Sofia Ribeiro lutou contra um cancro da mama durante nove meses e, apesar de ter deixado os fãs a par de todos os momentos desta dura batalha, decidiu partilhar nas redes sociais um longo texto onde explica como recebeu o diagnóstico e as cirurgias e tratamentos pelos quais passou.
A atriz, de 32 anos, foi convidada para ser diretora por um dia do jornal Destak, de forma a assinalar o mês da prevenção e sensibilização para o diagnóstico precoce do cancro da mama.
“O mês de outubro é um mês de sensibilização para a prevenção e diagnóstico precoce do cancro de mama mas todos os meses deveriam ser Outubros.
O Cancro é um tema cada vez mais comum nos dias que correm. Infelizmente, nem sempre pelos melhores motivos mas caminhamos no bom sentido. Prova disso são os cada vez mais casos de sucesso, embora ainda muito haja por fazer.
Já lá vai o tempo em que o Cancro era uma realidade quase desconhecida, uma realidade longínqua onde ouvíamos falar de muito em muito tempo numa parente afastada, uma vizinha com quem habitualmente nem nos cruzávamos, uma avó de um conhecido…
Hoje em dia a história mudou de figura. Com certeza, todos nós já vivemos e sofremos de perto, com, pelo menos, um caso de cancro. O que não é, convenhamos, uma coisa boa.
Na minha visão das coisas, que naturalmente, vale o que vale. Seguimos no bom caminho, contudo, O Cancro é hoje, cada vez menos sim, mas ainda assim, é, em pleno sec XXI, um tabu. Ainda existe um enorme estigma à volta do tema. “Ah eu prefiro nem dizer essa palavra”
Cancro é uma doença mas não se pega! O Cancro é uma grande m**** sim. Não escolhe idades, não é um castigo, nem é por merecimento. E é exatamente por isso que nos leva tanta gente querida. Pode acontecer a qualquer pessoa desde que esteja viva. Tantas pessoas morrem com outras doenças, por que é que o Cancro é tabu? Está na hora de mudar isso! Quanto mais se falar no assunto, mais informadas estão as pessoas. Tanto sobre como prevenir a doença, quanto sobre os diversos tratamentos e como lidar com as pessoas que estão a enfrenta-la.
Mais que o medo legitimo, é fundamental despertar consciências e estarmos atentas/os aos sinais do nosso corpo.
Foi no fim de Setembro do ano passado, num banho normal, num dia igual a tantos outros ( achei eu na altura ) que descobri um caroço na minha mama. Para mim, desde muito cedo era comum fazer palpação porque há vários anos atrás, em mais uma ecografia mamária de rotina, foi me detetada uma pequena fibrose. Na altura fiquei bastante assustada mas rapidamente me tranquilizei quando me foi dito que não era nada de mais, e que é uma coisa perfeitamente comum em nós mulheres. A verdade é que, desde esse momento, eu que já era atenta, mais fiquei.
Fui fazendo as minhas palpações, os meus check-ups anuais como sempre até então, assim como as eco mamarias.
Esteve sempre tudo bem, até que no tal banho sinto um alto. Exatamente na mesma mama.
Na altura, confesso, senti-o, registei mas não lhe dei importância . Afinal eu tinha feito o meu check-up há mais ou menos quatro,cinco meses e estava tudo certo. Eu sentia-me bem, cansada, mas bem. Estava cheia de trabalho, as horas de sono eram poucas entre o fim de uma novela e uma peça de teatro no porto. Eventos, festas e afins, não tinha tempo para perder com coisas ( nódulo na mama ) que no momento não tinham nenhuma importância para mim.
A verdade é que, no meio deste corre, corre ele estava lá, o caroço! E os dias iam passando e ele, primeiro timidamente, depois já sem vergonha nenhuma, fazia-se ver e sentir. Não contente, começou a doer.
Passou mais ou menos um mês e era impossível não notá-lo a “olho nu”. Foram poucas as pessoas com quem falei na altura e todas diziam o mesmo. “ isso não é nada!” , “O Cancro não dói!” , “ Se é grande não é Cancro!”, “ Isso deve ser um Quisto!”…. E por ai fora… Tudo mitos. Há sim sinais comuns, mas cada caso é um caso. Cada Cancro é um Cancro e cada pessoa reage de forma diferente ao mesmo,bem como aos seus tratamentos.
Uma noite, durante o fim de semana acordo a meio da noite porque a mama me doía, e nesse mesmo dia decido marcar uma consulta com um especialista, o mais rápido possível.
Podia até não ser nada mas o meu coração já estava apertado e não, eu não queria deixar passar mais tempo, não descansava enquanto não ficasse a saber o se passava comigo. Resumindo, na semana seguinte dava inicio um novo ciclo para mim.
Eu que nunca tinha partido um osso , (a cabeça e o queixo não contam)! Até há algum tempo atrás só tinha tirado sangue para fazer exames de rotina. Sementes, fruta, legumes, verduras peixe e carnes brancas?éramos íntimos! Fazia atividade física com muita regularidade e apesar disso e de tantas outras coisas em busca do que achamos hoje, ser saudável, há 11 meses atrás fui diagnosticada com um cancro da mama que veio mudar para sempre a minha vida.
