Peregrinação é o mais recente trabalho de Dulce Pontes. E, de facto, nenhum outro título traduziria de forma mais fiel a procura musical e espiritual que a cantora empreendeu nos últimos anos. Nestes caminhos, a artista foi ‘apresentada’ a outras sonoridades, emoções e até formas de estar na vida. Há cerca de seis anos, mudou-se com o marido, Nuno, e os filhos, José, de 15, e Maria, de oito, para Samil, uma aldeia perto de Bragança. Foi neste seu reduto com vista para “um mar de bruma” que encontrou o silêncio e a solidão de que precisava para criar.
A promover este seu CD duplo, a cantora, de 47 anos, conversou com a CARAS, revelando a mulher e a artista que é depois desta demanda para encontrar o melhor de si.
– Esta Peregrinação foi uma experiência transformadora?
Dulce Pontes – Sim! Sabe bem dizer que estou aqui, sobretudo depois de ter passado tanto tempo a trabalhar neste álbum. Experimentei muitos destes temas com o público e só depois os gravei. Gosto de experienciar essa sensibilidade que levo depois para o estúdio. Comigo, as coisas acontecem sempre um bocadinho ao contrário [risos]. O Peregrinação reflete não só as várias viagens que fiz, como também os momentos de muita concentração e solidão que vivi em Bragança. Muitos temas foram gravados na quietude do pequeno estúdio que tenho em casa, e que antes era uma adega. Essas madrugadas em casa permitiram-me experimentar muitas sonoridades. Os miúdos já estavam na cama, havia silêncio e só assim consegui fazê-lo. Essa peregrinação passa também por um olhar para dentro, uma espécie de viagem interna.
– E o que descobriu sobre si enquanto mulher e artista?
– Tenho vindo a descobrir… Quis transmitir os vários estados de alma de quem atravessa um caminho em busca de um bocadinho do divino. Como a arte busca a perfeição, há entre estas duas ideias uma conexão, porque a perfeição só existe mesmo num nível superior. Tenho como objetivo chegar às pessoas através da sensibilidade. Não tenho religião e a música acaba por ser o exercício da minha espiritualidade. Sou cristã, acredito em Cristo e em Deus como força criadora, mas não me encaixo em nenhuma religião. O facto de me poder expressar através da música é um privilégio e um dom enorme que Deus me deu. E tenho de o honrar.
– Deu títulos muito intimistas aos dois CD: Nudez e Puertos de Abrigo. Sente-se exposta neste trabalho?
– Procuro essa nudez sempre que subo ao palco e estou com o público. Somos todos som e estamos juntos a sentir e a fazer uma viagem. Este meio do music business não é muito dado à nudez e arriscamo-nos a sofrer bastante com isso. Mas para mim essa nudez está muito presente no palco. Peregrinamos por vários estados de espírito. E nos meus concertos o público faz essa viagem comigo. Não vale a pena fazer as coisas para o meu umbigo. Gostava que fosse um disco útil para o público, que o ajudasse na sua introspeção. Estar lá para as pessoas é a minha grande missão na música.
Leia esta entrevista na íntegra na edição 1128 da revista CARAS.
Assinatura Digital
Apple Store
Google Play
Vídeo de ‘making of’ da sessão fotográfica que acompanha a entrevista:
Dulce Pontes garante: “Nunca deixei de ser quem sou nem de fazer o que me dá na gana”
Com quase 30 anos de carreira, a cantora relata a ‘peregrinação’ que tem feito pelos caminhos da música e da vida.