Quando pensamos em Helena Isabel, pensamos automaticamente em beleza e elegância. É inevitável, até porque a atriz, de 67 anos, continua a ser um ícone a este nível. Contudo, Helena Isabel não se esgota no parecer. Faz questão de ser. Ser por inteira, sempre, no seu caminho e na necessidade de inspirar outras mulheres a elevarem as suas vozes. Foi também por isso que criou um site com o seu nome, onde se dirige a todos, mas sobretudo às “mulheres maduras”, para as ajudar a redescobrirem-se, e escreveu o livro A Idade Não Me Define. Rosto irrefutável da ficção nacional, é mulher, mãe – Helena é mãe de Bernardo, mais conhecido por Agir –, atriz, pintora e mais um sem-número de coisas que a tornam feliz, preenchida e realizada.
– Quando surgem novos projetos, por vezes tem de mudar a sua aparência, como aconteceu com este corte de cabelo. Ao fim de tantos anos de carreira, já se habituou a estas mudanças?
Helena Isabel – Já. Este corte foi feito inicialmente para uma personagem e, embora na série Amar depois de Amar tenha ficado muito diferente, foi feito também para se adequar ao meu lado pessoal. Tenho de ter cuidados redobrados com o meu cabelo, por isso aconselho-me sempre com o meu cabeleireiro. Até porque o meu cabelo sofre muitas agressões e tem de estar muito bem tratado para se manter saudável. Recentemente fiz a campanha da Kérastase e os produtos deles salvam-me o cabelo.
– O mote dessa campanha – “Dare to be young” – assenta-lhe como uma luva, já que aos 67 anos mantém uma juventude e um frescor inegáveis…
– Costuma dizer-se que a idade está na cabeça, mas acho que está mais na forma como encaramos a vida. O principal é não pensar muito nela… Eu não penso na idade que tenho ou só penso às vezes, talvez nos dias piores. [Risos.] Mas continuo a fazer tudo o que fazia, portanto, até ver, não sinto muito os anos a passarem.
– Mas o peso que a sociedade atribui à idade ainda é muito grande.
– Acho que as mentalidades estão a mudar, mas muito devagar. Vivemos numa sociedade que sempre privilegiou a juventude, mas as mulheres mais maduras têm, hoje em dia, uma forma de estar muito diferente da que tinham há uns anos. Temos tendência a afirmarmo-nos, a defender as nossas ideias, a participar na sociedade… E tento motivar as mulheres através do livro que escrevi e da minha página a seguir este caminho. Sempre tive muitos interesses na vida. Todos, de forma geral, ligados às artes. Mas também sempre fui de causas, e, neste caso concreto, comecei a sentir, à medida que ia envelhecendo, que as mulheres a partir de certa idade começam a ficar ‘transparentes’ e quis lutar contra isso. E tentar influenciar outras mulheres para que tenham uma voz ativa e não se deixem apagar só porque são mais velhas.
– Até porque a força feminina é transformadora e torna-se mais sábia com a idade…
– Exatamente. Sinto-me mais liberta hoje do que quando era mais nova. Claro que a idade traz coisas más, mas temos de olhar para o que temos de bom.
– O segredo está em “nascer todos os dias”, como escreveu Miguel Torga?
– Nem mais. Esse é o final do meu livro e é um poema de que gosto muito precisamente porque exemplifica tudo aquilo que penso, que é viver cada dia como se fosse o primeiro e o último. E tenho tido uma vida muito preenchida.
– Para se estar de bem com a vida não se pode acumular mágoas nem rancores?
– Exato. Acho que são as mágoas e os ressentimentos que nos envelhecem. E temos de olhar em frente, não podemos estar presos ao que passou. Claro que às vezes as coisas são tão negativas que não têm lado positivo, mas ao longo da vida tenho tentado reagir, seguir em frente e não alimentar mágoas.
– Foi uma aprendizagem?
– Faz parte do caminho. Repare, os disparates que fiz lá atrás, ainda bem que os fiz, porque fizeram parte e se assim não fosse também não tinha tido graça nenhuma. Costumo dizer que gostava de ter outra vez 20 anos e não saber o que sei hoje, porque senão não me divertia tanto.
– E tem lidado bem com as dores de crescimento?
– Tem alturas. Custou-me mais fazer 50 anos do que 60. Agora, os 50 são os novos 40. Na altura não, eram mesmo 50. [Risos.] Senti que estava a dizer adeus à minha juventude, foi quase um fantasma que depois de ultrapassado não me custou nada. Porque afinal a vida começa aos 50. Estava com temores que não faziam sentido.
– Até porque, tal como escreveu no seu site, não há prazo de validade para sermos felizes…
– Claro que não. A minha felicidade de agora não é igual à de quando tinha 20 anos. O que me fazia feliz na altura não foi o que me fez feliz aos 40, nem é o que me faz feliz agora.
– Hoje em dia essa felicidade passa pelo quê?
– Antes de mais, passa por fazer aquilo que quero, gosto e me apetece. Há uma espécie de liberdade que se alcança quando se chega a esta idade. Passa pelo meu filho e pela felicidade dele; passa por ter saúde e trabalho.
– Não referiu o amor. Ter alguém na sua vida não é uma condição para essa felicidade?
– Não. Se tiver alguém, melhor, mas não sinto essa necessidade. Estou sozinha neste momento e estou bem.
– Mas hoje vive o amor de forma diferente?
– Completamente. Quer dizer, não assim tão completamente. Ainda tenho necessidade de me apaixonar, só que não me apaixono com a facilidade dos 20 anos.
– Porque é mais exigente?
– Acho que não é uma exigência, é porque já conheci tantas pessoas, tanto mundo, que as coisas já não têm a novidade que tinham. Portanto, já é mais difícil encantar-me com alguém. Mas não deixa de existir esse encantamento.
– É fundamental sabermos estar só connosco próprios, e a Helena parece estar em paz nesse aspeto…
– Estou mesmo. Gosto de estar sozinha, sou muito independente e tenho as minhas rotinas, os meus hábitos. Tenho sempre muitas coisas para fazer, pinto, tenho um ateliê, uma coisa que adoro. Tenho muitos interesses na vida e não me sinto só. Por isso, um amor tem de ser especial, não pode ser só porque sim.
– Como é que se lida com a realização de que a vida começa a ter mais passado do que futuro?
– Já atingi esse ponto há muito tempo. [Risos.] Portanto, já me habituei a ele. Claro que há dias piores do que outros, em que penso que gostava de ter mais tempo, porque realmente o futuro vai sendo cada vez mais curto, mas são raros.
– É de amor que se faz a sua vida?
– De amor e de paixão. Tenho de ter paixão no que faço, senão as coisas tornam-se entediantes. Não sou uma pessoa morna, preciso dessa paixão. No dia em que deixar de fazer as coisas por paixão, começo a envelhecer.
CARAS EDIÇÃO 1273