Tudo em Alexandria Ocasio-Cortez é uma afirmação de identidade, até as argolas douradas nas orelhas e os lábios vermelhos – uma atitude que reflete uma homenagem à primeira magistrada latino-americana dos Estados Unidos, Sonia Sottomayor, nomeada por Obama em 2009 e que, aconselhada a usar um verniz de cor neutra nas intervenções públicas para não ser criticada, decidiu manter o vermelho berrante. “Da próxima vez que disserem às miúdas do Bronx [bairro pobre de Nova Iorque] para tirarem as argolas, elas podem simplesmente dizer que se vestiram como uma congressista”, explica esta americana de origem porto-riquenha, de 29 anos, que alinha pelos democratas e é a mais jovem mulher a ser eleita para o Congresso norte-americano.
Alérgica a poderes instalados e à corrupção e defensora de ideais liberais, Alexandria tem dado trabalho a Trump e ao partido republicano. Oriunda da classe trabalhadora (é filha de uma empregada de limpeza e motorista de carrinhas escolares e teve de começar a trabalhar quando o pai morreu prematuramente), jovem, telegénica e com mais de dois milhões de seguidores no Twitter, tem tudo para conseguir popularidade. E irritar os adversários.
Tudo começou na primavera de 2017, quando trabalhava num bar de tacos e cocktails em Manhattan. “Enquanto atendia pedidos de brunch, sem ar condicionado, pessoas de grupos políticos andavam a telefonar-me”, contou recentemente numa entrevista. Formada em Economia e Relações Internacionais pela Universidade de Boston, trabalhou depois em algumas campanhas políticas, nomeadamente na do independente Bernie Sanders, candidato à presidência (que perdeu nas primárias), e conseguiu visibilidade ao dar voz a algumas causas sociais. Incentivada precisamente por ativistas com quem colaborou, decidiu concorrer contra o também democrata Joe Crowley a um lugar no Senado pelo Estado de Nova Iorque. As probabilidades de vitória pareciam fracas face a um veterano da política (sobretudo tendo em conta o orçamento de 200 mil dólares que conseguiu para a campanha, contra os três milhões de Sanders), mas achou que o seu contributo faria pelo menos agitar as águas e trazer novos temas para a discussão pública. Algo inesperadamente, esta jovem latina, que espalhou cartazes em inglês e espanhol e mostrou uma história de vida substancialmente diferente da do comum homem branco da classe média que faz a generalidade dos elementos do Congresso, derrotou Sanders.
Representante das zonas do Bronx e de Queens, não propriamente os bairros mais chiques de Nova Iorque, chamou algumas pessoas com quem tinha trabalhado na campanha para formar o seu gabinete e assumiu uma política mais à esquerda do que a tradição democrata, definindo-se como socialista. Contestou as propinas do ensino superior, apoiou um sistema de saúde mais igualitário e criticou fortemente a política anti-imigração, sendo porta-voz das dificuldades da população hispânica. Estava assumida a posição, uma certa rebeldia que cola bem com a imagem refrescante desta mulher que domina as redes sociais e aposta num guarda-roupa que rompe com o conservadorismo. A atenção mediática já está conseguida, resta ver se conseguirá mesmo fazer a diferença na política.
Alexandria Ocasio-Cortez: a jovem latina que tem irritado o partido de Trump
Esta americana de origem porto- -riquenha é, aos 29 anos, a mais jovem mulher a ser eleita para o Congresso americano.