
Na semana em que começou o novo confinamento, Ana Guiomar preparava-se para estrear a peça Perfeitos Desconhecidos. Contudo, as medidas impostas pelo Governo obrigaram-na a adiar este projeto.
“É muito difícil. Aliás, acho que é difícil para qualquer setor que, pela segunda vez, tenha sido obrigado a parar. Estávamos a ensaiar há um mês e meio, com a peça pronta a estrear, e sentimos uma tristeza enorme. De qualquer forma, tenho a certeza de que iremos estrear quando for possível, só isso já ajuda, é um sinal de luz. Infelizmente, não é assim com todos, há muitos espetáculos que vão mesmo ser adiados para outros anos ou que vão acabar por não acontecer. Há quem não tenha espaço para apresentar o seu trabalho e esteja dependente da agenda ou boa vontade dos sítios, assim como é muito difícil cumprir e cobrir todas as despesas associadas. Trabalho de atores, técnicos, aluguer de salas, cenários, guarda-roupa, adereços, direitos de autor… Todos estes setores têm custos e geram postos de trabalho, portanto é muito difícil conseguir cumprir todas as responsabilidades sem qualquer tipo de ajuda caso o espetáculo não aconteça”, começa por partilhar a atriz, que considera que a cultura continua a ser vista como algo de menor importância no nosso país.
“A cultura em Portugal sempre esteve um pouco ligada às máquinas, ou melhor, a soro. Os apoios são poucos e com verbas pequenas, mas mesmo assim as coisas têm sido feitas. Felizmente, os artistas são teimosos e sabem que vale a pena lutar e continuar. A cultura nunca é um assunto de primeiro plano para os Governos. Mesmo depois de uma pandemia e das quarentenas, onde a cultura foi fundamental para manter as pessoas despertas e até com a saúde mental melhorada. É preciso cultura, é urgente cuidar da cultura. Ela está nas mais pequenas coisas, sem ela não é possível evoluir, respirar, avançar, aprender”, sublinha.
E as medidas tomadas nem sempre parecem adequadas, defende: “Se formos avaliar ao pormenor e compararmos com as lotações dos aviões, dos centros comerciais ou até mesmo das missas, de que tanto se fala, o fecho das salas de espetáculo é injusto. O problema é que o nosso trabalho é encarado como sinal de lazer, de entretenimento, e, numa altura de confinamento, convidar as pessoas a sair de casa a título de lazer pode ser complicado para a cabeça de quem toma decisões. O que eu gostava mesmo era que as respostas não tardassem a chegar, porque os artistas merecem. Têm trabalhado e feito muito por este país. Descontam como toda a gente, trabalham, portanto têm de ter direitos. Também gostava muito que depois disto as companhias que têm espaços a seu cargo ajudassem quem não os tem. Há muita gente com trabalhos maravilhosos e sem espaço para os apresentar.”