Há 15 anos que Leonor Seixas, de 38, dá tudo de si à arte que escolheu como vida. É no palco que se sente inteira e é como atriz que se reconhece. Mas a sua essência vai muito mais além. Ávida por agarrar o mundo, Leonor vive em constante viagem e já não se imagina de outra forma. Até porque no seu coração cabe o nosso país, que é a sua casa, mas também Los Angeles, onde passa grandes temporadas a trabalhar. Por enquanto, e até 31 de maio, a principal morada da atriz será o Teatro da Luz, em Lisboa, onde é uma das protagonistas de A Última Ceia, uma produção da Companhia da Esquina, com encenação de Jorge Gomes Ribeiro. Foi precisamente esse o palco para esta entrevista, em que Leonor falou de si de forma livre, sem, no entanto, confirmar ou desmentir as notícias que no verão do ano passado a davam como separada do marido, o assistente de realização Pedro Brandão.
– Tendo em conta uma frase de Heath Ledger que partilhou no Instagram, na qual ele dizia que toda a gente pergunta o que se anda a fazer, como está o trabalho, se já se casou, como se a vida fosse uma lista de supermercado, mas que ninguém pergunta se se é feliz, começo esta entrevista por lhe perguntar isso mesmo: é feliz?
Leonor Seixas – Sou uma pessoa naturalmente feliz, mas estou numa fase muito feliz. Os anos vão passando e nós vamos evoluindo, crescendo, e a vida vai ficando melhor. Vamos tendo mais defesas e a capacidade para ser feliz é maior. Talvez porque as exigências são menores. Continuo a ter imensos objetivos e a desejar imensa coisa, mas estou a conseguir viver o presente. E quando conseguimos realmente viver o presente, não estamos agarrados ao passado e tudo o que vem é bom. Quando se consegue isto, alcançamos uma plenitude de felicidade. E quando vierem coisas menos boas, vou tentar navegar nesses mares da maneira mais positiva que possa.
– A felicidade não é, de facto, um dado adquirido…
– Pois não. Às vezes sinto que a vida é um mar: estamos no meio do oceano e umas vezes as águas estão calmas, outras vezes estamos no meio de uma tempestade, e temos de ir navegando. Temos a opção de nos deixarmos afundar, mas em princípio não é a que queremos, porque temos instinto de sobrevivência, mesmo sem a certeza do que vem aí. Navegar numa tempestade é doloroso, por dentro e por fora, mas é necessário. E depois acalma. O bom vai e vem e o mau vai e vem. E perceber isto é fixe. Uma coisa que me tem ajudado muito é não ignorar o que estou a sentir, sobretudo quando acontece algo de menos bom. Aceito o que estou a sentir mas não alimento isso.
– O que é que mais a assusta na vida?
– Sofrer. A morte não me assusta, mas o sofrimento sim. E pode ter várias faces: pode ser a falta de dinheiro, a falta de amor, a falta de coragem…
– Ser atriz e dar vida a tantas personagens ajuda a saber lidar com essas situações e sentimentos?
– Ajuda. Acho que o trabalho de atriz tem um trabalho enorme de psicologia por detrás. Depois, depende de como cada ator aplica isso à profissão e à sua vida pessoal. Por isso é que gosto de fazer personagens que não têm a ver comigo, para poder vivenciar coisas que, se calhar, nunca irei dizer ou fazer. Por exemplo, nesta peça que estou a fazer mato pessoas, e estou a adorar! [Risos.] Trabalhamos muito com a mente humana, com a criação de uma pessoa, e a minha técnica passa muito por aí, por perceber porque é que a minha personagem diz aquilo, por acreditar no que estou a fazer, porque tenho que ser essa pessoa. Mas depois tem sempre lá a Leonor.
– E como está a ser este regresso ao palco?
– Estou muito contente. É um grupo maravilhoso, damo-nos muito bem. Este projeto, em si, está a ser muito especial e um bocadinho cansativo, mas adoro fazer teatro e a peça em si é espetacular.