No momento em que Portugal e Brasil se despedem de Roberto Leal, que morreu este domingo, 15 de setembro, aos 68 anos, é recordada aquela que foi a sua última entrevista.
Concedida à apresentadora Veruska Boechat no programa Aqui na Band. Ao longo da conversa, o cantor recorda as dificuldades dos pais ao emigrarem para o Brasil na companhia de 10 filhos menores, na década de 1960, onde viria a desenvolver uma carreira como músico.
Desde tenra idade que a música e a possibilidade de subir ao palco – muitas vezes na sua imaginação de criança – o entusiasmaram para uma carreira artística. Nascido em Vale da Porta, Macedo de Cavaleiros, foi na vida campestre que este sonho ganhou forças, tornando-se aquilo que apelidou de “a viagem da sua vida”.
De nome próprio António Joaquim Fernandes, assumiu artísticamente o nome de Roberto Leal por sugestão do seu professor de canto: Leal porque era cumpridor das suas obrigações e horários e Roberto porque seria o Roberto Carlos dos portugueses pelo sucesso que viria a ter. Sobre o país de origem, Portugal, diz ser esse o seu público mais desafiante. “Demorei 30 anos para conquistar Portugal.”
Durante anos, admite, julgou que o dinheiro poderia comprar tudo, e chegou a iludir-se com o sucesso, anos que qualifica como “terríveis”. “Achei que podíamos comprar a felicidade”, disse. As fases menos boas da sua carreira fizeram-no perceber que as dificuldades também faziam parte do caminho.
Passou dois episódios particularmente difíceis, que o fizeram despertar para o valor da vida: um jantar na casa da praia, durante o qual, pelas quatro horas da madrugada, os convidados decidiram todos toma banho de piscina, o que quase lhes terá roubado a vida, visto que já teriam consumido álcool em excesso. E um outro, num acidente de viação: “Eu estava sozinho com um camião atrás. O carro ficou destruido. Não entendo, até hoje, como é que sobrevivi”, recorda.
Nos últimos dois anos de vida lutou contra um cancro nos últimos dois anos extremamente agressivo que atingiu as pernas, a coluna e os olhos. Sobre o diagnóstico recorda o momento antes de entrar para o bloco operatório, no qual o seu carácter devoto se tornou mais evidente: “Deus, a partir deste momento eu entrego-me em Tuas mãos. Já não tenho mais forças.”
Dedicado à mulher, Márcia, com quem teve três filhos – Rodrigo, Manoela e Victor -, o seu desejo de viver manteve-se até ao fim, alimentado pelo amor da família: “Você está à beira de partir deste mundo e quer ficar mais um pouco. Para ver crescer as suas netas, para ver as vitórias dos seus filhos, deixar a sua companheira em paz, pedir perdão e desculpas pelos maus-tratos.”