Filha de uma prima ballerina e de um músico, ambos russos, Anna Eremin tinha três anos quando veio para Portugal. Durante a sua infância viajou com os pais para todo o lado. Foi a concertos, a museus, viu filmes e começou a ler. Encontrou na arte uma companheira, e hoje, aos 27 anos, já não se imagina sem criar, sem interpretar outras vidas, sem tocar os outros com o seu talento.
Tal como numa relação amorosa, a atriz e a representação têm os seus altos e baixos. Se, por um lado, a sua entrega às personagens lhe proporciona uma alegria e entusiasmo eufóricos, por outro, é dolorosa, exigente e totalitária. E é nesta amplitude de emoções, neste tudo ou nada, que Anna vive a sua história, dentro e fora de cena.
Numa conversa sincera e sem tabus, a atriz revisitou o seu percurso, partilhou os seus sonhos e mostrou o seu lado mais emotivo e íntimo. Subiu ao “seu” palco, mas desta vez sem máscaras e em nome próprio.
– Como é que uma russa vem parar a Portugal?
Anna Eremin – Estamos no início dos anos 90. A minha mãe era prima ballerina e teve de fazer uma pausa para se dedicar à maternidade. Na altura, o quarteto onde o meu pai era pianista foi convidado para ficar em Portugal. O meu pai aceitou e viemos todos. Eu tinha três anos. Nesses primeiros tempos, até entrar na primária, andámos de um lado para o outro. Sempre que o meu tinha um concerto fora de Portugal, íamos com ele. Passei muito tempo com os meus pais.
– Ter tanto mundo desde pequena foi determinante para a mulher que é hoje?
– Sim, foi. Tudo o que aprendemos quando somos pequenos fica para a vida. Cresci em Portugal, mas era como se estivesse na Rússia. Aprendi a falar russo, lia em russo, via filmes russos… Só comecei a falar português quando fui para a primária. Os meus pais são artistas e cresci rodeada de arte. Por isso, quando chegou a altura de decidir o meu futuro profissional, não foi muito difícil perceber qual era a área que mais me fascinava. Os meus pais queriam que fosse advogada ou jornalista, porque sabem o quão difícil é ser artista. Todos os dias temos de nos confrontar com as nossas inseguranças e medos. É um processo doloroso.
O processo criativo é sempre doloroso?
– É sempre doloroso porque mexe com as nossas entranhas. Estamos constantemente a analisar o que fizemos, o que poderíamos melhorar… Quando comecei a trabalhar como atriz, percebi logo que era o que queria fazer para o resto da vida. Esta profissão é mágica, porque me permite tocar o coração das outras pessoas, o que é muito gratificante. Ver alguém emocionar-se com algo que faço é maravilhoso. Como atriz, posso ser uma criança para sempre, porque brinco ao faz-de-conta. Não consigo imaginar nada melhor do que isso.
Leia esta entrevista na íntegra na edição 1182 da revista CARAS.
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