do primeiro filho estava tão anestesiada de felicidade que nem pensei em salvaguardar a identidade do bebé. Hoje, dez anos depois e a seguir a algumas situações delicadas da minha vida, aprendi a resguardar-me mais.
– O que é que mais tem mudado na sua vida ao longo destes 20 anos?
– Muita coisa, boa e má. Deixei de pensar tanto em mim e no meu bem-estar, porque passei a ter outro foco, os meus filhos. Passei a ser menos tolerante com aqueles a quem não reconheço qualidades. Fiquei muito mais calma e valorizo cada vez mais a minha profissão e os que nela trabalham de forma séria e honesta.
– Nestes anos também se deparou com momentos menos felizes, como quando soube que tinha cancro. Tornou-se outra pessoa?
– Por causa dessa fase delicada, passei a não desperdiçar o meu tempo com pessoas e situações que não merecem a minha atenção e dedico-me só ao que gosto, às pessoas que partilham comigo coisas boas e com quem tenho sempre algo a aprender. De resto, sou precisamente a mesma pessoa: mais cautelosa e ponderada, mas igualmente bem disposta.
– Há um antes e um depois do cancro?
– Não diria tanto, mas que algo mudou, sim, e para melhor. Antes achava que tinha todo o tempo do mundo, depois percebi que não se deve perder um minuto que seja. A vida é demasiado valiosa para a desperdiçarmos.
– Mudaria alguma coisa no seu percurso?
– Acho que não mudaria uma linha que fosse. Ter vivido como vivi, ter tomado as decisões que tomei, ter-me cruzado com as pessoas com quem me cruzei… Foi tudo isso que me fez chegar aqui, com a certeza de que está tudo certo e não me arrependo de nada. Não tenho ‘ses’ na minha vida. Fiz tudo tal como quis, como me apeteceu. Sem dúvidas.
– Como é que há 20 anos se via aos 40?
– Aos 20, estava precisamente a iniciar o meu percurso como atriz, em Espanha, onde vivi pela primeira vez sozinha, durante um ano. Onde descobri que era isto que queria fazer o resto da minha vida. Depois, achava que iria ser mãe solteira, pois nunca esteve nos meus planos de miúda casar-me, apenas ser mãe… Como na minha família sempre fomos muitas mulheres, fortes e determinadas, nunca achei que precisaria de ter uma família tradicional para ser feliz. Sempre achei que gerir uma relação a dois me daria muito mais trabalho do que educar e criar filhos. Mas a verdade é que a vida se encarregou de me mostrar que o que por vezes achamos ser o melhor, efetivamente não é. Também devemos ter a sabedoria de nos deixarmos conduzir pela vida. Resolve-nos muita coisa e, sobretudo, ensina-nos!
– Há 11 anos testemunhámos o dia do seu casamento. Faz um balanço positivo?
– Sim, caso contrário já não estaríamos a celebrar aniversários de casamento. Os casamentos não são processos sempre fáceis, temos de ter capacidade de reinvenção, de ajustamento, de tolerância. No entanto, também nos ensina a conhecermo-nos melhor, a sermos melhores pessoas, a não sermos egoístas. É quase uma terapia conjunta infindável. Tem tido saldo positivo, mas aos 97 anos poderemos falar de forma mais assertiva sobre este assunto…
– Acha que o vosso amor tem sido mais forte do que alguma vez imaginou?
– Acho que temos de ser dois a querer o mesmo, a trabalhar para o mesmo lado, ter os mesmos objetivos e obviamente tem de existir muito amor. Os filhos fortalecem muito este laço, indiscutivelmente. Fazem-nos pensar de forma mais responsável.
– Criou recentemente o site Por Trás do Pano, onde partilha alguns instantes da sua vida mais privada e publicou fotos que envolvem alguma intimidade. Sentiu necessidade de o fazer?
– Registei fotograficamente momentos tão únicos e irrepetíveis que quis partilhar um momento muito bonito e feliz. O que mostro é apenas e só a minha felicidade extrema e imagens de um bebé acabado de nascer num primeiro grito de vida, iguais a tantos outros bebés. Quero passar uma mensagem simples e boa: mesmo depois de uma fase muito cinzenta na nossa vida, ainda acontecem muitos finais felizes. Quem não entende, ou não é mãe ou não é mulher.
– Diz no site que é católica desde os 35 anos. Porquê nesta altura?
– Porque a vida me mostrou este caminho. Ajudou-me muito ter um apoio desta natureza em determinada altura e senti que fazia todo o sentido dar-lhe continuidade. Não gosto de ter um discurso lamechas, por isso, normalmente nem falo muito disto. Tenho as minhas crenças, muita fé. E agradeço sempre muito mais do que peço. Só tenho razões para o fazer.
– Qual foi o maior medo que teve na vida?
– Morrer sem ver crescer os meus filhos.
– E a maior alegria?
– Estar a vê-los crescer. E, claro, voltar a ser mãe mais duas vezes, o que há sete anos pensava ser totalmente improvável. Estar ao lado dos meus amores, ter saúde e trabalhar na profissão que escolhi.
– O que é que a Caetana trouxe à sua vida?
– Um novo e ainda maior sorriso. Nunca pensei ser mãe aos 40 e eis-me aqui. Tenho desfrutado tanto desta bebé! Não fazia ideia das saudades que tinha de ter um bebé.
– Onde se imagina daqui a 20 anos?
– A viver no mesmo sítio, cheia de netos e ainda mais barulho pela casa fora. Com uma carreira – aí sim, já se poderá chamar carreira – de 40 anos de trabalhos bons, desafiantes, que me deixem vontade de fazer mais e melhor. E feliz, sobretudo isso, muito feliz.
Fernanda Serrano: “Morrer sem poder ver crescer os meus filhos foi o meu maior medo”
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João Lima
João Lima
Acompanhámos a sua carreira como modelo e depois como atriz. Testemunhámos o seu casamento, partilhámos o nascimento dos seus quatro filhos e estivemos a seu lado quando revelou que tinha um cancro. 20 anos passados em revista.