Ainda pensou dedicar-se à carreira diplomática, e foi com esse objetivo que frequentou o curso de Direito. Nicolau Breyner não demorou muito a perceber que o seu sentido de humor e o talento artístico o fariam mais feliz na pele de ator. Foi ainda estudante do Conservatório que se estreou no teatro, na peça Leonor Telles, dirigido por Ribeirinho. Estavam dados os primeiros passos numa profissão que o levaria a cruzar teatro, televisão e cinema, sempre com criatividade e capacidade de inovação. E com uma vocação natural indiscutível. O seu primeiro programa televisivo, Nicolau no País das Maravilhas, deu-lhe logo lugar cativo na história da televisão portuguesa, com rábulas tão memoráveis como a do Senhor Contente e Senhor Feliz, que interpretava ao lado do então jovem Herman José. Estava-se nos anos 70 e logo na década seguinte voltaria a ser pioneiro, agora com a primeira telenovela portuguesa, Vila Faia, onde era ator e coautor do guião. A série Gente Fina É Outra Coisa, transmitida em 1982, foi outro marco nesse início de carreira. E foram muitos os pontos altos desta carreira com mais de 55 anos, onde foi ator, mas também realizador, produtor e diretor de atores. Fez muito teatro e dezenas de filmes no cinema, mas nunca deixou a televisão. E via isso com um lado muito pragmático, como disse numa entrevista que deu à CARAS em maio último: “Em Portugal a televisão é fundamental para um ator, é o nosso ganha pão. Quando acabo uma novela sinto sempre uma sensação de alívio, porque normalmente são dez ou 12 meses de trabalho muito intensos, mas passados dois ou três meses começa o bichinho de querer regressar.” A verdade é que não considerava menor nenhum dos diversos registos artísticos por onde passou nem tinha vontade de se reformar. “Se tiver dificuldades em memorizar ou em locomover-me, terei consciência de que não posso continuar a viver mais e viverei das minhas recordações, Mas também acho que farei outro tipo de coisas… posso estar sentado a pensar em coisas…”, dizia, na mesma entrevista. Não chegou a precisar de pensar na reforma: apesar de ter enfrentado vários momentos de saúde delicados, com destaque para um cancro da próstata, que vencera em 2009, continuou a fazer televisão – estava a gravar a novela da TVI A Impostora, que ainda não estreou –, a dar aulas de representação e a alimentar projetos. Homenageado no Fantasporto no último dia 5 de março, dizia, com graça, que lhe apetecia fazer um filme de terror. Não chegou a poder pôr em prática todos os planos que tinha, mas viveu como tinha de viver: a trabalhar e a alimentar ideias.
Nicolau Breyner: Um talento natural
Foram mais de cinco décadas de vida artística. Fez teatro, cinema, televisão, foi pioneiro e veterano.