Partiu para o Rio de Janeiro confiante e com a sensação de dever cumprido. Depois de ter sofrido algumas lesões graves que o levaram a ponderar desistir da alta competição, Nelson Évora regressou com vontade acrescida de fazer honrar o nome de Portugal, com ou sem medalhas.
– Devido a uma lesão, em 2012, teve de desistir dos Jogos Olímpicos de Londres. Tornou-se mais cauteloso à medida que se aproximava a prova desta edição? Ou na competição ao mais alto nível não é possível fazê-lo?
Nelson Évora – A realidade é que, logo após a minha lesão, tornei-me mais cauteloso, naturalmente. Mais tarde, à medida que ia ganhando ritmo competitivo, e sabendo que só arriscando é que teria resultados, tive de pôr de parte essa cautela. A alta competição não é compatível com aqueles que se tornam cautelosos, porque não nos faz chegar ao nosso limite. E a alta competição é isso mesmo, levar-nos ao limite.
– Tem sofrido graves lesões nos últimos anos. Chegou a pôr em causa a continuidade da sua carreira enquanto desportista?
– Sem dúvida que nos momentos mais críticos foi algo que ponderei. Estaria a mentir se dissesse o contrário. A realidade é que as lesões custam muito. Mas, graças a Deus, consegui dar a volta, pois tive pessoas espetaculares ao meu lado que não me deixaram baixar os braços.
– Estes são os seus terceiros Jogos Olímpicos. O que levou na bagagem?
– Muita esperança, sentido do dever cumprido em termos de preparação e, acima de tudo, paixão pelo que faço.
– Tem algum ritual que goste de cumprir antes de entrar na pista?
– Não. Faço o meu aquecimento normal e ouço um pouco de música.
– É supersticioso?
– Não sou nada supersticioso.
– Em que é que pensa nos segundos que antecedem o salto?
– Não há muito em que pensar. Temos apenas de ter atenção a dois ou três aspetos. Por exemplo, se o vento está favorável. E sentir dentro de mim a energia que me vai fazer saltar. Por fim, aquele desejo enorme de, a partir do momento em que salto, não querer mais voltar a tocar no chão…
– Quem é que gostaria de ter ao seu lado para comemorar um bom salto ou para desabafar se a prova correr menos bem?
– As pessoas que me acompanham no dia a dia: a minha irmã, o meu melhor amigo e o meu treinador. É importante ter estas pessoas ao meu lado, porque foi com elas que construí tudo.
– Já tem planos para quando parar de competir?
– Tenho inúmeros. E os mais imediatos passam por completar os meus estudos.
– Tem 32 anos. Com os treinos intensivos e provas que exigem muitas ausências, consegue gerir a sua vida amorosa? Tem alguém a seu lado neste momento?
– O mundo da competição é, de facto, muito exigente, e neste momento não existe vida amorosa. São muitas competições, muitas provas, muitas ausências… Estou completamente focado no trabalho e não consegui deixar de me concentrar nisso e no meu grande objetivo: os Jogos Olímpicos. Depois disso, terei todo o tempo do mundo para me dedicar à vida amorosa.
– A vitória mais saborosa é aquela que…
– … merecemos ganhar. É aquela por que lutámos para ganhar, aquela em que sentimos que tudo se conjugou para que corresse da melhor forma.
– Qual o passo mais importante que deu na vida?
– Ter vindo viver para Portugal, sem dúvida. Se isso não tivesse acontecido, não teria construído tudo o que construí até hoje.
Nelson Évora: “Depois dos jogos já me poderei dedicar à vida amorosa”
Aos 32 anos, o atleta de triplo salto admite que a exigência da alta competição o tem impedido de investir na vida pessoal.
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