A representação chegou cedo à vida do canadiano Ryan Gosling, de 36 anos, que nunca pensou sequer fazer outra coisa na vida: aos 12 anos já fazia parte do elenco fixo do programa de televisão da Disney The Mickey Mouse Club, onde foi colega de Justin Timberlake, Christina Aguilera e Britney Spears. A vocação despertou na pré-adolescência, época em que foi expulso da escola na sequência de uma perigosa brincadeira com facas, inspirada num dos filmes da saga Rambo. Quando recentemente lhe perguntaram porque que é que estava tão zangado que resolveu levar para a escola um conjunto de facas que atirou aos colegas, respondeu que não estava zangado, mas que simplesmente “ainda estava no filme”. O episódio valeu-lhe um ano de aulas em casa – com a mãe, secretária de profissão, já que o pai trabalhava como caixeiro-viajante – e o rótulo de criança hiperativa e com défice de atenção. Foi precisamente nessa altura que um tio começou a fazer um espetáculo em que imitava Elvis Presley e tanto Gosling como a irmã, Mandi, se juntaram à performance. “De repente, foi como se se tivesse aberto uma porta”, recorda o ator, que passou a fazer espetáculos musicais com frequência em parceria com a irmã.
A entrada para uma escola de representação e artes em Ontário, cidade onde vivia, tornou-se a escolha mais óbvia e o sucesso no casting para o já referido programa da Disney abriu-lhe as portas de Los Angeles. O resto é uma história clássica em Hollywood: papéis diversos em séries de televisão, depois alguns filmes, até que um deles lhe deu a fama. Concretamente, O Diário da Nossa Paixão, que fez em 2004. Dois anos depois receberia a primeira nomeação para os Óscares, com Half Nelson. Os filmes Risco Duplo, Nos Idos de Março, Bons Rapazes ou A Queda de Wall Street são alguns dos seus trabalhos mais relevantes. E agora está nomeado para o Óscar de Melhor Ator, pelo desempenho no filme-sensação do ano, La La Land – Melodia de Amor. Curiosamente, e apesar de ter tido um percurso que aparenta ter sido fácil, revela que muitos dos castings frustrantes por que passa a personagem de Emma Stone no filme, uma aspirante a atriz, são inspirados na sua própria experiência. Mas garante que as rejeições em nada o traumatizaram. “Podia ser pior. É só o teu ego, é apenas embaraçoso e humilhante. Não é como se fossemos cirurgiões e falhar pudesse significar a morte de alguém”, argumenta, com ar cool. E é isso que Gosling parece ser hoje em dia: um tipo fleumático e de pés assentes na terra, uma celebridade contida e inteligente nas entrevistas, onde nunca diz mais do que quer nem deixa devassar a sua vida privada. Durante algum tempo nem se soube os nomes das duas filhas que tem com a também atriz Eva Mendes, Esmeralda, de dois anos, e Amada, que faz um ano em abril, embora confesse, sem hesitações, que “ser pai foi a melhor coisa que me aconteceu na vida” e que formar uma família acabou com todos os sentimentos de solidão.
Igualmente rendido à profissão que escolheu, hesita em encontrar-lhe aspetos negativos: “Sinto-me afortunado por fazer o que gosto. Não posso mesmo queixar-me de nada.” Por isso se dedica a cem por cento. Basta referir que em três meses aprendeu a tocar piano para fazer o pianista de jazz de La La Land. E diz, com o ar mais sério deste mundo, que o feito está ao alcance de todos. Basta praticar.