A timidez e subtileza que coabitam em Margarida Moreira levam-na a evitar holofotes. Até porque não se alimenta deles para se sentir feliz. Repleta de luz própria, a atriz tem conseguido afirmar-se no cinema, no teatro e na televisão, muito por culpa da entrega total que dá à profissão. “Este é um trabalho de encontro e desencontro dentro de nós. Não posso ir para palco sem estar a honrar o que estou a fazer. E isso requer muito trabalho e dedicação”, defende a atriz, que aceitou falar de forma transparente de tudo o que a habita nesta produção que fez no Castelo da CARAS.
– Sentiu-se uma princesa dos tempos modernos hoje?
Margarida Moreira – Sem dúvida. O sítio é mágico, as roupas maravilhosas, portanto, senti-me uma princesa, como todas as mulheres se deviam sentir.
– Quando era criança fantasiava com contos de fadas?
– Sim, sempre fizeram parte do meu imaginário. E ainda hoje, não acreditando propriamente em contos de fadas, acho que a vida consegue trazer-nos vários pormenores desse universo. Tenho provas dessa magia todos os dias. Mesmo nas fases complicadas, a vida traz-nos coisas boas, basta sabermos estar disponíveis para as ver.
– Acredita em finais felizes?
– Sim. Eu exijo finais felizes!
– E já encontrou o seu?
– Todos os dias olho para as coisas que vou fazendo e conseguindo e reconheço que tenho tido vários finais e recomeços felizes. Também tenho tido alguns menos bons, mas que me levam a outros finais mais felizes ainda. Às vezes o final não é aquele que esperávamos, mas é apenas o início de outro muito melhor.
– É importante saber aceitar isso?
– Sim, porque há muita coisa que não depende de nós. Acontece-me muitas vezes passar por determinadas coisas que não correram como planeei, mas depois, mais à frente, tudo faz sentido. Talvez seja uma romântica por acreditar nisto, mas quero ser romântica até ao fim.
– É uma mulher segura?
– Não! Tenho o meu lado de mulher segura e forte, mas também sou insegura e frágil. Sou o misto das duas coisas e aprendi a aceitar-me assim. Sabermos lidar com as nossas fragilidades e aceitá-las é uma questão de força. Continuo a ter a Margarida criança no meu âmago e é isso que mantém a essência.
– Como é essa Margarida?
– Não sei dizer exatamente, mas sei que continuo a olhar para o mundo da mesma forma. As pessoas à minha volta talvez me julguem muito inocente, mas no dia em que perder a inocência, muita coisa vai ter que morrer dentro de mim. Por mais que aconteçam coisas menos boas ou haja pessoas que nos desiludam, não deveríamos alterar essa inocência. Devemos olhar para o outro de coração aberto.
– Nunca precisou de ser salva por um príncipe encantado?
– O amor salva-nos de muita coisa. Por isso, sim, o príncipe encantado ajuda-nos a salvarmo-nos e a acreditarmos em nós próprias. Porque o amor – quando dá e não é um amor egoísta – só pode ajudar o outro a olhar melhor para ele próprio, a acreditar nele e a superar-se. Neste sentido, sim, sou salva várias vezes e tento também salvar.
– Neste momento vive um amor assim?
– Sim. Sou privilegiada nesse aspeto.
– O que é que valoriza na pessoa que tem ao seu lado?
– A sinceridade, a honestidade, o conseguir estar lá para o outro, vê-lo e aceitá-lo. E partilhar tudo. Só faz sentido um amor quando ele nos completa e quando é um espaço onde podemos estar exatamente como somos, sem artifícios. As pessoas têm muitas vezes medo de se entregar, mas se não for essa a finalidade, não tem grande interesse, mais vale estarmos sozinhos. Só faz sentido estar com alguém que nos complete. Nunca fui de ter relações sem estar apaixonada e precisei de estar sozinha durante muito tempo para finalmente encontrar algo que não procurei, mas que é muito bom. É o meu pedacinho de magia.
– Com que outros pedacinhos de magia gostava de ser presenteada este Natal?
– Adoro o Natal. Sou feliz e nesses dias sinto e tento projetar para o futuro essa felicidade de estar viva, de estar com a família. Sou muito apegada à família.
– Gostava de um dia viver esse espírito no papel de mãe?
– Sim. Nunca tive o sonho de me casar e de ser mãe. Sempre achei que eram aquelas coisas que iam acontecer naturalmente. É uma grande responsabilidade criar um ser humano e não me ia sentir bem comigo própria se decidisse ter um filho para ser criado por outras pessoas. Por isso, sempre acreditei que no dia em que tivesse um filho, seria uma mãe presente. As crianças são afastadas dos pais muito cedo e isso é contranatura. Sendo eu atriz, nem sempre é fácil fazer paragens para que esta vontade aconteça.
– É difícil viver nessa inconstância própria da profissão?
– Por um lado, é uma coisa que me traz muita insegurança. Vai acabar agora o projeto Rainha das Flores e dá aquele aperto por não saber como vai ser o futuro. Por outro lado, sempre fui tendo vários projetos em teatro e nunca fui de ficar parada. Encaro cada trabalho como uma viagem emocional, tem coisas boas e menos boas. Quando há trabalho, é maravilhoso. Um ator é ator a trabalhar. Estou habituada à inconstância, mas ter um trabalho garantido é um conforto, traz muita paz interior.
Produção: Patrícia Pinto
Margarida Moreira: “No dia em que perder a inocência, muita coisa vai morrer dentro de mim”
Margarida Moreira não podia estar mais feliz por fazer parte do elenco da telenovela da SIC “Rainha das Flores”. Com o projeto a chegar ao fim, a atriz admite a vontade de continuar a fazer televisão em 2017.
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