Olhando para trás, passei por injeções várias para estimular a ovulação, meses de quimioterapia, exames, análises, agulhas de perder a conta a entrar e sair do meu corpo, 3 cirurgias, 2 anestesias gerais, 1 sedação, um mês de radioterapia, incontáveis horas em diversos hospitais, médicos e salas de espera, entre tantas outras coisas que nunca, nem nos piores pesadelos fizeram parte do meu dia-a-dia.
Não satisfeita com a lista acima , também pude experiênciar cortar o cabelo, rapar a cabeça, ser careca durante uns 6 meses, sentir das melhores sensações da minha vida.. a água a cair na cabeça todos os banhos! Mudei a pele, vi-me mudar de cor. Vi a minha cara, o meu corpo e a minha alma deformada. Tive a pele mais macia que veludo e mais pálida que um fantasma. Perdi as minhas grandes mamocas mas ganhei leveza para os 8 quilinhos que chegaram com tudo. Aprendi a lidar com ausências como com o cansaço. Frios, calores repentinos e intensos da “menopausa” ( que me vão acompanhar nos próximos 5 anos por conta do comprimidinho cor de rosa, o Tamoxifeno)… Chorei babá e ranho, passei noites acordada e dias a dormir, senti-me perdida, com medo, insegura, zangada.. achei algumas vezes que ia perder as forças, mas ri muito, vi pores do sol e fiz tudo o que tive vontade!…Ou quase tudo!… Parece fácil não é? E longe de mim estar a vitimizar-me nada disso! Nem é esse o meu espirito. Até porque o meu caso perto de tantos outros é uma história de embalar. Ainda acredito mesmo que o Cancro veio para mim como uma oportunidade de fazer e viver melhor.
O Cancro caiu na minha vida como uma daquelas chuvas torrenciais que faz a cidade parar e quando vemos está tudo alagado. Não depende de nós, não sabemos o que fazer, como encontrar um caminho para fugir e chegar ao destino parece impossível.
Até que a chuva começa a acalmar, os carros voltam a andar, o trânsito começa a fluir lentamente…
Essa chuva eu não tive como controlar, mas felizmente fui a tempo de minimizar os estragos.
No meu caso, a capacidade de evolução do meu Cancro era muito considerável, mais um bocadinho e era quase uma pequena bola de ping pong, felizmente para mim, foi impossível não dar por ele mas nem sempre é assim, por vezes um descuido e pode ser tarde de mais.
Toda esta partilha para dizer que acredito piamente que um diagnóstico precoce pode, e na maior parte dos casos, faz toda a diferença. No meu fez.
Estima-se que no nosso país morrem, por ano, cerca de 1500 mulheres com cancro de mama.
Vamos por favor fazer a nossa parte e fazer com que este número seja cada vez menor. Façam o auto exame, tocar nas nossas mamas e estar atentas a alterações é fundamental. Não são balelas. Dúvidas? Não tenham vergonha, perguntem, falem com o vosso médico.
Como prevenir? Este é um tema bastante controverso e mesmo na comunidade medico/cientifica os discursos muitas vezes divergem. Contudo, são vários os estudos que dizem ser diversos os tipos de Cancro que podem ser evitados com mudanças no estilo de vida. Menos stress, uma alimentação saudável e variada, dormir bem e a prática de exercício fisico com regularidade são factores apontados como essenciais no combate ao Cancro.
Há quase um ano a minha prioridade era o meu trabalho, o meu crescimento e evolução profissional. Trabalhar o mais possível era o meu centro. Era o lema… Bem como Juntar o meu pé de meia para um dia conseguir proporcionar aos meus filhos alguma estabilidade e bases minimamente sólidas, para um dia escolherem o seu caminho.
No mínimo irónico! Quase um ano depois e eu não tenho filhos, nem sei se algum dia os terei, pelo menos biológicos não sei, por conta dos possíveis estragos causados pela quimioterapia.
Mas sei que, pouco ou nada importa o que quer que seja, se a nossa saúde não estiver em primeiro lugar.
No momento em que a ficha cai é que entendemos que o nosso tempo de vida é limitado e precioso . É nesse momento que nos deparamos com a possibilidade de finitude, quando se coloca as coisas numa balança e se dá prioridade ao que realmente é necessário.
Por mais informação que se tenha, por mais perto que se esteja de um doente de Cancro, só se tem a real noção, só se entende a verdadeira dimensão, quando é connosco.
Por mais que tente explicar, quem não passou por um Cancro não tem tempo para coisas que neste momento não lhe são importantes.
O meu caso não é diferente de tantos outros, não é mais difícil ou leve, não merece mais atenção que o de alguém. Apenas é o meu. Sou eu, mulher, 32 anos, com uma profissão publica mas nem mais, nem menos que outra mulher, a fazer o que o meu coração diz. Partilho com o “mundo” a minha experiência, o meu olhar, a minha luta porque acho que todos nós, cada um à sua maneira temos o dever de alertar e agitar consciências.
Somos mulheres, simplesmente especiais. Somos dom, somos dádiva, não vamos desperdiçar isso.
Toca-te. Olha-te. Cuida-te e confia.
Bom fim de semana!
Sorrisos cor-de-rosa”.
Sofia Ribeiro: “O cancro veio para mim como uma oportunidade de fazer e viver melhor”
A atriz escreveu uma longa mensagem nas redes sociais para assinalar o mês da prevenção e sensibilização para o diagnóstico precoce do cancro da mama.