Os anos dedicados à advocacia foram, diz Virgínia d’Almeida Gerardo, desgastantes. Os momentos de tensão e preocupação eram equilibrados com as aulas de tango, dança pela qual se apaixonou há muitos anos e que acabaria por se tornar até uma forma de vida. Hoje, aos 67 anos, a advogada, que entretanto se retirou da vida profissional ativa, admite ter-se deixado conquistar pelo ritmo mais alegre de outras danças sociais, como a salsa, sem, no entanto, ter abandonado o seu primeiro grande amor, o tango, onde gosta de ser conduzida por Flávio Carmelo, o engenheiro eletrotécnico que conquistou o seu coração há 13 anos.
Estas e outras paixões deram o mote à conversa que decorreu no espaçoso apartamento, na zona do Restelo, que Virgínia adquiriu recentemente, deixando para trás uma moradia de 900 metros quadrados de área coberta e um enorme jardim. “A vida é feita de etapas. Embora eu adorasse aquela casa, foi para uma etapa da minha vida em que precisava de mais espaço. Como entretanto deixámos de trabalhar e ambos queríamos aproveitar o tempo livre para viajar, começámos a pensar que um apartamento era muito mais prático. Realmente há uma série de vantagens em morar numa moradia, mas também há desvantagens. Agora queremos um pouco mais de tranquilidade”, explica.
– Como é que se encaixa a vida que uma moradia pode conter num apartamento?
Virgínia d’Almeida Gerardo – É, de facto, muito complicado e trabalhoso. Comecei cinco meses antes a selecionar o que queria manter, mas tive de me desfazer de muita coisa.
– Foi um processo difícil ou, pelo contrário, ter menos coisas acabou por ser um alívio?
– Em alguns casos foi uma sensação de alívio. Eu tinha louças para servir 50 ou 60 pessoas, já não se justificava nesta casa… Por isso mandei algumas peças para leilões, outras dei a amigos e muitas dei a uma associação de reinserção social.
– E assim começa uma nova etapa?
– Tudo o que aqui está tem a sua história, sentimos que não houve um corte profundo. É uma continuação da vida, mas com outra tranquilidade. Só sinto falta do chilrear dos melros pela manhã e dos cães que fui acolhendo.
– Algumas dessas peças com história foram adquiridas em viagens que agora consegue fazer com maior frequência?
– Ou durante mais tempo. A última que fizemos durou quase um mês. Passámos por Singapura, Dubai, Austrália e Nova Zelândia.
Virgínia d’Almeida Gerardo: “Só a dançar tango é que deixo que mandem em mim”
A advogada, de 67 anos, trocou a moradia onde vivia por este apartamento, na zona do Restelo, para poder viajar sem grandes preocupações.