Era apenas uma sessão fotográfica, mas mal se deparou com a objetiva, Joana Ribeiro assumiu logo uma personagem, explorando a simbiose entre o real e o imaginário. Enquanto deambulava pelos jardins da Quinta Nova da Assunção, em Belas, vestiu a pele de Alice no País das Maravilhas, mostrando que a maturidade dos seus 24 anos não lhe roubou a imaginação ou a capacidade de sonhar. Já no papel de Cinderela, Joana recusou-se a esperar que o príncipe encantado lhe devolvesse um dos sapatos, segurando-os firmes na mão, como quem sabe exatamente o caminho a seguir e os passos a dar. E foi esta mesma segurança e vontade de lutar pelos seus sonhos que a levaram a pisar os palcos pela primeira vez com a peça O Autor, em cena no Auditório Fernando Lopes-Graça, em Cascais. Dando corpo e voz ao teatro experimental, a atriz quer continuar a provar o seu valor, sem recorrer ao sucesso que alcançou quase instantaneamente na televisão. Dias antes de se estrear, Joana contou como é que a representação tem influenciado a sua forma de estar na vida, desvendando também algumas linhas do guião daquela que é a sua ‘novela’ pessoal.
– Neste cenário idílico, quase que parecia a Alice no País das Maravilhas. É fácil para si preservar esse lado mais onírico e dar asas à imaginação?
Joana Ribeiro – Sempre tive uma imaginação muito fértil. Gosto de viver no meu mundo e de imaginar muitas histórias. Gosto de perceber até onde a imaginação me pode levar. É através dela que criamos e isso atrai-me. Tenho um lado muito onírico, mas também tenho os pés bem assentes na terra. Sei que isto é tudo muito bonito, mas, no final do dia, há contas para pagar. Não podemos ficar sempre no mundo do faz de conta.
– E é talvez por ter os pés bem assentes na terra que passa a ideia de que é uma pessoa muito certinha. Identifica-se com esta imagem?
– Mas o que é ser uma pessoa muito certinha? Faço disparates, mas sou boa pessoa. Nunca fiz mal a ninguém. Se isso faz de mim uma menina certinha, se calhar sou. Os meus pais nunca me impuseram muitas regras, sempre tive liberdade para fazer o que queria. Nunca tive de fazer asneiras para provar determinado ponto de vista.
– E foi esta vontade de fazer sempre o que quer que a levou a aventurar-se no teatro?
– Há muito tempo que tinha vontade de fazer teatro, até porque é algo bastante importante para um ator. A própria natureza da peça despertou-me muito interesse, porque é teatro experimental. Esta peça do Tim Crouch é basicamente uma conversa entre dois atores, o encenador e uma pessoa do público. Supostamente estão a falar do processo de ensaio de uma peça que fizeram, mas, na realidade, essa peça nunca existiu. E é muito interessante, porque joga com o que é e não é real. Nem nós sabemos o que é verdade ou não. O Tim Crouch tem sempre esta vontade de provocar e de fazer diferente. Ele defende que o teatro na sua forma mais crua é uma arte conceptual: não precisa de cenários, de figurinos ou de adereços. Precisa apenas da imaginação do público. Esta peça baseia-se muito nas imagens que as palavras espoletam. É como ler um livro.
– Está a ser, portanto, um trabalho muito desafiante para si…
– Sim, até porque é um texto muito difícil que nos obriga a interagir com o público. É um espetáculo desconfortável, tanto para o público como para nós, atores, porque estamos completamente expostos. Não tenho lá uma câmara nem há a possibilidade de dizer “corta”. Se me enganar, vou ter mesmo de saber lidar com isso. Mas esse é o lado bonito e único do teatro. Depois, esta peça interpela-nos sobre o quão culpados somos em relação àquilo que vemos, por exemplo. E tendo em conta tudo o que está a acontecer no mundo, como o drama dos refugiados, o terrorismo, as eleições nos EUA, começamos mesmo a questionar-nos sobre as nossas atitudes e a nossa responsabilidade em todas as situações.
– E para alguém que gosta de fazer listas e de ter, de alguma maneira, as coisas sob controlo, é fácil lidar com a imprevisibilidade do teatro e até da própria vida?
– Gosto muito de listas, mas estou sempre disposta a que mudem. Quebramos regras todos os dias. Às vezes, assusta-me ficar sem chão. Contudo, foi esse sentimento que me atraiu na representação, que é uma área tão imprevisível. Nunca sei o que vai acontecer, porque de um momento para o outro tudo muda. Estou preparada para errar, para fazer mal. Nesta profissão, ou melhor, neste modo de estar na vida, temos de arriscar e de ‘dar o peito às balas.’ O meu pai sempre me disse que há pessoas que aprendem com os seus erros e outras que aprendem com os erros dos outros. Eu sempre gostei de aprender com os meus erros.
– Para si, ser atriz é mais do que uma profissão?
– Sim, ser atriz é um modo de estar na vida. Ao pesquisar para uma personagem, aprendo muitas coisas enquanto Joana. Há uma mistura constante de aprendizagens.
– Não obstante essa ‘mistura’, a Joana parece separar muito bem a sua vida profissional da pessoal, nunca tendo comentado, por exemplo, o seu namoro com o seu colega João Jesus. Tem sido fácil manter esse lado privado longe da curiosidade do público?
– Sim. Quando começaram a perguntar-me sobre a minha vida privada, percebi que isso não interessava nada. Quero que as pessoas me conheçam pelo meu trabalho. Não é por namorar com determinada pessoa ou por ser amiga de alguém que devo ser falada. Se as pessoas souberem tudo da minha vida, mais dificilmente acreditam nas minhas personagens. E com as redes sociais, que vieram tornar tudo ainda mais mediatizado, a nossa vida pessoal tornou-se o nosso bem mais precioso. Por isso, vou continuar sem falar sobre isso.
– É romântica? Imagina-se com alguém para o resto da vida?
– Gosto de acreditar nisso e sou pessoa romântica até certo ponto… Nos dias que correm é difícil as pessoas ficarem juntas para o resto da vida. Se calhar digo isto por ser filha de pais separados. Não sei… É algo em que não penso muito.
Produção: Patrícia Pinto | Maquilhagem: Raquel Peres
Joana Ribeiro: “Sou romântica até certo ponto”
_Mike_Sergeant
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A estrear-se no teatro, com a peça ‘O Autor’, a atriz revela quais as paixões que a movem.