A gargalhada de Helena Sacadura Cabral é um bálsamo para quem a ouve. Nela não há a mínima sombra das agruras da vida, não porque não as viveu, mas porque, como diz, não tem vocação para mártir. E nós agradecemos, porque a forma desempoeirada e audaz como enfrenta a vida é uma inspiração. E o seu caminho é prova disso. Um caminho de quase 85 anos, que serviu de base a esta conversa e que é preenchido, invariavelmente, pelos filhos, Miguel – que morreu há sete anos, de cancro – e Paulo Portas, pelo amor, pela fé, pela partilha e pela independência.
– O seu novo livro chama-se As Minhas Escolhas. Até que ponto é que essas escolhas influenciaram a mulher que é hoje?
Helena Saca-dura Cabral – É à base de boas e más escolhas que fazemos o nosso caminho. Até metade da minha vida vivi para o marido e para os filhos, para que eles se tornassem independentes. Portanto, acho que comecei a viver aos 50 anos, o que é uma boa idade.
– Começar a viver, para si, foi uma rutura dolorosa?
– Não. Há um período em que se vive para orientar os filhos e para lhes dar a capacidade de voarem por si próprios. E um dia esse voo acontece. Se a pessoa não está preparada, dá-se a síndrome do ninho vazio. Ora, eu fui previdente, porque aos 50 anos comecei uma segunda carreira, decidi fazer o que gosto.
– Essa força vem do amparo que a sua mãe sempre lhe deu?
– A minha mãe era uma mulher forte e antes do seu tempo. Aquilo que não pôde fazer teve tendência a projetar em mim. Nunca aceitei bem isso, fiz o que quis, mas tive sempre nela a melhor das amigas. Sempre me disse para não depender de um marido. E tinha muita razão. Felizmente, quando me divorciei não precisava de um homem para me sustentar. Poderia precisar do ponto de vista do afeto, da ternura… Se voltasse atrás, fazia tudo igual, incluindo os disparates. E confesso que gosto muito de mim, portanto não mudaria nada. Gosto da mulher em que me tornei.
– Quais são os seus pontos de luz?
– Os meus filhos, que foi o que fiz de melhor na minha vida, e a minha independência. Digo o que penso. Quando tive os filhos, na política tinha de medir bem as palavras, mas nunca deixei de dizer o que pensava. E hoje estou perfeitamente à vontade. A única coisa que me podem tirar é a reforma, mas a massa cinzenta não ma tiram. E como vivo basicamente do que escrevo…
Helena Sacadura Cabral assume: “Gosto muito de mim”
No ano em que deu por terminado o luto pelo filho Miguel, a escritora lançou o livro “As Minhas Escolhas” e falou com a CARAS sobre a vida e a mulher que é.
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