De cabelos brancos assumidíssimos, Marco Paulo, de 75 anos, recebe-nos em sua casa com um sorriso, feliz por nos poder dizer que acabou os tratamentos que estava a fazer para combater o cancro da mama e que só em janeiro terá de voltar ao hospital para manter a vigilância. Está tão contente que o conseguimos “arrancar” de casa, deixar o canto da sua sala de estar, onde se rodeia de discos e prémios, e dar um passeio pela sua quinta, onde não faltam árvores de fruto, patos, gansos, cisnes e cães de guarda.
Seguidos de perto pela cadela Zuka, um buldogue francês de seis anos, fomos conversando e o cantor, considerado o rei da música romântica portuguesa, confessa-nos, mais uma vez, que tem medo da morte e que sempre que se depara com um problema de saúde mais relevante − e já soma quatro sustos, começando pelo cancro do cólon em 1996, a massa no rim direito que o obrigou a uma intervenção cirúrgica em 2017, o princípio de AVC que sofreu no palco do Coliseu do Porto cerca de um ano depois e agora o cancro de novo − agarra-se à fé e ao otimismo para vencer essa batalha. E sublinha-nos que, embora o cancro da mama seja mais comum nas mulheres, também pode afetar os homens, a quem aconselha atenção e a “fazer palpação, sem vergonha.” Com humildade, fala dos cerca de cinco milhões e meio de discos vendidos em 54 anos de uma carreira preenchida e revela-nos que confinar não tem sido um problema para ele, já que a casa é o seu porto seguro. Subir ao palco e estar próximo das suas fãs, a quem não se cansa de agradecer o carinho, é o que mais lhe faz falta.
Uma entrevista para ler na edição da CARAS n.º 1319.