Entramos no Palácio de Seteais, em Sintra, e ainda estamos no corredor que dá acesso ao quarto onde Luísa Castel-Branco está a ser maquilhada quando ouvimos a sua inconfundível gargalhada. Sonora, genuína, contagiante. Ficamos logo com um sorriso rasgado e soltamos: “Olá, Luísa, é sempre um prazer!” Luísa retribui. Prepara-se num ápice, não tem manias nem faz exigências, ou melhor, faz duas: “Não quero ver as fotografias e não quero que façam Photoshop. A partir daqui, estou por vossa conta.” E esteve.
Aos 64 anos, Luísa assumiu cada ruga e, com o verde dos seus olhos, prendeu a câmara com garra, como quem sabe perfeitamente o que tem de fazer. Mesmo que não seja bem assim. É que a escritora e comentadora do Passadeira Vermelha, da SIC CARAS, é uma mulher com inseguranças, que nunca gostou de ouvir a sua voz nem de se ver ao espelho. Bem, até há pouco tempo, quando conseguiu, com uma dieta especializada, emagrecer 14 quilos. Por momentos esquecemos que estes dois últimos anos foram demolidores para Luísa em termos de saúde. As sequelas do AVC que sofreu há cerca de 14 anos estão lá, os sinais da hidradenite supurativa, a doença autoimune de que padece, estão lá e a tuberculose passiva também. Adversidades que, no entanto, não a fizeram desistir. Mesmo que quisesse, o amor que recebe diariamente de Francisco Colaço, o homem que conquistou o seu coração há 23 anos, dos filhos, António, de 39 anos, Gonçalo, de 37, e Inês, de 36, e dos seis netos, Inês, de 13 anos, Simão, de sete, António e Vasco, de cinco, Pedro, de três, e Luísa, de seis meses, fala mais alto. Luísa é uma mulher de armas, que nunca baixou os braços e para quem o facto de ser sexagenária não retira o prazer de aprender e de aceitar novos desafios, o mais recente dos quais um canal no Youtube.
– “Especialista em Coisa Nenhuma” é o nome do seu canal. Porquê?
Luísa – Porque é isso que a vida nos dá. Temos ideias, opiniões sobre várias coisas, mas não somos especialistas em nada. [Risos.]
– Não é verdade. A Luísa mostrou nestes dois últimos anos, em que a sua doença autoimune se manifestou mais intensamente, que é especialista em adaptação, resiliência, luta.
– Bem, visto assim, é verdade. Já tinha um respeito enorme pelas pessoas que têm doenças autoimunes, e hoje ainda mais. É viver todos os dias cheia de dores, sem saber como irei acordar. Por vezes, ter de me arrastar para cumprir as minhas obrigações profissionais.
– Mas voltando ao canal. Não é para todos, com 64 anos, aventurar-se no mundo digital…
– [Risos] Não, não é. E quando pensei em fazer isto achei que iria ser um projeto relacionado com croché, tricô, duas das coisas que me dão prazer fazer. Mas acabei por ser desafiada pelo Nuno Santiago, da Media Camp, e pela Cláudia Rodrigues, das Produções Clandestinas, para ter um canal onde falo do que me apetece, dos problemas comuns às pessoas da minha idade, e tem sido uma aventura que me tem dado muito gozo. Quando vou gravar, não sei para onde vou nem o que irei fazer, é genuinamente natural e divirto-me imenso. Há uma altura da vida em que cada desafio é uma pérola.
– Não. Não suporto ouvir a minha voz, é arrogante! [Risos.]
– Eu diria que é uma voz que transmite segurança…
– Mas sou extremamente insegura, profundamente triste.
– Mas depois dá gargalhadas que enchem a alma!
– [Risos] As pessoas que me estão a ver em casa não têm nada a ver com os meus problemas, embora seja eu mesma, não estou a representar. Sou desbocada e digo sinceramente o que penso. Aliás, os meus filhos odeiam que faça televisão! [Risos.]
fotos: João Lima Produção: Rita Vilhena
Maquilhagem: Madalena Martins
Leia esta entrevista na íntegra na edição 1185 da revista CARAS.
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