Enquanto praticante de atletismo, Fátima Lopes destacou-se como velocista, mas é como maratonista que quer fazer história, tanto na sua vida profissional como pessoal. Com uma carreira de 21 anos ligada à televisão, 18 dos quais a fazer programas diários, a apresentadora, de 46 anos, sente-se jovem e com energia para continuar o seu percurso de forma tranquila, sem grandes sobressaltos, mas com o objetivo de chegar sempre um pouco mais longe e nunca esquecer o espírito de missão cumprida. O último desafio profissional surgiu há precisamente um mês, quando estreou Pequenos Gigantes, um programa de talentos artísticos protagonizado por crianças e que marca o seu regresso ao horário nobre. Um desafio que diz só ter aceitado por considerar que o filho, Filipe, de cinco anos, está mais preparado para lidar com as ausências da mãe. À CARAS Fátima falou ainda do seu casamento de dez anos com o enfermeiro Luís Morais e revelou que a filha mais velha, Beatriz, de 15 anos, tenciona seguir a área de Medicina.
– Voltar ao horário nobre era um desejo?
Fátima Lopes – Sim. Nunca fiz disso um finca-pé, porque fazer um programa diário de muitas horas já é exigente e temos que pensar se estamos preparados para as horas que vamos precisar para mais um projeto. Contrariamente ao que as pessoas pensam, não fui para a TVI para fazer prime time. Na altura o meu filho tinha um ano e pouco, eu já ia fazer um programa diário de quase três horas, fora as reportagens extra, e há prioridades das quais não abro mão, uma delas os meus filhos. Enquanto o meu filho não teve uma idade em que já conseguisse perceber melhor quando a mãe tivesse que se ausentar ao fim de semana, como agora acontece, achei que não o deveria fazer. Quando na minha cabeça passou a fazer sentido, o que aconteceu no final do ano passado, falei com o meu diretor de programas e pouco tempo depois, em janeiro, disseram-me que tinham um programa que achavam que era a minha cara. E era mesmo, portanto, estou super feliz.
– Mas não deve ser fácil lidar com emoções de crianças muito pequenas…
– Não é fácil, mas também não é o fim do mundo, porque elas também têm de lidar com o ‘não’ nas suas vidas. Aliás, os psicólogos insistem junto dos pais para a importância do ‘não’. As mais pequeninas são as que não valorizam tanto a saída, porque já se divertiram durante umas semanas, fizeram novos amigos e vão felizes e contentes para o colo dos pais. São os mais crescidos, de 11 ou 12 anos, que têm outras expectativas e reagem de forma mais emocional,
o que também é normal. Faz parte da vida e encaro isso com toda a naturalidade, sem dramas.
– No entanto, e sendo mãe, deve ficar com um nó na garganta ao ver a desilusão nos olhos das crianças?
– Cria um nó na garganta. Normalmente, quando percebo que estão a sofrer, vou ter com eles, abraço-os e dou-lhes beijinhos, mas também não é o meu papel, nem o dos pais, fazer aumentar isso. As coisas têm a dimensão que têm. Como diz o Manuel Luís Goucha, isto é só um programa de televisão, não é a vida deles. A própria Rita Pereira e o David Carreira já contaram que ao longo da vida ouviram muitos ‘nãos’ nos castings, mas chegaram lá. Vamos lá tirar as crianças de redomas. As lágrimas fazem parte do crescimento e têm que existir. Sou afetiva e muito emocional, mas não sou piegas e não alinho em pieguices. E os pais sabem que sou sempre um colo gigante para os filhos deles, porque olho para os seus olhos e puxo-os muitas vezes para os ouvir e dar-lhes conselhos.
– O seu filho acabou de entrar para uma nova escola. Também lhe deu esse colo gigante no primeiro dia de aulas?
– Na véspera, quando percebi que ele estava nervoso e me confessou que tinha medo de ter vergonha, falei com ele e disse-lhe que ia encontrar imensos amigos que vinham da antiga escola. E a verdade é que quando chegou a casa vinha todo entusiasmado porque, sendo uma criança muito sociável, já tinha feito um montão de novos amigos. E eu não estava menos nervosa do que ele porque, tal como os outros pais, quero que ele viva o maior número de emoções positivas que lhe for possível, portanto, procurei fazer tudo para que isso acontecesse: passei a manhã na escola, como os outros pais, e fui a sua base de conforto.
– A Beatriz também é assim sociável?
– É uma miúda de muito fácil contacto, muito comunicativa e simpática.
– Ela está com 15 anos. Já sabe que caminho quer seguir?
– Para já, quer seguir a área de saúde.
– Influenciada pelo Luís?
– O Luís nunca a procurou influenciar mas talvez ela se tenha deixado fascinar pela área do Luís.
– Este ano comemora 21 anos de carreira. Calculo que faça um balanço positivo?
– Sim, e com uma coisa que digo muitas vezes, que é respeitar o relógio e a linha do tempo. Não procurem antecipar etapas, pois não vai dar bom resultado; não procurem queimar caminhos porque querem chegar já ali. Até podem chegar lá antes do tempo, mas porque saltaram coisas que tinham que ter vivido e saboreado, quedas que tinham que ter dado, não vão saborear as coisas da mesma maneira. Portanto, tenham paciência com a vida, pessoal e profissional. E se olharem para os meus 21 anos de carreira, não veem picos: é uma constância, sempre calmamente a subir, muito calmamente, até. Vou fazendo as coisas de forma sustentada. Nunca tive pressa de crescer ou de ter sucesso. Tive sempre o cuidado de plantar, regar e esperar que crescesse.
– E os dez anos de casamento têm sido assim também? Sem pular etapas, sem grandes auges mas de uma forma constante que vos permitiu chegar à primeira década juntos?
– Construir um casamento, uma relação ou uma carreira é sempre uma grande maratona e um maratonista sabe que tem de gerir a sua energia desde o princípio para conseguir chegar ao fim. Sabe que há fases do percurso que lhe vão custar um bocadinho mais, outras em que consegue acelerar porque o terreno é propício, e há fases em que tem de diminuir o ritmo porque o terreno é mais acidentado e encontra mais obstáculos. Agora, estás disposta a ser uma maratonista ou queres ser velocista? Eu continuo a pensar como uma atleta. Fui velocista, mas a vida ensinou-me a ser uma maratonista, provou-me que tenho paciência de maratonista.
Fátima Lopes: “Nunca tive pressa de crescer ou de ter sucesso”
A apresentadora comemora 21 anos de carreira na televisão e 10 anos de casamento com Luís Morais.
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