Filha do historiador Nikolai Tolstoy, um conde russo cuja família se radicou em Inglaterra depois da Revolução de 1917 e é um dos grandes ativistas da causa monárquica russa, Alexandra Tolstoy tem uma vida que não só já deu direito a um documentário da BBC Two, A Condessa e o Bilionário Russo, emitido em abril deste ano, como poderia dar origem a vários filmes. E os mais recentes episódios da sua epopeia incluem a venda do seu guarda-roupa milionário e das valiosas joias que tinha, o leilão dos seus móveis antigos e o despejo da casa de 10 milhões de euros, onde vivia com os três filhos, num dos mais elegantes bairros de Londres, Chelsea.
Bonita, elegante e requintada, Alexandra, que se movia na alta sociedade britânica, tornou-se conhecida quando, aos 25 anos, largou o seu emprego como corretora no Crédit Suisse, em Londres, para iniciar uma vida de aventuras, que a levou, em 1999, a fazer, com três amigas, a Rota da Seda a cavalo, uma viagem de oito mil quilómetros pela Ásia Central e a China que demorou seis meses e durante a qual se apaixonou por um dos guias, o cavaleiro de competição uzebeque Shamil Galimzyanov. Casaram-se em 2003 e instalaram-se num pequeno apartamento em Moscovo, onde a jovem começou a dar aulas de inglês a destacadas figuras políticas. Entre as quais Sergei Pugachev, um senador próximo de Putin conhecido como “o banqueiro do Kremlin”.
Decorria 2009, e a inglesa depressa iniciou uma relação com o bilionário russo, também casado e 12 anos mais velho, ficando grávida do primeiro filho, Alexei, o que conduziria a um longo divórcio litigioso de Galimzyanov. Com um património avaliado então em 1,5 biliões de euros, Pugachev, que no seu país era dono da maior mina de carvão do mundo, de importantes estaleiros navais e de um banco privado, detinha também negócios em vários países, nomeadamente no imobiliário, e até uma firma de design de iates, interiores e mobiliário que comprou a lord Linley, sobrinho da rainha Isabel II.
Nos anos seguintes, Alexandra teve uma existência de verdadeira princesa, que decorria entre três iates, avaliados em 55 milhões de dólares, dois jatos privados, uma casa à beira-mar em St. Barts, nas Caraíbas, uma mansão na Rússia, um castelo em França, um apartamento no Mónaco, uma extensa propriedade rural em Inglaterra e a já referida casa de Chelsea. O casal teria ainda mais dois filhos, Ivan, em 2010, e Maria, em 2013.
Tudo correu bem até 2014, ano em que Pugachev caiu em desgraça junto de Putin, sendo acusado de, através do seu banco, desviar dinheiro do Estado russo, que conseguiu que os seus bens em Inglaterra fossem congelados por um tribunal londrino. Depois disso, recebeu várias ameaças de morte e foi vítima de alguns atentados. Para evitar ser extraditado para o seu país natal, em 2015 exilou-se no castelo de França. Alexandra e os filhos juntaram-se a ele em 2017, mas, infeliz com esse exílio, que no documentário da BBC descreveu como “demasiado claustrofóbico e isolado”, decidiu regressar a Inglaterra. Nessa altura, contou ainda à BBC, Sergei agrediu-a fisicamente, encerrou os filhos num quarto e fechou os passaportes num cofre.
A condessa acabaria por conseguir fugir com as crianças, mas desde então o pai dos filhos, que se lamenta de já só ter 60 milhões de euros, nunca lhe deu um cêntimo. Para sobreviver, Alexandra tornou-se guia de viagens de longa distância a cavalo na Ásia, mas, como a casa de Chelsea era de Sergei, os credores deste conseguiram que fosse despejada.
A condessa vendeu tudo o que tinha e instalou-se com os filhos num pequeno cottage que tinha em Oxfordshire. E, demonstrando um enorme desapego, diz que não lamenta nada do que perdeu: “Hoje em dia odeio todas essas coisas. Estão associadas a uma vida de que não gostava.”