Com uma atividade política nacional e internacional que se estendeu por mais de 70 anos – fosse na linha da frente ou nos bastidores, na oposição ou na governação, como ministro, primeiro-ministro, Presidente da República, eurodeputado, vice-presidente da Internacional Socialista ou membro de inúmeras outras organizações internacionais, entre elas o Comité Promotor do Contrato Mundial da Água –, Mário Soares, um comunicador nato que sabia fazer charme como ninguém, conheceu todo o tipo de pessoas, nos quatro cantos do mundo: gente do bem e do mal, da guerra e da paz, ricos e pobres, monarcas e republicanos, operários, soldados e camponeses, religiosos e ateus, nomes pequenos e grandes das letras, das artes plásticas, do espetáculo, da ciência, da finança.
Quando, em 1973, fundou o PS, na Alemanha, Soares já estava exilado em França há três anos. Estabelecera, entretanto, contactos com líderes socialistas e sociais democratas da maior parte dos países da Europa, tornando-se próximo, sobretudo, do francês François Mitterrand, do alemão Willy Brandt, do sueco Olof Palme, do italiano Pietro Nenni, e tinha conseguido, em 72, que a Internacional Socialista reconhecesse o movimento que criara em 64, a Acção Socialista Portuguesa.
Esses conhecimentos valeram-lhe, no regresso a Portugal, após o 25 de Abril, que a Junta de Salvação Nacional o incumbisse de viajar por vários países da Europa para conseguir o reconhecimento diplomático do novo regime. E, em seguida, o convite para assumir a pasta dos Negócios Estrangeiros nos I, II e III Governos Provisórios.
Depois da vitória do PS nas primeiras eleições livres, realizadas em 1976, Soares tornou-se primeiro-ministro. E logo no ano seguinte começou a trabalhar no pedido de adesão de Portugal à CEE, que seria concluído com a assinatura do Tratado de Adesão, em junho de 85, quando dirigia o IX Governo Constitucional.
Eleito à segunda volta nas Presidenciais de 1986, dedicar-se-ia, nos seus dois mandatos, a consolidar a imagem de Portugal no mundo, efetuando inúmeras visitas oficiais e participando em diversas cimeiras de chefes de Estado. E a sua vocação internacional reafirmar-se-ia ainda no Parlamento Europeu, onde foi deputado de 1999 a 2004.
No seu primeiro discurso como chefe de Estado, Soares assumiu-se, a partir desse momento, como o Presidente de todos os portugueses. Palavras conciliadoras que não aplanaram as inimizades. Que também não lhe faltaram. Afinal, qual o político que não as coleciona?
Especial Mário Soares: O Nome Mais internacional da Política Portuguesa do seu tempo
Os conhecimentos internacionais valeram-lhe o convite para a pasta dos Negócios Estrangeiros no pós-25 de Abril.